Lembro de quando tinha 9 anos, de estar em meu quarto, na minha casa antiga, no sul dos Estados Unidos, quando escutei vários gritos. Desci os um lance de escada até chegar na sala de estar, e a única coisa que vejo é uma poça de sangue ao redor do carpete preto da minha mãe.
Nenhuma expressão facial pode ser encontrada em meu rosto. Fico paralisada. Nenhuma lágrima, nada, apenas a cena.
Meus pés estão indo pouco a pouco ao encontro do tapete. Faço de tudo para o sangue não chegar até meu tênis.
Inclino a cabeça e olho para baixo, olhos dele ainda estão abertos, os olhos do meu pai. Olho para cima e vejo minha mãe à minha frente, encarando-me com lágrimas imersas em seu globo ocular. Puxo os meus olhos mais para baixo, na região de suas mãos, e vejo uma faca ensanguentada. Provavelmente o sangue do papai.
Não consigo abrir a boca, palavras não vêm a mente, não há lágrimas. Só consigo visualizar ela com um olhar de interrogação. Por quê?
Olho para trás e vejo a Mary - minha irmãzinha - chorando no canto da escada. Viro-me em um giro de 180 graus e vou até ela. Pego-a nos meus braços e levo-a até seu quarto e peço para ela ficar lá, quietinha.
Desço novamente as escadas e vejo minha mãe chorando ao lado do corpo do meu pai. Me direciono ao telefone e disco o número de emergência.
Após 20 minutos de espera, escuto sirenes se aproximando.
Minha mãe, agora, está deitada sobre o corpo do papai.
A polícia abre a porta e se adentram na casa. Estão usando de ferramentas bélicas como se fossem a 3° guerra mundial.
Mamãe começa a chorar
desesperadamente.
Seu choro aciona em mim uma espécie de alarme. acordo do transe e vejo tudo com mais clareza.
PAPAI MORREU!
MEU PAI ESTÁ MORTO!
Minha mãe foi presa durante 11 anos por homicídio culposo ( quando não há intenção de matar ).
Eu e a Mary passamos esse período na casa da vovó Lucy que era, apenas, 45 km de distância do nosso antigo bairro.
Ela nos criou da melhor forma que pôde, até o dia de sua morte (infarto fulminante). Foi muito difícil para mim e muito mais para a Mary, que era quatro anos mais nova que eu. Ela não entendia o porquê de todos aqueles acontecimentos assim como eu.
Após onze anos, a mamãe saiu da cadeia, e, desde então, ela nunca mais tocou no assunto relacionado ao papai. Nos mudamos para cá, L.A., pra construir uma nova vida, se é que é possível.
Lembro também do papai me falar sobre o quanto ele amava a mamãe. Ele dizia que nunca tinha amado ninguém antes dela. Ela foi a exceção dele.
Por isso, não entendo, realmente não entendo, como tudo isso foi acontecer.
Tomei o discurso do meu pai como exemplo prático em minha vida. Jurei que só irei amar àquele que merecesse o meu amor. Não sei mais se seguirei essa jura. A vida é incerta demais. Aprendo isto da pior maneira.
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Combinei de encontrar com o David na capela da universidade às 17:00 horas. Ficamos de ver o sol se pôr.
Então, as 17:00 fui ao seu encontro, ele estava lá no meio daquela grama verdinha e dos pinheiros.
Ele estava mais lindo do que o habitual. Usava uma calça jeans clara, uma blusa de gola V branca e uma boina em meio ao seus cabelos.
Subi a escadaria enquanto via seus olhos seguirem os meus, fixamente.
Percebi que ele também estava mais feliz que o normal.
Me recebeu com um sorriso estampado no rosto. Me deu um beijo de tirar fôlego e se agachou em minha frente, segurando minha mãe direita.- Agatha Christie Bloomfield, você gostaria de me dar a honra de ter você como minha namorada?
Nesse momento pensei em tudo que um dia meu pai falou e percebi que o David poderia ser minha exceção.
- Sim, é tudo que eu mais quero. - respondo olhando no fundo de seus olhos, com um sorriso que não era suficiente para mostrar tanta alegria que eu estava sentindo.
- Você é minha única exceção.
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Agatha Christie
Mystery / ThrillerA cada página virada, uma canção. A cada momento, uma descoberta. A cada descoberta, mais um mistério. "Será que esse dilema terá um fim? Quem matou a minha mãe?" - A. PS.: entendam cada música apresentada nos capítulos como trilha sonora.