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Acordei com batidas fortes na porta do quarto — altas e frequentes o suficiente para me fazerem despertar.

Assustado, corri com olhos de pressa pelo breu em busca de meu telefone, mas nenhuma notificação me aguardava. E para a televisão, depois disso, sempre ligada. Também sem nada conclusivo. Somente as luzes dos quartos se mostravam acesas nela. Todas. A de nenhum outro cômodo.

A princípio, nada fora do lugar.

Ainda era noite, ou quase isso. Madrugada. O relógio gritou quatro horas e pouco da manhã. Não registrei os minutos exatos pois fazia força para manter as pálpebras abertas.

Quem era e o que queria aquela hora?

Outra pergunta, me acostumando com a luminosidade: o Ricardo seguia imóvel em sua cama, como conseguia?

Novas batidas. Decidi averiguar. Quem quer que fosse, era urgente. E vindo de um campista, já que éramos os únicos com acesso ao complexo.

Esfreguei novamente olhos, indo em direção à porta. Sem estar de fato preparado para quem me aguardava do outro lado.

— Lívia?

— Dani! — falamos quase juntos, em exclamação e dúvida.

Sua expressão era de medo, tão grande ou maior do que a minha, provavelmente.

— O que houve? — perguntei dando um passo em frente, puxando o trinco atrás de mim.

No corredor não atrapalharíamos o descanso de ninguém, acreditei.

— Desculpe acordar você — ela me disse, claramente querendo falar outra coisa.

— Você está bem?

— A Pipoca sumiu! — e me abraçou num impulso rápido, cedendo a um compreensível descontrole.

Como isso era possível, já que estávamos todos — inclusive a cadela — confinados no Campo Safira?

— Procurei por todos os lugares — ela prosseguiu. — Em todos. Mais de uma vez. Eu juro.

Seguia junto ao meu peito.

Pedi calma. E que me contasse os mínimos detalhes daquele pesadelo.

Por favor.

O fato. A Pipoca tinha desaparecido.

O que eu sabia. Na noite anterior, a Lívia tinha ido se deitar mais cedo do que os outros campistas. Deixou a sala de refeições comigo, cansado depois dos eventos quase trágicos com o flyboard, e seguiu para o seu quarto, junto da Pipoca. Os demais seguiram suas refeições e conversas animadas. Com suas vidas. Até sabe-se lá que horas.

A hipótese inicial. Não havia porque acreditar em maldade por parte de ninguém do acampamento, já que todos demonstravam gostar da companhia canina — até mesmo eu, para meu espanto. Devia ser apenas má sorte, então. O mais provável era que, ao voltar para o quarto, o Álvaro tenha aberto a porta e a cadela saído. Simples assim. Talvez ele não quisesse acender a luz para não acordar sua colega ou, meramente com sono, não tenha percebido a fuga. Não importa. O desfecho era o mesmo.

A solução. Procurar por todos os lugares.

Não importava a hora nem o quão cansado eu estava.

Óbvio que eu iria ajudá-la.

[...]

Rodamos por todos os cômodos do Acampamento Azul.

Não havia sinal da Pipoca nos corredores, elevadores, nem no cinema, biblioteca, banheiros, sala de estudos ou de refeições. Além disso, ela com certeza não estava no quarto da Lívia nem no meu — tínhamos revisitado ambos os espaços e conferido uma segunda (ou terceira) vez, quando aproveitei uma das ocasiões, inclusive, para tirar o pijama e vestir o uniforme da Bubble.

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