CAPÍTULO 2

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DIZEM QUE antigamente o céu era azul, não esse pergaminho que é hoje
Dizem que antigamente, se os navios partissem de Arcádia rumo ao leste, chegariam a um continente dez vezes maior – não mergulhariam nas águas do mar rumo ao vazio infinito.

Naqueles dias, fazíamos negócios com outras terras; o que não plantávamos, podíamos comprar, em vez de tentar produzir com complicados trabalhos herméticos.

izem que antigamente não existia nenhum Lorde Park, habitando o castelo em ruínas em cima da colina. Antigamente, seus demônios não infestavam cada sombra; nós
não lhe pagávamos tributos para mantê-los (quase todos) a distância.

E eles não tentavam os mortais
a negociar por favores mágicos que sempre acabavam se tornando sua desgraça.

O que se diz é o seguinte: Há muito tempo, a ilha de Arcádia era apenas uma pequena província do Império
greco- romano.

Era uma terra semisselvagem habitada apenas por guarnições imperiais e um povo rude e iletrado que se escondia nas moitas a fim de adorar seus deuses velhos e incivilizados e se recusava a chamar sua terra de qualquer outra coisa que não fosse Anglia.

Mas quando o Império caiu nas mãos dos bárbaros – quando a estátua de Atena Partenos foi destruída e as sete colinas queimadas –, apenas Arcádia permaneceu intocada. Porque o príncipe Claudius, o filho caçula do imperador, fugiu para lá com a sua família.

Mobilizou as pessoas e as guarnições, derrotou os bárbaros e criou um reinado brilhante.

Nenhum imperador antes dele foi tão sábio em seus julgamentos, tão terrível nas batalhas, tão amado pelos deuses e pelos homens.

Dizem que o próprio deus Hermes
apareceu para Claudius e ensinou-lhe as artes herméticas, revelando segredos que os filósofos

greco-romanos nunca descobriram. Alguns dizem que Hermes até concedeu-lhe o poder de comandar os demônios.

Se aconteceu, então Claudius foi realmente o rei mais poderoso que jamais existiu.

Os demônios, esses horrores malignos gerados nas profundezas do Tártaro, são tão velhos quanto os deuses, e alguns conseguiram fugir de suas prisões e rastejar através das sombras até entrar em nosso
mundo.

Apenas os deuses podem fazê-los parar e absolutamente ninguém consegue lidar com eles, porque qualquer mortal que os vê enlouquece, e o único desejo deles é o de se banquetear com o medo dos homens.

Ainda assim, dizem que Claudius conseguia prendê-los em jarros com apenas uma só palavra, de modo que em seu reino ninguém precisava temer a escuridão.

E talvez tivesse sido aí que o problema começara. Arcádia era imensamente abençoada e, mais cedo ou mais tarde, toda bênção tinha de pagar seu preço.

Durante nove gerações, os herdeiros de Claudius governaram Arcádia com sabedoria e justiça, defendendo a ilha e mantendo vivo todo o conhecimento antigo.

Mas então os deuses voltaram-se contra os reis, ofendidos por algum pecado secreto. Ou então os demônios que Claudius prendera finalmente conseguiram se libertar. Ou (mas poucos ousam dizê-lo) os deuses morreram e deixaram os portões do Tártaro destrancados.

Seja lá o motivo, aconteceu o seguinte: o nono rei morreu durante a noite. Antes que seu filho pudesse ser coroado na manhã seguinte, o Lorde Park, príncipe dos demônios, desceu sobre o castelo.

Em uma hora de fogo e de ira, ele matou o príncipe e se apoderou de tudo. Então, passou a ditar os novos termos de nossa existência.

Poderia ter sido pior. Ele não nos governou como um tirano, nem nos destruiu como os bárbaros.

Lord ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora