único.

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Eu me lembro de tudo. Lembro-me de quando seu nome apareceu em minhas mãos, na lateral do meu dedo mindinho. Parecia um sonho, ou uma piada de mau gosto. Como isso poderia estar acontecendo?

Ainda consegui esconder da minha mãe por uma semana, até que ela notou as marcas enquanto eu lavava a louça – a maquiagem tinha saído. Acho que ela nunca esteve mais feliz, sua única garota, entre três filhos, era finalmente uma mocinha. A marca com o nome de seu verdadeiro amor tinha surgido do lado esquerdo, o lado do coração, como é esperado. O melhor de tudo? Era ninguém menos do que o melhor amigo. Clichê, não acha?

O que ela não sabia, e que eu fazia questão de esconder debaixo daquele band-aid alegando ter sido um corte feio, era que na mão direita também tinha um nome. O nome do meu "inimigo" – adjetivo um tanto forte, confesso –, aquele que me faria mal de alguma forma, aquele a quem eu deveria evitar a todo custo e tomar bastante cuidado. Era o mesmo. Era você.

Você sempre foi meu ápice e minha ruína. E eu não precisava de marca alguma para saber disso.

Crescemos juntos, e eu te conhecia como a palma da minha mão, a mesma onde hoje seu nome está gravado, a contragosto. Nos anos da escola, você era o cara alto, barulhento e engraçado, popular por natureza. E eu era como sua amiga-irmã, vivia te dando bronca mesmo sendo mais nova que você por alguns meses, e você deixava porque simplesmente achava bonitinho, palavras suas.

Confesso que odiava seus gritos exagerados e achava suas mentiras ridículas, mas ainda assim não saía da sua cola. Porque no fundo, eu gostava de você. Gostava de ser a mais nova para variar, de ter alguém cuidando de mim e se preocupando comigo, igual eu fazia com meus irmãos. Isso não parou no ensino médio, e acho que esse foi o problema.

A puberdade foi chegando, e você começou a mudar diante dos meus olhos. Você foi ficando cada vez mais bonito, engraçado e popular. Eu não fiquei para trás, claro, mas ninguém tinha muita coragem de mexer com a filha do treinador de taekwondo, talvez nem você. Isso explicaria muita coisa.

De qualquer forma, ser sua amiga no ensino médio não foi fácil. Você tinha novos amigos, e as garotas estavam começando a te dar mais atenção, até faziam amizade comigo para chegar a você. Eu tinha sorte, porque você nunca me deixou de lado por ninguém. Na verdade, fazia questão de me apresentar a todos do seu grupo, porque isso significava que eu estava fora de alcance. Meu pai era seu fã por conta disso, e eu tinha vontade de rir daquilo tudo. Tanto trabalho assustando outros garotos e me protegendo deles, mas esqueceu do mais importante de todos: você mesmo.

Se a escola não foi fácil, a faculdade parecia impossível, e pelos motivos errados. Eu sentia sua falta, porque pesar de estarmos no mesmo campus, estudávamos áreas diferentes. Você era apaixonado pela música, e eu sonhava com a engenharia desde a infância, estávamos distantes em todos os sentidos.

Achei que seguiríamos juntos por um bom tempo, mas descobri da pior maneira que o que lhe faltava esses anos todos, era alguém com a mesma paixão que a sua. Aos poucos, fomos nos afastando, eu já não era mais sua prioridade, o que não era de todo um problema. Mas talvez tenha doído tanto porque você nunca deixou de ser a minha.

Para minha surpresa, mesmo com toda sua popularidade e novos amigos, você nunca deixou de ser o cara de sempre. Lembro daquele dia em que me ligou depois de tanto tempo que passamos separados; era a véspera do seu aniversário, e imaginei que você sairia para festejar e celebrar, mas você me ligou. Não só isso, você me ligou e me convidou para jantar com você e sua família na noite seguinte, como nos velhos tempos.

Foi minha última chance.

No mês seguinte, você me ligou de novo, queria apresentar alguém. Eu nunca imaginei que esse dia chegaria, ou melhor, eu nunca quis que chegasse. Mas lá estava você, namorando com alguém que não era eu, mas que tinha o mesmo nome que o meu. Quanta ironia.

Foi assim que você decidiu interpretar sua marca? Será que eu realmente nunca fui uma opção para você?

Mais uma vez, voltamos a nos afastar, agora era mais sério, realmente me doía te ver com outro alguém. Mas nem tudo estava perdido, era o que eu gostava de pensar, namoros não duram para sempre.

É claro, eu estava completamente enganada.

Agora deves estar citando seus votos no altar, para aquela que desde o início você acreditou ser sua alma gêmea. Ou talvez você simplesmente a tenha escolhido, ignorando completamente as crenças da nossa sociedade, e, principalmente, ignorando a mim.

Enquanto isso, eu estou fazendo rabiscos e cálculos no verso do envelope bonito que você me entregou, me convidando para sua cerimônia de casamento. De fato, você nunca deixou de ser aquele cara engraçado.

Meu dedo esquerdo está começando a arder, e a marca com o seu nome parece estar desaparecendo. Vocês já disseram ‘sim’? Que sejam felizes, de verdade. Não os desejo mal, apesar de tudo.

Ela não tem culpa de você a ter escolhido, e de qualquer forma, você protagonizava um outro personagem em minha vida também. Ficar com ela me causou dor, ser ignorada e trocada me causou dor, e nenhuma palavra que eu escreva será capaz de representar de forma tão específica.

Você me causou dor, Song Mingi, e agora eu sei que é por isso que seu nome também está marcado na minha mão direita.

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ateez roty.

para TiemiS,
a insistência em pessoa.

soulmate · song mingiOnde histórias criam vida. Descubra agora