A encaro e sorrio com a pergunta óbvia.
- Claro que sim, pra começar não estaríamos em Floripa. Ainda estaríamos morando em Londrina, certeza.
Acho que Natty não tinha parado para pensar nessa realidade. Até porque ela conheceu Bruno aqui em Florianópolis, no meio do verão, com o sol esquentando sua pele e longe de qualquer pensamento que os tirassem daquela praia. Nunca pensou em Londrina e seu tempo sempre nublado, ou as chuvas de verão tão intensas que ninguém saia de casa por um tempo. Me lembro dessa época, mas as chuvas pesadas ainda são um retrato do início da minha infância. Se minha irmã estivesse viva, eles não se conheceriam, Bruno conheceria outra garota e ficaria noivo dela ou talvez ainda se conhecessem, quem sabe? o destino é uma coisa incerta demais.
- Meus pais começaram a se mudar feitos loucos depois que tudo aconteceu - Completo para não deixar Natty perdida em seus pensamentos, como eu estava ficando. - demorou um tempo até nos acalmarmos por aqui.Por algum motivo, minha mãe nunca ficava feliz em nenhuma casa que estava, os defeitos se transformavam em monstros de neve e de repente estávamos nos mudando porque a parede da sala era vermelha. Me pergunto o que fez minha mãe gostar tanto de Floripa?, já que andamos o estado inteiro praticamente e ela não parecia apegada lugar algum. Meu pai costuma dizer que foi aqui que ela encontrou a paz que precisava. Claro que ele não explica o que tinha nas outras casas já que não era paz.
- Ah, sim - Ela fala e joga o tomate na panela - Claro que seria diferente, que pergunta a minha.
Acho que Natty não quis se aprofundar muito no assunto, pois viu que o choque de realidade poderia ser grande, uma vez que não deve imaginar sua vida sem meu irmão. No final, acho que muita coisa não seria a mesma.Incluído eu, não seria a mesma Thalita, quem sabe o que eu viria a ser se tivesse uma irmã mais velha do meu lado? Mudaria muito minha personalidade? Eu ainda teria os mesmos sonhos? São perguntas impossíveis de serem respondidas, por isso me contento em ajudar a quebrar o macarrão, é bem mais simples do que pensar no impossível.
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Quando terminamos de fazer o macarrão com queijo, fazemos um esforço para trazer todos a mesa, mas não dá certo. Meu pai já foi dormir, minha mãe está divagando olhando para a tela do celular, fingindo que ver algo muito interessante e Bruno... Bom o Bruno acho que nem a Natty sabe em que pé ele está.Apenas está no quarto com o fone ainda no último olhando para o teto. Não fui ve-lo, mas tenho certeza que está assim. Quando eu era pequena tinha mania de ir lá e deitar com ele, fazer companhia até que ele pegasse no sono. Não sei se ele gostava, mas nunca me expulsou do quarto. Queria fazer isso de novo, mas a Natty tá aqui e ela quer muito ser capaz de consolá - lo.
Então, depois de comer o macarrão, um pouco sem sal, pois a Natty esqueceu e eu não me lembrei que tinha que colocar, fomos cada uma para o seu quarto, quero dizer, eu fui para o meu e ela foi para o do meu irmão.
Particularmente, não gosto de ficar no quarto sozinha, principalmente hoje, mas não tenho muito para onde ir. Todos os meus amigos já parecem ter compromisso marcado ou estão super ocupados, inclusive a única pessoa que tenho vontade de falar a qual não está me respondendo no momento. E para ajudar, não tem nada que eu possa ver na televisão ou até mesmo no YouTube, então me conformo em entrar no meu quarto e ficar por lá vegetando até o dia de amanhã.
Mas quando eu abro a porta do quarto dou de cara com um objeto incomum a minha coisas, muito bem colocado na minha cama quase como um presente deixado de mal jeito.Uma caixinha vermelha com um laço amarelo em cima sorria para mim da cama. Olho de um lado para outro, saio do quarto e verifico o corredor. Ninguém. Nem sinal de uma vida qualquer. Fico com receio de voltar para dentro. É assim que filmes de terro começam.
Me pego pensando se eu tenho alguma caixinha vermelha e se eu estava mexendo nela antes de sair para ver o macarrão. Não, eu não tenho nada dessa cor. Muito menos uma caixa a qual parece ter saído dos sonhos de alguma criança louca de açúcar.
Fecho a porta do quarto atrás de mim e caminho meio que devagar até ela. Não sei exatamente do que tenho medo, da caixa explodir ou de sair algum palhaço voar dali. Meu Deus, tomara que não saia nenhum palhaço voador dali!
Me sento na cama e puxo a caixa para mais perto de mim. Ela parece ser mais leve do que aparenta. O que será que tem dentro? Será um presente? Parece ser um presente, mas não é meu e aniversário cuja data está bem distante.
Abro ela devagar e percebo que são cartas. Alguém me escreveu cartas? Mas são muitas. Tento ler alguns remetentes, mas parecem esta um pouco embaçado devido a tinta antiga. Tiro elas com cuidado de dentro da caixa e noto que tem mais algumas coisas perdidas, como um broche, um batom e... É um boné? Alguma princesa perdeu suas coisas por aqui?
Mas o que me chama atenção, esta no fundo, um pouco escondido pelo papel de seda, um pen drive igualmente vermelho vinho. Pego o pen drive e o analiso, quase que curiosa demais para descobrir o que pode ter ali dentro. Mas me contenho até porque...Deus sabe o que pode ter ali. Posso ser curiosa, mas meu medo as vezes, quase sempre, vence. Pego a caixa e viro ela do avesso, para que tudo que dentro dela possa cair na cama, no entanto uma faixa amarela com uma frase no fundo da caixa faz com que eu pare por um segundo de respirar. Escrito em letras miúdas, mas muito caprichosa:
Pertence a Jennifer Meneghim
E é nesse momento que meu pânico toma conta de mim, solto a caixa em cima da cama, e quase pulo no lugar. Parece uma brincadeira de mal gosto, pode ter sido o bruno ou meus pais, mesmo assim me seguro para não surtar, então ligo para a única pessoa no mundo que pode me ajudar a passar por isso sem que eu me mate.
- Gabie?Penso que se passa um eternidade até que eu possa ouvir sua voz.
- Oi, alô?
Posso ouvir um zumbido de festa atrás dela, e então me lembro ,de repente, que ela tinha me dito que estaria em um compromisso com o Theo hoje.
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Uma pista para o passado
FanfictionVivemos tão imersos em nosso próprio caos que, as vezes, esquecemos o quanto estamos afundando. Thalita encontrou uma caixa vermelha em cima da cama. Caixa esta que guarda uma coletânea de vídeos e cartas da sua irmã mais velha, Jennifer, falecida h...