Bulgária, dezembro de 1503
A pequena Nádia passou a madrugada se revirando na cama que dividia com as irmãs no único cômodo da casa. Seus longos cabelos castanhos formavam uma mancha escura que se misturava aos cabelos cor de palha das irmãs Sara e de Dália. As duas loiras eram rechonchudas como a mãe, e até mesmo Dália, que só tinha 5 anos, já possuía algumas das formas grandes da mãe. O corpo magro de Nádia sempre era esmagado entre os corpos das irmãs, principalmente durante as madrugadas frias quando elas se apertavam debaixo do cobertor de lã para se esquentar.
Filhas de camponeses, viviam em uma casa de madeira com um forno a lenha que servia para cozinhar as sopas pesadas que a mãe fazia e esquentar a casa. Ela se virou na cama e viu seus pais deitados no chão, perto do fogo.
– Ainda acordada? – Perguntou o pai com sua barba loira comprida.
– Ahn, estou com um pouco de sede... – As pernas longas e magras se arrastaram para fora do cobertor e do colchão, e a menina foi até a grande tina de madeira no canto. Ela fingiu beber goles da água gelada enquanto observava a família.
Não fora a sede que a acordara; a menina sequer chegara a dormir. O que revirava sua mente, acelerava seu coração e a impedia de relaxar era algo que descobrira aquela tarde.
Apesar do vento frio, as três meninas tinham saído para caminhar e aproveitar um pouco do fraco sol que aparecera. A tarde corria tranquila, até Nádia encontrar uma fita de cetim vermelha presa a um galho baixo de árvore. Para as meninas esse era um artigo de luxo, algo bonito com o qual poderiam enfeitar os longos cabelos e nenhuma delas abriria mão dele tão facilmente. Dália logo percebeu que não teria chance e apenas observou a discussão entre Nádia e Sara com olhos arregalados.
– Nádia, você sabe que essa fita vai ficar muito mais bonita no meu cabelo claro. Seu cabelo tem cor de lama, é um desperdício gastar a fita com você...
– Sara! Fui eu que encontrei a fita! Você é sempre tão injusta comigo!
– Injusta? Nádia, você nem devia estar aqui, nem faz parte dessa família. Não sei por que os meus pais se preocupam com você.
Nádia sentiu o ar ser expulso de seus pulmões. Sara sempre fora maldosa, mas ela finalmente colocara em palavras o temor que a Nádia tentava afastar quando olhava para sua família e buscava desesperadamente seus traços nos narizes, nos olhos, nos rostos do pai e da mãe, e falhava. Sua voz tremia de medo e de raiva por Sara ser tão cruel.
– Cala a boca, Sara! Você não sabe do que tá falando! Você... Você...
– Você é que não sabe de nada! Eu escutei a mãe reclamando com o pai que o dinheiro que eles receberam pra cuidar de você acabou, e como toda a sua família verdadeira está morta eles não sabem o quê vão fazer. Você não tem ninguém!
– Isso é mentira! – A voz de Nádia estava aguda quando ela respondeu automaticamente. Ela odiava dar a Sara a satisfação de ver que a tinha atingido de alguma forma, mas seu rosto queimava e ela não conseguia conter o tremor nas mãos.
– Eu tenho como provar! Aposto essa fita com você. – Sara apoiava as mãos nos quadris em uma imitação perfeita da mãe, deixando Nádia ainda mais irritada. A menina magra e morena se empertigou, levantou o queixo e estreitou os olhos de um jeito muito seu e, com uma audácia que nenhuma das irmãs tinha, respondeu:
– Eu aceito a aposta!
– Ótimo! A mãe está no celeiro. Você fica escondida enquanto eu falo com ela.
E Nádia seguiu a irmã, sem saber que as consequências dessaaposta seriam irreparáveis

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O Legado Petrova
VampirosDepois de séculos sobrevivendo como vampira, Katherine Pierce conhece Nádia, a filha que lhe foi arrancada dos braços logo após o parto quando ela era a jovem Katerina Petrova. Nádia Petrova não descansou em sua jornada, e essa é a história de como...