Abril
A vista de meu apartamento sempre fora algo verdadeiramente encantador. A janela saliente com a madeira desgastada pelo tempo, repleta de histórias e sentimentos guardadas como um segredo, apenas deixa tudo mais reconfortante e belo.
Procurando abrigo em meio a nicotina e ao líquido amargo que a caneca alaranjada carregava, a sensação de flutuar em meio a uma nuvem tempestuosa estava presa em cada um de meus poros e a janela servia como um curativo para os fragmentos de meu coração.
As luzes ambiciosas e rebeldes dos altos prédios de Seul entravam em conflito com o brilho natural do céu estrelado um pouco acima, céu esse que me lembra de ti. Tenho certeza de que cada atómo teu é composto por diferentes constelações.
Essa bela disputa, que ocorria em todas as noites de Seul, rasgava a melancólica escuridão que me envolvia lentamente e trazia consigo uma bagagem repleta de memórias fragmentadas e resquícios de felicidade desbotados. Como a lembrança de teu leve aroma adocicado, que me remetia ao ar da primavera que tu tanto amava. Ou como a lembrança daquele teu moletom amarelado que carregava um vasto universo de tralhas antigas perdidas no bolso, tenho certeza de que ali há pedaços pequenos de tua bela história. Talvez, a mais dolorosa lembrança seja a sombra de teu sorriso, que carregava em si milhares de galáxias perdidas e que faz qualquer pessoa queira se aventurar entre elas.
Me pergunto em que momento tua imagem perdeu a cor dentro de mim.
Com um pouco de esforço, lembro-me da primeira vez que me perdi em meio a tuas constelações privadas, tuas sardas. Enquanto a tempestade lá fora assustava os moradores de Seul, em meio aos teus braços e na meia luz de meu apartamento, desenhei tuas linhas e notei que carregava milhares de constelações tatuadas em teu corpo. Principalmente em teu rosto. Ou de quando me perdi em meio a uma paleta cor de rosa com tua voz melodiosa enquanto nos divertiamos em um karaokê meia boca.
Lembro-me também do dia em que percebi tua falta em minha vida, enquanto buscava novamente abrigo e quentura naquele líquido amargo e observava o cenário cinza e depressivo que tomou de conta da cidade.
A quentura do café nunca irá esquentar meu corpo da mesma maneira que tu faz. Ao teu lado, meu corpo entra em combustão, pois teu corpo queima a 461°C.
Também me lembro de cada um de seus traços, lembro de teus cabelos platinados que caiam suavemente sobre teu rosto e contrastavam diante de suas bochechas rechonchudas que, perto de mim, ficavam avermelhadas, seu labios cheios curvados em um sorriso pequeno e seus olhos transbordando de algum sentimento escondido.
Jimin se tornou a minha hora favorita do dia, o momento em que o céu de Seul se tornava uma bela obra de arte, com um degradê de cores destacando as constelações que imita as pintas de tua pele começando a aparecer, e entre elas a minha favorita, brilhando mais do que todas as outras e nos permitindo vê-la a qualquer hora do dia. Ou até mesmo o momento em que a lua começa a se despedir, deixando nosso céu com uma paleta oscilando do quente para o frio, Vênus se destaca em meio a esta bela pintura.
E Park Jimin carrega Vênus dentro de si, desde suas pequenas constelações em variados tons de marrom em sua bochecha até a quentura que emana através de seus curtos e aconchegantes braços.
Teu toque sempre foi acolhedor, e me recordo exatamente do momento em que me permiti a admitir tal sensação. Foi naquele dia em que minha tristeza transbordou a tal ponto de refletir no céu nublado de Seul. Meu choro desesperado piorava a cada segundo juntamente ao medo de perder você também, com medo de que você tenha se assustado ao ver todas as cicatrizes que carrego pelo meu passado amargurado. Mas você simplesmente me acolheu em teus braços até minha tempestade se acalmar.
O vento gelado desta noite me abraça enquanto olho para essas centenas de pessoas na rua, que carregam um mundo de sentimentos em si, e lembro-me do brilho que tu carregava em teu peito. Pergunto-me neste momento se era você que deixava minhas cenas noturnas mais belas e brilhantes. Aquele calor que emanava de ti e que lentamente me envolvia naqueles momentos sussurados de carinho, enquanto o mundo a fora era pintado da paleta fria do inverno e iluminado com o brilho das estrelas e com o brilho que cada um carregava em si.
Hoje faz, exatamente, um ano desde que nos conhecemos. Faz um ano desde que você entrou em minha vida com uma mala repleta de novas experiências, repleta de cores e sabores. Faz um ano desde que tu trouxe contigo o meu amanhecer, e faz uma semana que partiu levando tudo consigo.
Seu rosto sempre se faz presente em minha mente como uma pintura, representando meus maiores desejos mas depois meus maiores pesadelos. Eu não consigo escapar dele, seu cheiro e até mesmo a textura de sua pele ainda estão gravados em mim, e eu sei que no fundo, eu não quero deixa-lo ir.
Abrir os olhos nunca fora uma tarefa tão difícil quanto vem sido nas últimas semanas. Essa coreografia mal feita faz meu coração implorar para que eu pare, que eu desista de vez e de um pouco de paz a ele. Minha vida havia se tornado um péssimo esboço de uma pintura que anteriormente estava perfeita, com milhares de cores e formas diferentes.
Tudo havia desmoronado pois eu não tive coragem o suficiente para enfrentar meus demônios e acabei criando novos, como a lembrança de teus planetas amêndoados repleto de lágrimas por minha culpa, ou teus lábios avermelhados tremendo pela tristeza que queria transbordar de ti.
Se eu te jurar, você volta a me abraçar? Se eu te jurar, você volta com as minhas cores? Se eu te jurar, você volta com tuas constelações? Se eu te jurar, você volta com teu calor?
Então, Park Jimin, eu te juro a Vênus, apenas para você voltar.
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Te Juro a Vênus · Park Jimin
Fanfiction"Enquanto a tempestade lá fora assustava os moradores de Seul, em meio aos teus braços e na meia luz de meu apartamento, desenhei tuas linhas e notei que carregava milhares de constelações tatuadas em teu corpo. Principalmente em teu rosto. Ou de qu...