Capítulo 4

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Correr não era propriamente o verbo, a velocidade de ambos era sobre-humana tão velozes que os transeuntes sequer poderiam notar que passavam não fosse alguns esbarrões. Porém, ambos não estavam exatamente prestando atenção as pessoas no entorno. Ele subiu por uma escada de incêndio depois de dar um salto para alcançar o primeiro degrau e ela simplesmente esticou suas asas com penas negras de azeviche, que de tão escuras tinham reflexos azulados, e alçou voo seguindo-o para o alto.

Ele tentava correr pelos telhados, porém tendo que esquivar-se de divisórias e chaminés em pouco tempo ela o encurralou. Porque o idiota não tinha voado?! Naquele momento a aparência de ambos era bem distinta de quando usavam vestes humanas.

As roupas haviam simplesmente se rasgado e sido consumidas durante o trajeto da caçada e agora estavam com trajes dedicados místicos. Ela usava uma peça que parecia única, lembrava um traje de academia de lycra ou uma roupa de neoprene, vermelho com espirais negras e marcas que lembravam tatuagens tribais. Gola alta, mangas até quase os cotovelos e pernas até quase os joelhos. As asas estavam abertas e evidentes e uma cauda preênsil e glabra saiam da roupa como se houvessem aberturas perfeitas para elas, estava descalça. Ele estava com uma espécie de macacão completo, os pés em uma espécie de botas e as mãos também recobertas talvez aquilo fosse originalmente branco, mas mesmo sendo algo místico, não estava em perfeito estado. Estava manchado e rasgado, como se tivesse passado por algumas brigas e contra tempos com ela. Atrás dele um muro, cercado como um rato. Poderia arrebentar o obstáculo e tentar novamente, porém estava ofegante e correr enquanto ela voava não prestava de muita coisa. Porém ainda era maior, deveria ter vantagem.

Ele tentou subjugá-la pela força para esquivar-se dali depois. Embora ela fosse pelo menos quinze centímetros menor era muito ágil e vigorosa. Num instante ele estava preso contra a parede com os braços presos as costas, seguros firmemente. Enquanto ela usava aquela cauda circulando seu pescoço com um volta e a ponta livre um pouco acima, como se fosse uma cobra ou sabe lá o quê.

—Ai! Por que isso?! Não te fiz nada!

— Nome, anjinho! E agora entendi porque não usou as asas... Que servicinho fizeram aqui, hein? — O traje dele expunha dois lanhos paralelos com bordas entrecortadas de cerca de vinte a trinta centímetros. Marinette cravou as unhas salientes profundamente em um dos cortes fazendo com que tornasse a sangrar.

— Adrien. Caralho! — Praguejou pela dor, ofegando. Mas Mari apenas intensificou o aperto na garganta após o gesto. — Está atrás de mim desde o dia no beco? Por quê?

— Nome mundano, humano, completo. A menos que seu sobrenome seja caralho... E você quer falar do beco? Vamos falar do beco, você começa!

— Adrien Agreste.

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— Pelo visto... Foi a última vez. — Ouviu a voz de algum lugar distante. As costas queimavam como se estivessem em carne viva e tivessem lhe jogando álcool ou sal. Sentiu o corpo de bruços em algo úmido e frio. No chão? Onde estava? Lembrou-se do que deveria fazer. O hospital, o homem com quem deveria falar! Apoiou as mãos no chão levantando como conseguiu, olhando no entorno apenas para sentir uma enorme tontura e náusea. Como e por quê?! Gabriel estava de pé em um dos lados do beco e do outro, a menina estava caída ao chão, sem se mover em uma enorme poça de sangue. Não precisava nem chegar perto para saber, não podia nem mais sentir sua presença, já deveria ter se passado pelo menos uma hora!

— Minha sugestão é que saia fora daqui o mais rápido que puder... Logo estará amanhecendo e alguém achará o corpo da garota. Você nem deveria ter entrado neste lugar, primeiramente, era só ter seguido diretamente ao seu destino.

— Eu não entendo... — Estava confuso, como isso era até mesmo possível?! Só então Adrien percebeu, suas costas, suas asas haviam sito cortadas, a omoplata direita continuava a arder de forma intensa. Gostaria de ver o que havia ali.

—Não entende?! Claro que não! Você deveria ter ido ao hospital, direto, sem paradas. Jamais deveria ter se detido aqui! Nunca pode aceitar, não é mesmo? O livre arbítrio é algo para os humanos!

— Gabriel! Não poderia ignorar o pedido da menina! Caralho ela tinha só doze anos! Que espécie de... de... pessoa? Fez isso com ela?!

—Da espécie humana, os mesmo animais que lhe arrancaram as asas, os mesmos que lhe marcaram com uma insígnia profana. Não entende?! Nunca mais entrará no reino dos celestiais!

Insígnia profana?! Era isso que lhe ardia? Por quê?! Quem?! Só poderiam ter sido demônios! Gabriel estava errado, uma pessoa não poderia ter feito aquilo, por que uma pessoa faria aquilo? Ele olhou novamente para o corpo da menina inerte no chão, por que esteve ali? Ninguém a tinha protegido?

— Gabriel, você sabe... A menina ela, ela foi para o paraíso? — Sua voz soou débil e inexpressiva até mesmo aos próprios ouvidos. Tinha parado ali e nem mesmo conseguiu protegê-la... Céu... O que era o céu senão o éden prometido aos humanos? Lugar que ele sequer tinha certeza da existência? Os anjos não adentravam o reino dos céus, a morada dos celestiais era separada da dos espíritos humanos... Eles eram os filhos, a obra de Deus. Os anjos eram seu exército, seus subordinados.

— Dificilmente, visto que não foi sequer batizada. Nada a libertou do pecado original. Além disso, se encarregaram que seu corpo fosse devidamente maculado fazendo com que deixasse de ser uma menina inocente. Mas isso não lhe diz respeito. Em seu lugar já estaria me afastando daqui. Você está preso ao mundo dos homens, mas continua sendo imortal. Algumas de suas habilidades se perderam, não é mais portador da luz. Se te virem aqui, terá que prestar esclarecimentos sobre a morte da menina...

A vozbarítono naquele tom frio e distante de Gabriel não lhe dava qualquer alento. Ea mensagem passada não era menos cruel. Não teria mais acesso à moradacelestial. Preso junto às mesmasbestas, humanas ou não, capazes de atrocidades como as que se sucederam com agarota. Não! Não foram humanos!Relutava a creditar que tinham sido homens, mas imaginava que os demônios nãoteriam atacado daquela forma diretamente, eram seres da tentação. Agiam paradanação de almas imortais e não pela tortura dos corpos. Sua camisa e camisetaestavam destruídas e suas costas eram um espetáculo para quem quisesse ver, comdois enormes talhos que desciam da altura dos ombros até quase o meio dascostas, mas que não sangravam mais. Viu uma camiseta suja jogada em um canto,aquilo provavelmente era uma evidencia, mas não tinha muitas alternativas.Pegou o tecido sujo e cheirando a suor, realmenteera asqueroso pensar que teria que vestir. Então não pensou a respeito.Colocou a peça sem se importar, precisava voltar ao apartamento e a partiragora não haveria um carro parando conforme a necessidade. Embolou os restos dotecido destruído da própria camisa e camiseta de forma que o sangue não fossevisível e logo notou que Gabriel não estava mais ali. Afastou-se em silêncioaté que passou por um ponto de táxi algumas quadras depois. O que faria a partir de agora?

Apenas nos apócrifos...Where stories live. Discover now