Capítulo 12

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O caminho até a casa de Solar foi silencioso. 

Todas as vezes que a garota tentava puxar algum assunto ou simplesmente se aproximar, seja com um abraço ou pegar em minha mão, eu a rejeitava, dava respostas curtas e matava o assunto em segundos.

Eu não conseguia evitar, tinha tomado uma decisão e não daria motivos para Solar sofrer de novo por minha causa, fosse nas mãos do cretino do ex namorado ou nas mãos da sociedade.

Querendo ou não, nossa sociedade era de um preconceito extremo, não me surpreenderia com uma tentativa de agressão por questões de Orientação sexual. Eu e Solar não tínhamos nada além de uma amizade, mas isso já havia causado problemas pra ela. 

Me afastar dela daquela forma estava me massacrando, não só por querer estar por perto e poder brincar como sempre fazíamos, mas também por ver suas reações a cada momento que eu a evitava e recusava. Ela vinha sempre com aquele sorriso que eu tanto amava e o desfazia no mesmo segundo quando percebia que eu a rejeitava. Ver aquilo, a cara de choro que ela já estava quando chegamos em sua casa, me deu um nó na garganta, uma vontade de gritar e voltar atrás de tudo, mas eu não faria isso, pelo bem da garota. Ela iria sofrer agora mas logo nem mesmo lembraria que eu existo. 

Assim que ela entrou, quase correndo dentro de casa, dei as costas e voltei. Não demorou uma esquina se quer para que eu me desmanchasse em lágrimas. Meu coração dois de uma forma inimaginável, a sensação de perde-la, de saber que não a teria mais por perto, que veria aquele sorriso ou ouviria aquela voz, que não teria mais aqueles abraços tão ternos que aqueciam minha alma, isso tudo estava me matando. 

Cheguei em casa quase que arrastada pelo meu próprio corpo, pois meu psicológico estava abalado de uma forma que eu apenas queria minha cama. Me deitei, abracei as cobertas e o travesseiro e ali eu chorei, ainda mais do que na rua. Eu não queria perder todos os nossos momentos, eu não podia perde-los. . . Mas eu ia. 

Adormeci em meio às lágrimas e acordei na manhã seguinte com meu celular tocando, inúmeras mensagens não lidas e várias ligações perdidas. Era Solar. 

No impulso eu atendi, mas foi na hora em que ouvi sua doce voz me dando bom dia que me lembrei da promessa que fiz a mim mesma. 

Moon, dormiu bem? Você tá bem? Não respondeu minhas mensagens de ontem a noite e nem as de hoje...ー Ela estava agindo como se nada tivesse acontecido, como se o incidente dela com o ex nunca tivesse rolado e como se eu a rejeitando não passasse de um pesadelo do qual ela acordou e quis constatar ser só um sonho. 

Respirei fundo, meu coração estava descompassado de um jeito que não dava pra entender o porque. Engoli seco, eu sabia que qualquer mínima coisa que eu falasse poderia magoa-la, eu não queria isso, não podia, mas... Devia. Era o único jeito de me afastar dela. A indiferença.

Ah, eu estava ocupada quando cheguei e nem vi sua mensagem ou ligação. Não passo o tempo todo no celular.ー Travei o maxilar, engolindo todo remorso após responder ela de uma forma seca e desagradável, eu não era assim. 

O silêncio se impôs na ligação por incontáveis minutos, até ouvir um "Ata" fracovindo do outro lado da linha. Depois disso ela finalizou a ligação com um "a gente se fala depois, então." e eu simplesmente joguei o celular pro outro lado da cama, levando ambas mãos no rosto e me virando. Eu já não tinha nem lágrimas mais pra chorar, aquilo tudo estava me deixando maluca e vê-la, ouvi-la daquela forma, era torturante. EU DEVIA TER ME AFASTADO ANTES

Depois daquela ligação Solar tentou falar comigo por mais alguns dias, mas depois de ser ignorada, respondida de forma seca e ser totalmente rejeitada em qualquer tentativa de convite para sair ou ir/vir em sua ou minha casa, ela acabou desistindo. Sem mensagens, sem ligações, nenhum sinal da garota por quase duas semanas. As piores semanas da minha vida.

Eu voltei a minha rotina tediante de sempre, trabalho, casa, as vezes um passeio sozinha com os fones de ouvido no máximo. 

Num dia chuvoso de uma quinta-feira, eu estava voltando do trabalho, andando, guarda-chuva em mãos e os fones tão altos que nem mesmo o barulho das gotas, em contato do plástico do objeto acima da minha cabeça, me incomodava. Andava distraída, olhando sempre pra baixo, chutando algumas pedras pelo caminho e cantarolando "One thousand years". 

Andei por mais alguns quarteirões e parei por fim, naquela velha praça aonde tinha costume de ir sempre, na frente do mesmo banco aonde eu sempre me deitava para observar as nuvens. Hoje não tinham nuvens, o banco estava molhado e o tempo parecia cinza, sem cor. Olhei em volta, alguns poucos metros pra frente, a parte baixa da praça... 

ー... Foi aqui que eu a vi, pela primeira vez. Foi aqui que tudo começou.ーSenti lágrimas escorrerem por meu rosto, silenciosas, sem murmúrio, sem resmungos, sem soluções, apenas as lágrimas e o silêncio. 

Fiquei parada lá por volta de uns 15 minutos até resolver que devia voltar pra casa, e assim o fiz. Caminhei a passos curtos em direção do lugar aonde eu tinha mais memórias, aonde eu tinha todos os momentos registrados, e aonde era meu refúgio. O único lugar em que eu poderia sofrer em paz, sem questionamentos. 

Única coisa que me confortava era o pensamento de que Solar estava bem. Dentro de poucos meses encerraria os estudos e começaria a trabalhar na empresa de seu pai, como economista, como sempre foi a vontade do mais velho. Ela seria feliz, seguindo uma vida passifica com a família e faria novos amigos. Todos sairiam ganhando... Bom, quase todos. 

Depois de todo aquele pensamento durante o banho, eu já me via jogada na cama, olhando pro teto e tentando esquecer aquela garota. Não conseguia entender porque ela não saia dos meus pensamentos, todos os dias, tudo me lembrava ela. Porque? Já fazia tempo que não nos víamos, eu já devia ter superado e seguido, mas não, todas as noites eu pensava nela antes de dormir.

 No começo minhas noites de sono eram perturbadas por pesadelos, choros noturnos e insônia, mas depois isso foi passando, mas passou para uma espécie de sono robótico, sem sonhos, eu apenas dormia, dormia o necessário para meu corpo físico descansar mas minha mente, coração e espirito continuavam perturbados, cansados e totalmente fracos.

Talvez seja destino ( MoonSun )Onde histórias criam vida. Descubra agora