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─Por um beijo Seth? Você resolveu que não queria mais ser meu amigo por um beijo idiota roubado?

Eu realmente não acredito que tudo isso foi por pura futilidade. Seth me encara e é evidente o seu pavor

─É por isso que eu não queria contar. Foi uma besteira. Eu era novo e idiota.

─Você sabe quantas vezes eu chorei pensando que eu era a culpada por você me ignorar? Você sabe quantas vezes eu senti a sua falta? Ou melhor, você sabe o quanto você me machucou quando eu fui falar com você, e você me ignorou?

Minha voz sai embargada, um nó se forma na minha garganta. Eu estou muito irritada, e não consigo pensar direito agora.

─Eu sinto muito Kathy.

─Kathy somente para os amigos Johnson. E nós não somos amigos.

Minha voz sai em um tom ríspido e  frio, um tom que eu não uso com muita frequência. Ele me encara e é possível ver claramente sua chateação com minhas palavras, mas eu estou muito alterada para me importar.

Saio da casa da árvore e vou para o meu quarto. Fecho minha varanda e me jogo na cama. Eu sempre pensei que ele teria parado de falar comigo por alguma coisa sem importância. Mas eu nunca imaginei que foi por isso. Nunca cheguei nem perto de pensar sobre isso.

O olhar de Seth me persegue a noite inteira. Eu me mexo para um lado e para o outro e nada me faz encontrar uma posição confortável. Encaro a minha varanda e só consigo pensar nele.

E assim foi a minha longa e cansativa noite. Mesmo com as cortinas fechadas os raios de sol adentram o meu quarto. Levanto e vou ao banheiro me arrumar para mais um dia cansativo de aula. Meu cabelo cor de fogo está todo bagunçado, os cachos se desfizeram e as olheiras me acompanham, evidenciando minha noite mal dormida.

─Bom dia meu pequeno lírio ─Meu avô me cumprimenta com o apelido carinhoso que ele sempre me chama, desde pequena. Assim que me sento ao seu lado na mesa, ele dobra o jornal e me encara, devo está realmente mal, porque ele passa a me olhar preocupado─Não dormiu bem?

─Não muito vovô, mas estou bem─ bem não seria a melhor palavra, porém, confusa e irritada se encaixariam perfeitamente.

Eu não sei se eu deveria ir ao jogo amanhã, tenho certeza que eu não me sentiria bem com Seth lá. Não sei se eu me sentirei bem com Seth perto de mim por um bom tempo.

Após terminarmos de tomarmos o café da manhã, eu espero Jimmy vir me buscar. Sentada nos degraus da porta, eu analiso a rua, calma e sem ninguém. Uma brisa fresca que eu adoro sopra me causando um pequeno arrepio.

Hoje teria sido um ótimo dia, mas não vai ser. E vai ser bem difícil alguém mudar isso.

─Acorda Cinderela─Jimmy diz roubando minha atenção.

─É Aurora. O nome da bela adormecida é Aurora seu idiota.

Jimmy gargalha e nega com a cabeça. Seu carro tem cheiro de menta, que é facilmente confundido com o seu perfume masculino. Percebo o olhar de Jimmy sobre o mim, tentando achar alguma coisa.

─Está tudo bem?─ O encaro, sua atenção está na estrada. Engulo em seco, lembrando de tudo da noite passada.

─Não muito─ suspiro cansada─ podemos não falar disso agora? Prometo que conto o que aconteceu mais tarde no Donna's.

Depois de passar a noite pensando sobre isso, eu tive a impressão que Seth ficou com ciúmes por o Jone Walker ter me beijado. Mas isso não se encaixa em nada, não havia motivos para ficar assim.

Eu passei um bom tempo odiando o Jone por ter me roubado meu primeiro beijo, eu estava o guardando para o Seth, mesmo sabendo que nunca aconteceria.

─Tudo bem. ─Jimmy concorda e eu lhe agradeço mentalmente por isso.


