Capítulo Único

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Ela se sentia feia, esquisita e desengonçada e algumas coisas mais, mas não sei dizer exatamente o que, pois ela não me disse. Ela pensou várias vezes que sua vida foi um acidente. "Não sei para que existo, não sirvo para nada". Em casa, não encontrava auxílio, seus pais quase sempre estavam na rua. Na escola, era pior ainda, seus colegas não gostavam muito de ficar perto dela, e quando ficavam, era apenas por obrigação. Quando o professor mandava fazer algum trabalho em grupo ou dupla. Todo dia saía por sair, vivia por viver. Então, a única conclusão, pensava ela "preciso acabar com minha vida". Era o que dizia. "Ninguém gosta de mim". Essas frases eram seus lemas de vida. 

Era uma segunda-feira normal, se é que segundas são dias normais, geralmente é o dia nacional da reclamação (você gosta de segundas? Comenta aqui pra gente saber). Bom, para ela, era o dia do fim. Pelo menos foi assim que escreveu em seu diário. Sim, ela tinha um (não sei se diário é comum hoje em dia, mas como ela era nada comum, escrevia no seu). Era a única forma de refúgio, escrever o que sentia e o que não sentia, era um pequeno escape para a vida sufocante que vivia. Não sei se podemos chamar isso de viver. Saiu de casa acompanhada por seus maiores amigos, a solidão e o desânimo, faziam tudo junto e o que mais gostavam de fazer era nada. Mas naquele dia, tinham um grande plano em mente, acabar com tudo. Foi para aula, recebeu as mesmas risadas e ofensas de antes, o mesmo desprezo por aqueles que se achavam os melhores, os mesmos esbarrões "sem querer". A aula acabou, pegou o que sobrou do seu material escolar, pôs na mochila e seguiu caminho para o lugar que seria a marca do fim do seu caminho. "Tudo acabará aqui". Era uma cachoeira abandona no alto de uma montanha, no verão era bem frequentada, mas naquela época do ano era bem vazio, ou seja, de acordo com ela, o lugar perfeito para acabar com tudo. Desânimo virou para ela e disse:

_ É o fim mesmo?

_ Sim! - disse Solidão, determinada. – ela não precisa mais de ninguém.

_ É porque isso dá muito trabalho. – completou Desânimo.

_ Chega vocês dois! – gritou a pobre menina.

_ Está falando com quem? – se aproximou uma senhora que estava sentada numa pedra.

_ Com ninguém. – bem sem graça a menina respondeu.

_ Entendo, converso muito sozinha também, meus filhos e netos não gostam muito de mim, então sempre saio para caminhar e paro aqui para pensar na vida. A vida é tão bela, não é mesmo?

_ Não sei o que tem de belo na vida, mas...

_ Como não, por exemplo, essa cachoeira, o céu, seus olhos, à propósito, parabéns pelos seus olhos, eles são incríveis.

_ Com todo respeito, mas a senhora já deve estar com problema de vista...

_ Não tenho. Tenho dores no corpo, e tudo mais que acompanha os idosos como eu, mas minha vista está perfeita. Gosto de contemplar o que é belo. E acredite em mim, em 78 anos, são olhos mais bonitos que já vi.

A nossa heroína fez algo que já nem lembrava da última vez, ela sorriu. E esse sorriso foi suficiente para que solidão e desânimo fossem embora. Ficou tão feliz com o elogio e a forma com que foi tratada pela senhora que nem lembrava mais o que tinha ido fazer naquele lugar. A partir daquele dia, ela resolveu viver e contemplar o que a vida tinha de belo. Tudo começou com uma conversa, um elogio e um sorriso. Seu novo amigo era o sorriso. Percebeu que nos olhos das pessoas erradas sempre seremos errados, feios e esquisitos, mas nos olhos das pessoas que sabem contemplar a beleza, seremos belos. 

Por

Nicolas C. Sales 

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⏰ Última atualização: Aug 21, 2019 ⏰

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Um elogio salvou a vida dela - por Nicolas C. SalesOnde histórias criam vida. Descubra agora