restart - 2º capítulo

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- Soph ? Soph , estás a dormir ? Por favor , chegaste hoje à terra. Não podes ficar o dia todo em casa… - ouvi a Maddie dizer-me aos ouvidos.

- Não Maddie , eu não estou a dormir. Por favor , deixa-me sossegada. – disse rude ainda de olhos fechados.

- A ida para a cidade fez-te mal. Estás tão diferente… - a pontada de desilusão que senti na sua voz fez-me abrir o olho direito e olhar-lhe com um olhar arrependido. Não era a minha intenção falar-lhe como lhe falei.

- Desculpa Maddie. Vamos sair ? – perguntei e ela sorriu-me finalmente. O olhar de desilusão dela parte-me o coração.

À medida que ando pelas ruas , recebo elogios de como estou adulta ou de como estou bonita. Várias pessoas abraça-me e mexem-me no meu comprido cabelo enquanto dizem mentiras do tipo “estás cada vez mais linda”. Outras pessoas ficam a olhar para mim na tentativa de me reconhecerem ou de terem a certeza que sou eu , Sophia Fox , que ali estou finalmente depois de um ano sem me meterem a vista em cima.

As lágrimas teimam em sair quando passo pela minha antiga casa. Uma casa velha construida com grandes pedras cinzentas e com uma porta enorme de madeira que já à muito tempo que não é aberta. No jardim ainda está a minha árvore. Uma árvore com flores cor-de-rosa. Sentava-me debaixo dela a ler , a escrever , a conversar com a Maddie ou até aos beijinhos com alguns dos meus namorados de quando era mais nova. Era para lá que eu ia quando precisava de pensar e , uma vontade de lá voltar , de sentir novamente o cheiro a terra humida , a flores de primavera , uma vontade tão grande de lá voltar obrigou-me a correr até lá. 

- Soph ... - tentou dizer , mas eu rapidamente a interrompi. 

- Eu não estou a viver no passado. Só tive saudades. Sempre gostei de estar aqui. 

- Não foi aqui que curtiste com o Luke ? Oh meu deus , lembras-te da confusão que arranjaram ? A mãe dele andava à procura dele à umas duas horas e vocês aos beijos aqui ! - ela riu e eu acompanhei-a.

- E de quando fiz 17 anos e ia pegando fogo à árvore por estar tão bebâda ? Meu deus , a minha mãe quando me viu naquele estado ia-me partindo a cara. - desta vez fui eu que me ri e ela, por sua vez , acompanhou-me.

Um silêncio instalou-se entre nós mas muito rápidamente foi cortado por Maddie.

- Não sentes saudades da terra ? 

- Algumas. - respondi com indiferença. 

- Algumas ? Só algumas ? - insiste Maddie.

- Sabes , eu morro de saudades da terra. Das pessoas. Dos cheiros. Dos espaços. Mas eu não posso viver no passado. O meu presente e o meu futuro é na cidade. Tenho lá a faculdade , o meu emprego , os meus amigos , a minha vida. Tenho lá tudo. - disse deitando a cabeça no colo dela.

- Tambem tinhas tudo aqui na terra e nada te impediu de ires embora e de me deixares sozinha. - ela respondeu rude e eu estremeci. 

Oh Maddie , quando é que vais perceber que não saí daqui por escolha mas sim por uma necessidade ?

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