Eu sinceramente espero que nunca mais eu precise passar por isso de novo. Eu sei que isso parece conversa de adolescente mimado, filho de apartamento e alimentado de leite Ninho, mas eu não estou falando disso. Eu já ouvi que "vai piorar".
Sabe quando você se vê andando, no final da tarde, vai em direção a algum lugar, que você por um segundo tem certeza de que está fazendo o que seu cérebro pensou em fazer e, quando se percebe, está em outro cômodo olhando para o chão, com as duas mãos na cintura, e pensa "nossa, não era pra cá que eu tinha que ter vindo"? É disso que estou falando.
A sensação é de todos os dias saber pra onde tenho que ir, o que tenho que fazer -mesmo que não seja isso que todas as células do meu corpo querem que eu faça- e, na maioria das vezes, de fato fazer, mas nunca sentir que fiz.
É como uma amnésia por dia. E o pior vem agora: uma frustração por dia.
Se você for muito bem resolvido, seguir todos os conselhos do psicólogo -se você puder ir em algum- que já te consulta previamente há, pelo menos, uns dois anos e que tecnicamente já te preparou pra isso, quem sabe você só se sinta inferior a si mesmo. E por mais que você saiba que tudo isso são só os gatilhos que a sua própria mente inventou pra você, de alguma forma, seguir o que você de fato quer fazer, uma hora ou outra você entra na corrida.
É desesperador olhar pro lado e só ver os espelhos, e quem dera fosse de Narciso. Números, números e mais números. E o dia nunca chega, nunca dá pra arrancar o curativo de uma vez. É como se fosse o castigo do professor inteligente pro aluno inteligente: ficar na sala de aula sendo obrigado a assistir um monte de coisas que não interessam nem pra um nem pro outro, por incrível que pareça. Você é obrigado a lidar consigo mesmo, com seus próprios erros e acertos e erros e acertos e erros e erros e acertos.
Você é jovem demais pra saber o que quer, mas é jovem o suficiente pra suportar o não saber o que querer e mesmo assim correr. De quê? Pra quê? Por quê?
Tem uma ideia: ler um livro. Pega o livro. Lê um capítulo. Lê dois capítulos. Pensa: não estou sendo produtiva. Deveria estar me escravizando mais. Lê três capítulos. Desiste. Senta na mesa. Abre o caderno. Pensa: eu deveria estar fazendo algo produtivo. Pensa, pensa, pensa, pensa e pensa e não entende. Lê um livro e não entende. Tem uma ideia e não entende. O capítulo não entende.
Pensa, pensa, pensa e pensa e acerta a questão de uma conclusão que nem foi você que chegou. Só correu, mas não chegou. Não da pra chegar direito num lugar que você nem sabe se quer ir mesmo. Mas mesmo assim vai. Não tem outra escolha.
O que te falta para fazer o que todas as células do seu corpo querem que você faça?
Seja feliz, aproveita o caminho, só que mais ou menos.