Um dia eu fui embora, mas achei que fosse voltar. Na verdade, não foi a primeira vez que fui, talvez nem a segunda, mas foi a primeira que achei que fosse voltar. Não voltei, por isso escrevo.
Sempre -se é que existe esse tal de "sempre" e a minha feliz, e ao mesmo tempo triste, insignificância importe ao senhor Sempre, ou seria o "senhor do sempre"?- achei que fosse pura bobagem dessas pessoas tristes, como por exemplo os trabalhadores quase escravizados pelo serviço público, estarem sempre perdidos- e um pouco desesperados- dentro das imobiliárias em frente às enormes e lindas maquetes de prédios sonhando em um dia, quem sabe, conseguir comprar um dos milhares de cubículos que, teoricamente, um dia vão existir, se eles puderem pagar em dia, claro. Mas acho que hoje entendo.
Digo que acho porque não sei muito bem se sei mesmo, mas espero um dia saber se sei. Desde que tive que ir, sem querer, tenho dificuldade de entender o que quero dizer quando estou em alguma situação completamente desagradável ou entediante e irracionalmente digo "quero ir pra casa". Que casa?
Mas, eu mentiria se dissesse que nunca me sinto em casa. Alguns dias, perto das (poucas) pessoas que gosto, eu me sinto sim em casa, mas acho que é porque eu fiz delas a casa que tanto sinto falta, se é que aquele sentimento que eu tinha era de estar em casa mesmo. Talvez eu sinta falta mesmo é do lugar, do cheiro e do calor. Ou da rotina. Ou das chuvas que faziam o chão se esfriar e o ar mil vezes mais pesado. Lembro que odiava brincar quando estava chovendo, ou havia chovido, porque o ar ficava aparentemente mais frio, mas era mais difícil respirar. Mas acho que até disso sinto falta.
A sensação de não pertencer, ou pertencer só as vezes, a alguma coisa me incomoda, porque eu acho que já havia pertencido. Como disse, as vezes eu acho que pertenço, depende de quem está comigo. Eu sei de uma coisa: um dia eu vou saber.
Eu sinto falta de estar em casa, mas às vezes estou e só percebo que estava quando vou embora, sem querer, de novo.