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Inspira.

Solta.

Inspira.

Solta.

Manter a calma absolutamente nunca foi meu forte.Mas agora, agora parece que eu nunca experimentei o sentimento de calma em toda a minha vida.

Encher meus pulmões de ar nunca foi tão difícil. Fecho meus olhos e tento me concentrar apenas na minha respiração. Eu preciso focar em algo para que toda a cena ao meu redor simplesmente desapareça.

Eu não consigo. Não consigo passar  mais um minuto sequer nessa igreja. Eu só desejo que ao abrir meus olhos eu esteja em meu quarto, e que tudo isso, não passe de um pesadelo. Um maldito pesadelo.

Mas não é o feito. Eu ainda estou aqui. Sentada em um banco de madeira. Onde minha mãe chora descontroladamente. Onde há amigos e parentes completando todos os lugares de todos os bancos aqui.

Eu sinto que eu estou flutuando. É aquela sensação de está fora do próprio corpo. Eu não consigo associar nada com nada no momento.

Meu pai tenta consolar minha mãe que continua se desolvendo em lágrimas. Olho para a frente e encaro o caixão no altar da igreja. Como um vislumbre me lembro que o corpo de minha avó está lá.

Eu não consigo.

Eu não consigo.

Eu não consigo.

Essas palavras rodeiam minha mente inssensavelmente. Eu preciso sair daqui. Preciso respirar.

Me levanto do banco e saio da igreja. Escuto meu pai chamando por mim. Mas não tenho coragem de direcionar o meu olhar para ele.

Eu só vejo a porta, e é nessa direção que eu sigo. Assim que eu coloco os meus pés fora da igreja, eu volto a sentir o ar finalmente invadindo os meus pulmões. Como se eu tivesse passado horas sem respirar.

E nessa hora. Nessa maldita hora. Eu finalmente caio em mim. Eu finalmente consigo raciocinar que a minha avó morreu. Que eu não a verei mais. Que não sentirei seus braços me aconchegando quando chegar da escola. Que ela não vai mais perguntar como foi meu dia. Que não verei mais seu sorriso.

E é nessa hora que minha visão começa a ficar turva. Sinto alguém tocar meu ombro, mas não me viro pra ver quem é. Não me importa quem seja.

─vamos sentar naquele banco?─ olho em direção do garoto ao meu lado. O garoto que eu conheço muito bem. Que em qualquer outro momento isso me deixaria totalmente nervosa , mas agora, eu não sinto nada.

Eu apenas assinto. Estamos sentados lado a lado em silêncio. Mas não um silêncio desconfortável, bom, pelo menos não para mim.

─Eu sinto muito pela a sua avó ─e então, desde que ele se aproximou, eu o encaro.

─Eu também sinto─ são as únicas palavras que eu consigo dizer no momento. Nada mais nem nada menos.

─Você pode desabafar se quiser, contar tudo que está se passando dentro da sua cabeça─eu continuo o fitando, extremamente confusa.

Essa Garota Sempre Me PertenceuOnde histórias criam vida. Descubra agora