Bozo

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Christian e eu só temos uma disciplina em comum, por isso chamar sua a atenção não é tarefa fácil. Todos os dias, tento escolher o meu lugar em História das Ilhas Britânicas de modo a que haja uma hipótese de ele se sentar a meu lado. E, até agora, no espaço de duas semanas, as estrelas alinham-se exatamente três vezes e ele acaba de se sentar na mesa ao lado da minha. Sorrio e o cumprimento. Ele sorri de volta e diz olá. Por um momento, há uma força inegável que parece noa atrair um para o outro, como imã. Mas depois, ele abre o seu caderno ou olha para o seu celular debaixo da mesa, e isso significa que a nossa conversa fiada sobre o tempo chegou ao fim. É como se, naqueles segundos cruciais, um dos ímãs fosse virado ao contrário e o empurrasse para longe de mim. Não é antipático nem nada disso; mas não está muito interessado em me conhecer. E porque estaria? Não faz idéia do futuro que o espera.

Por isso, durante uma hora, todos os dias, o observo, tentando memorizar tudo o que posso, sem ter a certeza do que poderá me ser útil um dia. Ele gosta de usar camisas com botões, com as mangas enroladas casualmente à altura dos cotovelos, e o mesmo modelo de calças de ganga Seven com tons ligeiramente diferentes de preto ou de azul. Usa cadernos feitos com papel reciclado e escreve com uma esferográfica verde. Sabe quase sempre a resposta certa quando o senhor Erikson lhe faz uma pergunta e, quando não sabe, diz uma piada, o que significa que é inteligente, humilde, e divertido. Ele gosta de Altoids. De vez em quando, estende a mão para o seu bolso traseiro, retira para fora a latinha prateada, e enfia uma bala de menta dentro da boca. A mim, isso diz que ele espera ser beijado.

Relativamente a isso, Kay se encontra com ele na saída da sala todos os dias. Como se tivesse visto a forma como a aluna nova olhou para o seu homem no refeitório no primeiro dia, e ela não queira que ele seja novamente sujeito a isso. Por isso, só me restam os preciosos minutos antes da aula e, até agora, não há nada que eu tenha feito ou dito que tenha arrancado uma resposta significativa da parte de Christian. Mas amanhã é o dia das t–shirts. Eu preciso de uma camisa que inicie um diálogo.

– Não se preocupe com isso.– Wendy diz depois das aulas, enquanto experimento com uma série de t–shirts diante dela. Está sentada no chão do meu quarto, junto à janela, com as pernas dobradas debaixo de si, a verdadeira imagem da melhor amiga tentando ajudar a tomar uma decisão muito importante sobre moda.

– Deverá ser uma banda? – pergunto. Estendo uma t–shirt preta de uma digressão das Dixie Chicks.

– Essa não.

– Porquê?

– Confia em mim.

Pego uma das minhas preferidas, com um tom verde floresta com uma estampa de Elvis à frente, a qual comprei na viagem que fiz a Graceland há alguns anos. O jovem Elvis, a brasa do Elvis, inclinado sobre a sua guitarra.

Wendy emite um ruído que indica que é uma possibilidade.

Levanto uma camisola cor de rosa choque que tem escrito, TODOS ADORAM UMA MENINA DA CALIFÓRNIA. Poderá ser a escolha certa, uma oportunidade de jogar com o que eu e Christian temos em comum. Mas também entra em choque com o meu cabelo cor de laranja.

Wendy zomba.

– Acho que o meu irmão está planejando usar uma camisa que diz:

"Volta para a Califórnia".

– Que surpresa. Afinal, o que é que ele tem contra os californianos? – Ela encolhe os ombros.

– É uma longa história. Basicamente, o meu avô era dono do Lazy Dog Ranch, e agora o dono é um californiano rico. Os meus pais apenas o gerem, e Tucker tem dificuldade em controlar a sua raiva. Além disso, ofendeu Bluebell.

SobrenaturalWhere stories live. Discover now