Adotada

Capitulo 6

Ficar alguns segundos olhando Erik era uma tentação. O simples fato de sentir seu perfume, era uma sensação que me tirava da terra. Observar seus cabelos negros, seus olhos que transmitiam gentileza, seu corpo forte perto do meu, era o único momento de dia que me tirava a sanidade e me fazia não ter medo de ser quem eu sou de expressar o que eu sinto.
Mas, a vida sempre tem um mas, e por alguns segundos eu imaginei um mundo em que existisse somente nós dois, e eu pudesse ao menos poder ser sincera com ele. E se tudo fosse diferente?

- Kate? Você está bem? - Erik me chamou estalando os dedos e me tirando dos pensamentos.

- Eu não sei, pode me deixar sozinha? - Eu respondi abrindo os olhos para encarar seu rosto.

- Posso sim, qualquer coisa me chama, eu só tive uma prova hoje, então vou ficar em casa - ele falou se levantando da cama, caminhando em direção a porta.

- Erik! - eu o chamei antes que ele batesse a porta.

- Oi - ele respondeu calmamente.

- Obrigado - agradeci como se minha vida dependesse disso. Meu coração precisava disso. Então ele me deu um pequeno sorriso e fechou e fechou a porta.

O que eu mais precisava nesse momento era dormir. Eu só queria fechar os olhos e me desligar por algumas horas.
E assim foi, sonhar era a melhor maneira de fugir da realidade, era como escapar para o país das maravilhas, em um mundo sem fronteiras, mas foi nesse momento que eu tive um sonho que me fez refletir.
No sonho eu me lembro de estar em baixo dos lençóis velhos em que eu me escondia na minha antiga casa, o chão era húmido e gelado, então eu abraçava minhas próprias pernas para gerar algum tipo de calor. Ao fundo eu escutava gritos, e esses gritos eram da minha mãe, eram gritos de súplica e de misericórdia, que se misturavam com choro e soluço. E ela gritava

"- Por favor!! Pare!! Eu faço o que você quiser!! Só nos deixe em paz, você já me tirou tudo que eu tinha" E uma voz forte de homem ao fundo respondia

"- Você é o que eu quero, será que não entende isso, será que você precisa sofrer mais do que já sofreu pra aprender que você deve ficar comigo!"

"- Tudo menos isso! Eu nunca ficaria com um monstro como você" Minha mãe gritava com aquele homem.

Foi então que eu decidi espiar um pouco, e levantar a beirada do lençol para ver melhor o que estava acontecendo. Ali havia um homem vestido de preto, ele usava um casaco com capuz, que não me deixava ser seu rosto, e minha mãe o segurava a porta para que ele não entrasse. Mas foi então que ele tirou uma faca que escondia em algum lugar de seu corpo e a deu o primeiro golpe na barriga.
Enquanto eu via minha mãe perder as forças e suas pernas fraquejarem, ele terminou o serviço com mais algumas facadas, colocou o corpo no chão, que ainda com vida tentava pronunciar palavras, mas só se ouvia ruídos de dor. Ele olhou para as mãos sujas de sangue e começou a chorar

"- Eu não queria que fosse assim Alice..." E Então saiu pela porta rápido feito vento.

Então eu acordei com um susto muito grande, eu não queria me lembrar daquilo, há anos eu reprimia essas lembranças para que não voltassem, mas não adiantou. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e meu peito descia e subia rapidamente, só me acalmei quando me dei conta que já era noite e eu ainda estava no quarto. Então me levantei para ir até o banheiro, e eu estava péssima, pensei enquanto me olhava no espelho, eu vi olheiras, rimel borrado, rosto inchado. Aquele sonho não tinha sido normal.

- Kate! - sai dos pensamentos quando levei um susto, alguém batia na porta. Tentei limpar minhas lágrimas eu fui abrir a porta depressa.

- Kate eu vim te chamar porque você não é de dormir assim - Dave estava na porta preocupado, e assim que o vi, pulei nos seus braços e o abracei, como se ele pudesse me defender de todos os pesadelos, assim como os pais fazem.

- Eu tive um pesadelo, não estou me sentindo bem - Eu respondi com uma voz baixa e cansada.

- Venha comer alguma coisa, eu garanto que vai se sentir melhor - ele falou passando mãos por meu cabelo, e então eu assenti com a cabeça.

Descemos as escadas juntos, e todos estavam na sala.

- Aconteceu alguma coisa gente?
- Jonathan perguntou.

Eu fui até o sofá e me joguei nele sem dizer uma palavra.

- Foi só um pesadelo - Dave o respondeu sem dar muito detalhe.

- Ownt, tadinha da bebê, teve pesadelo foi? Já passou - Jonathan debochou de mim enquanto eu finjia que nada escutava.

- Cara, pra que fazer isso? - Erik rebateu criando uma tensão no ar.

- Vai ficar de mimimi também Erik? Um milagre que as feiosas não falaram nada
- Jonathan respondeu rindo.

Ellen respondeu dando língua para ele.

- A gente pode ver o filme? - Eu perguntei quebrando o gelo, pra mim já deu de discussão.

- Claro que podemos, só não fique até muito tarde, amanhã você tem aula
- Dave falou com seu tom autoritário de sempre.

Pensando por um outro lado, tomara que amanhã seja um dia bem melhor que hoje. Eu só preciso esquecer de tudo, como se nada tivesse acontecido. E realmente, sonhos não são realidade, então não aconteceu.