Não demorou muito para que eu, Jimmy e Ellis chegássemos no colégio.
Os corredores estão bem movimentados, como sempre. Ellis e Jimmy foram para os seus armários.

Ao abrir meu armário pego meus fones de ouvido e vou para a quadra. A aula de educação física não é meu forte. Mas, por mais que eu não me dê bem em correr, as vezes, muito raramente, eu gosto de participar. Lamentavelmente hoje não é um desses dias.

Hoje eu apenas desejo colocar meus fones, ouvir minhas músicas e pensar. Irei dizer a professora Torres que eu estou com cólica. Ela sempre acredita, uma vez ,ela me pediu para ir a um ginecologista.

Ela alegava que passar o mês inteiro menstruada não era normal. Morrendo de vergonha eu peguei o número de seu ginecologista, pelo qual, ela insistiu que eu deveria entrar em contato.

Sentada na arquibancada vendo as meninas jogar e escutando The scientist, de coldplay, alguém se senta ao meu lado. Eu não preciso me virar para saber quem é, o cheiro do seu perfume evidência sua chegada.

Minha respiração está tensa e meu coração lateja pela sua presença. Todo o meu corpo paralisa quando eu sinto o seu toque em meu pescoço, afastando o meu cabelo e retirando o meu fone.

─Nós podemos conversar?─resolvo finamente lhe olhar. Ele esta com o cabelo meio bagunçado, o que o deixa ainda mais bonito, sua jaqueta com seu sobrenome bordado indica que ele faz parte do time de futebol.

─já conversamos Johnson.─ desvio meu olhar novamente para as meninas, noto que Ellis nos olha, mas logo volta sua atenção para o jogo.

Escuto Seth da um longo e frustrado suspiro e se retirar, coloco meus fones no lugar e tento normalizar minha respiração, o que chega a ser quase impossível. Como conseguir fazer isso quando ainda sinto minha pele formigando no local onde ele me tocou?

Talvez eu esteja pegando pesado com ele, mas eu tenho direito. Ele parou de falar comigo por um beijo roubado, roubado por sinal, pelo mesmo garoto, que no final do ano mudou de cidade. Ninguém nunca mais ouviu nem a menção do nome de Jone Walker.

Eu precisei muito de Seth nesses três anos. E o sentimento de culpa me perseguiu por todo esse tempo, eu não posso esquecer tudo o que senti. Na verdade, agora que eu sei de tudo, eu tenho a impressão que nossa amizade nunca importou para Seth, não como importava para mim.

A rua está deserta, a brisa de um vento frio sopra bagunçando meus cabelos, me despeço de Jimmy e entro em casa. As aulas nunca passaram tão divagar quanto hoje, o que só me deixou ainda mais cansada.

─Cheguei─jogo a bolsa no lado a porta e vou para a cozinha, mas não há ninguém.

─Oi meu amor─minha mãe aparece atrás de mim─ seu avô e seu pai estão no escritório.

Meu pai e meu avô trabalham no ramo de advocacia, devo enaltecer que eles são os melhores advogados dessa região.

Nunca vi alguém executar o ofício tão bem quanto. Não estou vangloriando eles por serem meus parentes. Mas sim, por serem realmente bons nisso.

Fico extremamente feliz em saber que eles voltaram a trabalhar. Meu avô resolveu se aposentar logo após que vovó morreu, mas, não muito tempo depois, ele disse que iria voltar, para passar o tempo em algo que ele gosta.
E o meu pai simplismente resolveu tirar férias, ele já estava planejando, e após a morte de vovó, foi o momento crucial para isso.

Almoçamos e conversamos sobre várias coisas, minha língua formiga para que eu lhe conte o que Seth me disse. Mas não o faço, talvez, mais tarde eu a chame para uma conversa enquanto tomamos chá. Seria ótimo desabafar com ela.

Essa Garota Sempre Me PertenceuOnde histórias criam vida. Descubra agora