Os dois dias que o rei deu de prazo passaram correndo, assim como Carlile correu de um lado para o outro no Mercado do reino em busca de todos os suprimentos que iria precisar na viagem. Não teve notícia nem da conselheira e nem do rei nesse período, mas com toda a certeza iria vê-los no dia seguinte, já que ele é quem iria acompanhar Agnes na empreitada. Quanto mais pensava no assunto, mais preocupado ficava com o que podia os aguardar no caminho até o Bosque das Almas, que ele nem sabia onde era na realidade. Não gostava nada de iniciar uma missão sem ter conhecimento acerca de todos os fatos, ainda mais quando a felicidade do seu rei e o destino de todos os habitantes do reino pesava sobre o sucesso nessa viagem. Suas dúvidas só aumentavam e a falta de informações também lhe pesava: como o rei tinha certeza que tal visão se tornaria realidade caso não fosse impedida? O que havia nesse tal Bosque das Almas que poderia salvar tanto o reino quanto a criança? O que havia de tão ruim neste pobre bebê inocente, que ainda estava na barriga, que poderia destruir todo o Reino das Colinas? Por que justamente ele havia sido escolhido para a missão?
As perguntas só aumentavam, mas como um bom guerreiro, Sir Carlile nada deixava transparecer, mantendo-se firme e gélido enquanto a notícia de que partiria em uma missão secreta com Agnes Waterhouse se espalhava mais rápido que uma chama em meio ao capim seco, mesmo que o motivo da expedição ainda permanecesse em segredo, como era do desejo do rei, a última coisa de que precisavam nesse momento era causar histeria em meio ao povo. Conferiu se havia pegado tudo que precisava, no caso carnes secas e frutas bem armazenadas em duas enormes bolsas, além das armas e vestes que havia pegado no dia anterior logo que saíra do castelo. Não sabia quanto tempo passaria fora, nem que tipo de ambiente teria que atravessar, por isso era importante estar prevenido para o máximo de adversidades que pudesse de forma que não corressem nenhum risco desnecessário.
Foi para a sua cabana descansar, afinal a viagem seria longa e percebeu como todos o olhavam diferente naquele dia. Sempre foi muito querido, mas nesse dia parecia que temiam pela vida do guerreiro mesmo sem saber o motivo de sua partida. Era como se todo o reino estivesse coberto de tensão, de preocupação por ele e pela feiticeira, assim como por si mesmos, já que desde que se mudara para lá a feiticeira nunca mais havia deixado o reino, protegendo a todos com sua magia em inúmeros ataques. Na realidade, agora que Carlile estava se pensando nisso, Agnes Waterhouse chegara ao reino no meio de um ataque de uma forma que deixou todos completamente apavorados com a possibilidade de que se voltasse contra o reino das Colinas algum dia. Ele se lembrava como se tivesse sido ontem mesmo...
***
O dia nem havia começado completamente e Carlile já estava nas muralhas novamente, tendo mal descansado durante a noite. O castelo estava abarrotado de pessoas escondidas e guerreiros que haviam sido feridos em batalha e os curandeiros estavam tendo um trabalho enorme em manter todos vivos, mesmo que muitos soubessem que não veriam o sol raiar o céu com sua luz novamente. A cidade estava sob ataque há cinco dias contando com este que começava e o Reino das Colinas estava aguentando bravamente. Devido as excursões em que o rei enviava seus homens na procura de conhecimentos perdidos o Reino vivia sofrendo assaltos, principalmente pelo exército de Hades, que governava o Reino da Névoa. Hades se orgulhava muito de levar o nome do Deus do Submundo e fazia o possível para tentar tomar tudo que pudesse de todos os sete reinos, mesmo que todos soubessem que a sua raiva do rei Julian era particularmente maior. Talvez fosse a resistência oferecida pelos guerreiros da Colina, que seus guerreiros da Névoa nunca tinham conseguido quebrar, ou inveja de todo o conhecimento que as muralhas protegiam, ou talvez apenas uma sede insaciável de poder. A questão é que seus ataques sempre eram maiores ali, sempre na esperança de conseguir entrar.
Carlile realmente não conseguia entender o motivo de Julian não aniquilar completamente o Reino da Névoa e se livrar dessa ameaça constante, mas seu rei era um pacifista, acreditava no melhor de todos, sempre se defendia dos ataques mas não iria atacar gratuitamente um outro rei simplesmente como prevenção de um ataque que poderia nunca vir a acontecer. Além do mais, seus guerreiros eram muito bem treinados e o reino fortemente protegido, conseguindo lidar com os constantes assaltos com número mínimo de perdas. Entretanto, mesmo com a segurança de que venceriam a batalha, precisava admitir que os soldados inimigos estavam lutando com vigor nunca visto antes e o exército da Colina estava sofrendo várias baixas nesses cinco dias cercados.
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Entre Reinos Perdidos
General FictionEm uma terra longínqua, num tempo que já não corre mais. O cavaleiro mais honrado do reino. O detentor de todo o Conhecimento. A senhora de toda a Magia. Uma profecia a desvendar e destruição total a ser evitada.