𝕊𝔸𝕋𝕌ℝℕ𝕆

𝕾𝖔𝖇𝖗𝖊 𝖔 𝕾𝖆𝖙𝖚𝖗𝖓𝖔, 𝖆 𝕿𝖊𝖗𝖗𝖆 𝖊 𝖆 𝕸𝖆𝖗𝖎𝖓𝖍𝖆

Saturno. O gigante gasoso mais misterioso do Sistema Solar, cuja voz escondida ecoa como um grito desafiador, instigando a curiosidade dos homens, vivendo na sombra de Júpiter. É o ano de 27XX, e a humanidade já alcançou os pontos mais distantes do universo conhecido, porém ainda estão presos ao seu sistema de origem. Em Saturno, há uma colônia científica, e nesse pequeno lugar localizado entre as luas do gigante é aonde vive uma das protagonista desta história: Erie Raikkonen, minha senhora. 

Antes que entre em pânico, caro leitor, quero deixar claro que saberá de tudo pelos olhos de um mero pássaro de rapina, cuja idade impediu de voar alto.

Sobre a Terra, posso afirmar que era mãe gentil, mas hoje é mãe dos tolos e abobados. Corruptos, dominadores, mandões, chame do quiser, tudo irá se resumir á uma podre escória que habita o antes belo planeta, drenando sem misericórdia o pouco de vida que lhe resta. Desta mãe desolada, há bons filhos, ovelhas negras da sociedade moderna, em meio á lobos disfarçados no rebanho. Estes filhos e filhas vão contra a maré da amargura, e voam longe, mas sempre retornam. A Terra pode ser apenas uma mera casca azulada flutuando no espaço, insignificante, mas ainda é o planeta-natal dos humanos, e lhes convém protegê-lo. Realmente vale á pena? Quando chegam de suas jornadas no mar escuro e sem gravidade, essas "crias" são recebidas com hostilidade e ríspida ordem de seus irmãos que ficaram. "É a Terra", dizem. Não é de se surpreender. Cansados de tudo, as crias debandaram para as estrelas, porém volta e meia tentam convencer os terráqueos que o abuso, seja da natureza ou do poder é algo errado, e ás vezes, acabam trocando disparos. Enquanto uma mini-guerra ocorre, Gaia, sem poder fazer nada, banhava-se nas lágrimas do sofrimento de suas crianças.

As crias que fugiram acabaram por originar uma organização militar livre conhecida como "A Marinha". Eu ouvira o pai de minha dona, o renomado astrônomo Alfred Raikkonen, falar do principal inimigo da Marinha, a Federação Terrestre, com um certo nojo na ponta da língua, e parte do que sei sobre a organização provinha deste breve surto de raiva.

- Aqueles cães sarnentos não ouvem a verdade! Eles matam inocentes só porque foram ordenados á matar! Arre, bem que eu queria ter ido com os meus amigos para a liberdade, mas esses IDIOTAS vivem me atormentando, me forçando á trabalhar incansavelmente para encontrar absolutamente NADA neste fim de mundo, sistema, universo... SEI LÁ!! - ele dizia, o rancor mal permitindo que pensasse racionalmente.

Minha dona interveio, comentando uma coisa ou outra sobre o passado.

-Papai, você gostava do seu antigo trabalho? - a menina perguntava, me pendurando em seu ombro.

- Foi bom enquanto durou. Quando eu pesquisava os astros por simplesmente achá-los bonitos.

- E os seus amigos, pai?

- São todos mais livres do que eu. Vivem por aí feito cometas, soltos, sem nenhum governo enchendo o raio da paciência. - ele faz uma pausa, e suspira. - Ai, quem dera se eu fosse jovem e pudesse entrar na Marinha....

A Frota Independente não era aliada, nem inimiga da Terra como planeta, tudo era uma questão de ponto de vista. Muitos de seus membros eram revolucionários ou pessoas normais, que apenas queriam se livrar da mesquice do governo ou caçar aventuras em qualquer outro lugar, conhecer outros mundos, e no meio deles, haviam uns poucos desertores das Forças de Defesa Terrestre, uns cães de guerra que só queriam viver em paz. Como o governo da Terra os via como um bando de piratas arruaceiros, deram aos separatistas o apelido de "Marinha", por ousarem se organizar como uma, além de usarem bandeiras no meio do vácuo espacial.

Ao contrário do senso comum, eram uma sociedade eremita, tendo cidades nômades, feitas de enormes naves interligadas por tubos. Haviam comerciantes, doutores, pessoas comuns e até mesmo reis. Dentre os chamados "Reis de Armas", que eram as maiores autoridades daquela Frota sem rumo, estavam os dois amigos do professor, Timo e Nigel. Timo era brasileiro, um desertor e famoso por sua força e coragem, já Nigel era inglês, também desertor, sendo o mais inteligente e habilidoso de todos os 4 Reis. 

Tendo deixado isso claro, permita-me, caro leitor, contar a história de Erie, e como ela foi parar na maior catástrofe que o ser humano já presenciou.