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Esperei do lado de fora da sala, escorado na parede, até a reunião se encerrar. Demorou vários minutos, mas fui paciente. Apesar de já  ter feito minha escolha, tinha muito no que pensar até o seu fim. Quando isso aconteceu — e quando os presentes saíram para cumprir suas demais atribuições —, surgi rapidamente e cruzei a soleira, sem me anunciar ou esperar por convite, já que não estava muito para cortesias ou convenções.

Em seguida, fechei a porta atrás mim.

E me sentei diante de uma surpresa Sabrina.

— O que...? — ela começou.

— Precisamos conversar, Sá, e tem que ser agora. Desculpa entrar assim.

— Caramba, acho nunca vi você agindo dessa forma.

Ela se virou. Quando entrei, estava de lado, fitando o computador. Agora, se postava de frente para mim, tendo endireitado a cadeira.

Deixei meus braços penderem por entre as pernas e olhei para baixo, para os papéis rabiscados, mas sempre organizados, sobre sua mesa.

— Algum problema? — apontei com a cabeça na direção deles.

— Você sabe que não posso falar abertamente sobre tudo o que acontece aqui. E sabe muito bem, também, que entrar assim na minha sala não pega bem para mim. Não é o tipo de comportamento que se espera de um profissional da Rede.

— Eu sei.

— Mesmo com nossa amizade, digo.

— Eu sei — repeti. — E peço desculpas novamente.

Ela me encarou em silêncio. Não estava brava de verdade, eu sabia, mas essa era sua reação quando pega desprevenida. Acabou por vir mais para a frente, em minha direção, quase colando o corpo na mesa.

— Vamos lá. O que aconteceu de tão urgente assim?

— Como vão as... listas?

Não estava frio, mas minha pele se arrepiou mesmo assim. Tive tempo mais do que suficiente para pensar e repensar cada um daqueles atos, mas colocá-los em prática era uma coisa totalmente diferente.

— De demissão?

— Sim.

Ela suspirou.

Timing perfeito o seu, ein?

— Pura sorte — reagi ao entender do que ela falava.

E uma expressão irônica se instalou no meu rosto.

— Ok, ok. Acabamos de falar sobre isso, Dani. Os representantes do jornal e os editores estavam aqui. Você viu — não, não era uma pergunta. — E a nova lista deve sair até o final de semana.

— E meu nome...? — perguntei.

— Não estará nela, não se preocupe. Foi por isso que você entrou desse jeito aqui? — ela levantou os olhos, franzindo levemente a testa corada.

Foi minha vez de respirar fundo.

— Sim. Mas o caso é justamente esse: eu quero que meu nome esteja na próxima lista.

[...]

Minha mãe me ligou.

É claro que ela ligou, logo depois de receber e de ler a mensagem.

            — Eu estou bem, eu juro! — falei de pronto.

            — Daniel, me ouve — ela estava chorosa. — Acabamos de acordar. Seu pai foi na mecânica pegar algum dinheiro e estamos indo para aí, entendeu?

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