Parte 1

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Kim Jisoo segurou a respiração por alguns segundos para não absorver a fumaça do cigarro que vinha do editor-chefe. O homem era um senhor de meia-idade, acostumado com as redações dos anos noventa, em que o cigarro e café acompanhavam muitos jornalistas. Depois de analisar o papel por vários minutos, jogou a bituca na cinzeiro mais próximo.

— Está bom, Soo! — Tirou a folha que cobria seu rosto para encará-la. — Porém, não acho que vai dar cliques.

— Chefe, acho que as pessoas querem ler mais do que fofocas. — Jisoo bateu no piso para despertar a perna que estava ficando dormente de esperar em pé. — As redes sociais estão aí pra isso.

— Acontece que nas redes sociais até as fofocas são bonitas. Todos estão perfeitos e felizes. — Estendeu a folha para que ela pudesse pegar de volta. — As pessoas querem tragédia, e é nos jornais que elas encontram.

— Eu até poderia me esforçar mais nas matérias investigativas desde que não tivesse que copiar o material feito por outros.

— Você sabe muito bem que estamos com o número de funcionários reduzidos. — O homem ajeitou-se na poltrona preta. — Não dá pra sair da redação toda hora.

— u não me importaria de fazer alguns plantões finais de semana para repor esses horários. — A garota tentou argumentar. Tudo que Jisoo queria era fazer algumas entrevistas externas, sair um pouco daquela rotina monótona.

— Ah, Soo... — O homem cruzou as mão e colocou embaixo do queixo. — Você me lembra na época que tinha acabado de me formar... Essa vontade toda de mudar o mundo, sabe? — Suspirou e o brilho em seu olhar se esvaiu junto com a respiração. — Só que isso não dá retorno.

— Eu acredito que uma boa matéria pode sim dar cliques e ainda sim ser útil. — A morena era teimosa, não desistiria tão fácil da sua reportagem investigativa.

— A página cultural sempre está às moscas. — Soltou uma risada irônica. E são informações relevantes.

Quando se é jornalista, é quase impossível não ter uma relação de amor e ódio com a internet. Se por um lado, as redes tenham aumentado o acesso à informação, o jornal acabou perdendo sua exclusividade na arte de informar. A Kim respirou fundo, procurando um bom argumento para convencer seu editor chefe. Por mais que fosse uma jornalista competente, e amasse sua profissão, ela queria ir além do dinheiro. Queria usar a força da juventude para deixar sua marca no mundo jornalístico.

— Muitos leitores tem comentado numa matéria sobre o escândalo da Lay's. — Fez uma pausa para tentar fortalecer seu argumento. — Acredito que se investigarmos mais a fundo, é possível chegar num esquema ilegal.

— Esqueceu que nossa redação é pequena? Investigações assim demandam tempo e precisam de influência...

— Sim, eu sei que jornais maiores são quem tem as melhores fontes, mas eu realmente estou cansada de repostar matérias dos outros. — A jovem confessou.

— Se 'tá achando ruim, tem uma fila de jornalistas recém formados querendo o seu lugar. — Relembrou o senhor.

A morena suspirou fundo para não entrar em uma discussão em plena segunda feira, o dia mais movimentado de uma redação, já que muitos acidentes e crimes ficavam acumulados dos finais de semana. Tinha muita matéria para colocar em dia.

— Se me der licença, tenho que terminar outro texto... — Abaixou o olhar para fitar o chão. Odiava ser contrariada, mas ainda era uma subordinada.

Ainda.

— Acrescente mais detalhes da morte desse rapaz e o texto vai ficar mais excelente. — Pegou outro cigarro do maço.

Queima de arquivo » Zhang Yixing (Lay)Where stories live. Discover now