A História das Bruxas

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Vistas como a representação do mal ao longo dos anos e apontadas pela cultura popular sempre como mulheres malignas que adoravam o demônio e lançavam feitiços nas pessoas, as bruxas se transformaram na caça dos seus inquisidores. Esta realidade pode ser explicada pela perseguição a essas mulheres e a cristianização da Europa durante a Idade Média, aspecto que acabou influenciando vários escritores românticos do século 19, entretanto a história das bruxas é mais antiga do que se imagina.

O conceito de magia já existia desde a Antiguidade e não era algo necessariamente mal. Nas civilizações grega e romana, por exemplo, a magia voltada para o bem era relativamente bem aceita pela sociedade, especialmente no tratamento de doenças que fugiam do limitado conhecimento científico da época. No entanto, durante a Idade Média a bruxaria passou a ser violentamente combatida. Isso se deu a partir do momento em que as pessoas começaram a confundir os conceitos de práticas mágicas com a religião, originando verdadeiras heresias aos olhos da Igreja. Desta forma, a perseguição foi oficializada em 1484, quando o Papa Inocêncio 8 publicou uma bula que passou a tratar todos os praticantes de bruxaria como hereges.

A Inquisição levou a uma verdadeira caça às bruxas, principalmente no começo do período moderno, do século 14 ao início do século 18. Milhares de pessoas foram torturadas e condenadas à fogueira pelo crime de feitiçaria. Praticamente todas as vítimas eram do sexo feminino, camponesas miseráveis que viviam sozinhas e faziam uso de remédios naturais e ervas medicinais para curar doenças.

Justamente por ocuparem uma posição alienada na sociedade da época, sem família ou posses, tornaram-se alvos fáceis da fúria da Inquisição. Bastava uma verruga ou cicatriz para serem apontadas como diabólicas, torturadas e obrigadas a confessar suas ligações com o mal. A maioria delas acabavam sendo queimadas vivas em praça pública.

O fim do período de caça às bruxas se deu a partir do século 17, quando diante de rumores de que sua esposa estaria ligada à prática da feitiçaria, o rei francês Luís 14 logo tratou de baixar um decreto proibindo aquele tipo de perseguição, iniciativa que acabou sendo copiada por vários monarcas europeus posteriormente. No entanto, podemos dizer que as execuções só acabaram completamente mais tarde, durante o século 18.

Agora, mais de dois séculos após o término da caça às bruxas, é que podemos ter uma noção das suas dimensões. Neste final de século e de milênio, o que se nos apresenta como avaliação da sociedade industrial? Dois terços da humanidade passam fome para o terço restante superalimentar-se; além disto há a possibilidade concreta da destruição instantânea do planeta pelo arsenal nuclear já colocado e, principalmente, a destruição lenta mas contínua do meio ambiente, já chegando ao ponto do não-retorno. A aceleração tecnológica mostra-se, portanto, muito mais louca dos inquisidores.

Ainda neste fim de século outro fenômeno está acontecendo: na mesma jovem rompem-se dois tabus que causaram a morte das feiticeiras: a inserção no mundo público e a procura do prazer sem repressão. A mulher jovem hoje liberta-se porque o controle da sexualidade e a reclusão ao domínio privado formam também os dois pilares da opressão feminina.

Assim, hoje as bruxas são legião no século XX. E são bruxas que não podem ser queimadas vivas, pois são elas que estão trazendo pela primeira vez na história do patriarcado, para o mundo masculino, os valores femininos. Esta reinserção do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a não-competição, a união com a natureza, talvez seja a única chance que a nossa espécie tenha de continuar viva.

Acreditamos com isso que as nossas bruxinhas da Idade Média podem se considerar vingadas! 

O Martelo das Feiticeiras  - Manual das Bruxas (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora