Gatos

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Capítulo 2 - Gatos

Quando Rogers começou a pensar em viver com Tony, jamais imaginou que seria tão difícil. Ele era uma pessoa noturna e acostumada a ficar sozinho com seu mau humor. Já gastava lábia demais tendo que fingir ser quem não era para pessoas desprezíveis na rua, em casa ele só queria o silêncio. E para sua infelicidade, silêncio era o que menos tinha desde que abrigou o gato. Ele não parava de fazer perguntas, parecia estar descobrindo um mundo novo fora da soberba capital.

— Que horas vai ficar de dia? - O menor perguntou emburrado.

— Já está de dia, Tony. - Steve respondeu, provavelmente pela milésima vez a mesma pergunta. Explicar para o mais novo porque estava escuro e chovendo há dois dias não foi fácil. Se fosse em outra ocasião, em condições diferentes, o lobo não veria problema algum em render-se as manhas do gato e ficar o dia inteiro respondendo suas dúvidas enquanto esse se pendurava em seu pescoço para ficar puxando suas orelhas, pois aparentemente, essa era a atividade anti-tédio favorita de Tony. Contudo, a situação era grave e Rogers estava a ponto de explodir. Não dormia direito e estava preocupado por não ter notícias de Bucky desde que ele deixou a casa, logo após trazer as compras. Ele levantou do sofá com seu celular a mão para verificar mais uma vez se o sinal estava funcionando, e não era essa a causa da falta de contato com o amigo. Começou a andar de um lado para o outro e deu ordem para que as persianas da casa se fechassem.

— Steve...

— O que é Tony? - Gritou irritado e se arrependeu imediatamente ao ver o bico de choro se formando no rosto do pequeno. Ele largou o aparelho e correu para perto dele — Ei, ei, me perdoa. Não chora, gatinho, por favor... - Limpou com cuidado as lágrimas que começaram a escorrer no rosto do alvo e se sentiu o maior imbecil do mundo, não podia descontar suas frustrações nele. Várias vezes ao dia, durante acontecimentos distintos, ele esquecia do que o outro era, ou pelo menos o que ele foi criado para ser. Um pet, obediente, carente de atenção, dependente de seu dono, inocente e mimado, feito unicamente para servir a caprichos e fetiches. Chegava a ser irônico o jeito que aqueles lobos monstruosos da capital eram obcecados por essas criaturas tão puras. Isso lhe dava repulsa, nunca enxergaria Tony somente daquela forma. Tony não era um acessório. Ele terminou de enxugar o rosto magoado do mais novo e se sentaram juntos no sofá. Rogers se perguntou se ele teria pais, porém logo descartou a hipótese ao se lembrar que o gato era fruto de uma experiência cruel feita em laboratório.

No dia em que finalmente a tempestade foi embora, Tony quis dormir até tarde. Steve até tentou ir lá e arrastar ele para fora da cama, no entanto, toda sua determinação foi por água abaixo quando viu um gatinho manhoso se enrolando no edredom e dizendo que queria dormir mais um tiquinho. Pouco mais de uma semana de convivência e o menor conseguiu desarmá-lo inteiramente apenas com um sorriso.

Tony passou a falar menos de seu antigo dono. No início ele perguntava bastante, tinha medo que ele fosse aparecer ali a qualquer momento e levá-lo de volta. Por várias vezes acordou assustado durante a noite depois de um pesadelo e foi procurar amparo nos braços do mais velho que sempre perdia o sono para velar o dele quando isso acontecia. Rogers saiu de seus devaneios a respeito do gato assim que viu a tela de seu telefone acender. Era uma mensagem de Bucky. Depois de ter lido, pegou suas chaves e saiu depressa ao encontro dele, deixando Tony dormindo e muito bem protegido pelo sistema de segurança de sua casa.

Quanto mais se aproximava do lugar onde encontraria Bucky, mais Steve tremia de raiva. No momento em que chegou, saiu de seu carro em direção ao galpão onde o outro estava. No portão da frente uma tela acendeu-se e uma voz masculina e robótica disse: "Quem está procurando?"

— Bucky, a porra de uma raposa. - Respondeu, com os dentes trincados de tanta raiva. Demorou alguns segundos antes que voltassem a se comunicar com ele.

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