devil.

redenção

Taehyung acordou. Seu corpo estava pesado e a cabeça girava, não reconhecia o lugar que estava, apenas tinha certeza que não era sua casa. Jazia largado no chão, olhou aturdido a sua volta e apenas viu quatro paredes brancas, a sua frente um grande corredor sem cor, não conseguia enxergar o que havia no final portanto continuava confuso. Tentou levantar-se mas seus músculos pareciam feitos de gelatina, sentia como se não tivesse controle próprio.

"O que aconteceu? Onde estou?" Não se lembrava de absolutamente nada, sua mente estava turva e não o permitia se lembrar. Por um momento achou ter sido sequestrado porém nem isso faria sentido, não tinha muito dinheiro e sua família não possuía nenhum dote. O que poderiam querer com ele? Sua respiração estava descompassada, conseguia ouvir o seu coração batendo rapidamente e suas mãos tremiam. Estava com medo. Medo do que poderia acontecer consigo ou com sua família.

Se esforçou para levantar novamente, dessa vez obtendo sucesso. Esfregou os olhos com as mãos afim de melhorar um pouco a sua visão, assustou-se quando viu uma figura masculina ao longe naquele corredor sem fim, pouco a pouco se aproximando. Deu passos apressados para trás dando de costas com a parede, o homem se aproximava cada vez mais até que conseguisse ver o seu rosto. Ele o conhecia? Tinha certeza que não. Parecia ter mais ou menos a sua idade e altura, cabelos negros e pele pálida. Trajava-se de branco, as calças sociais estavam justas em torno de suas pernas e o paletó delineava sua cintura fina. É, se lembraria se o conhecesse.

- Você acordou. - piscou algumas vezes, tentando familiarizar-se com a voz do desconhecido. - Eu estava esperando para conversar com você.

- Quem é você? O que aconteceu comigo? - e o garoto sorriu ladino. Sentiu-se sendo analisado minuciosamente pelo outro, por pouco suas bochechas não coraram por causa do constrangimento.

- Não se lembra do que aconteceu? - negou. - Você sofreu um acidente. Foi atropelado por um bêbado.

- E eu estou no hospital?

- Não, Taehyung. Você morreu.

"Eu morri?" Foi tomado por uma vontade súbita de gargalhar. E foi isso que fez. Como assim havia morrido? Não era possível! Ria alto naquele momento, com as mãos no estômago enquanto jogava a cabaça levemente pra trás, ria sem controle. Dos seus olhos lágrimas começavam a despertar e não sabia dizer se a causa era sua risada ou sua memória que voltava aos poucos. Lembrou-se do barulho de pneus derrapando no asfalto, lembrou-se do baque contra o seu corpo e da dor que sentiu antes de apagar ali naquela estrada suja.

Suas pernas cederam e acabou sentado no chão novamente, não podia acreditar no que estava acontecendo. E sua mãe? Seu irmão? Eles ficariam bem sozinhos? Estava preocupado com o que poderia acontecer a partir daquele momento. Não sabia se haveria uma nova vida, em um novo corpo, em uma nova família. Estaria ele no céu? Aquelas paredes brancas e corredor sem fim pareciam indicar isso.

- Não, você não está no céu. - só então direcionou sua atenção para o homem junto a si.

- Então que lugar é esse?

- Ah, Kim Taehyung. Eu estive esperando por você, sabia? - caminhou em direção ao corpo caído ali com passos curtos e suaves, quase como um desfile. Não conseguia desviar os olhos dele, era como uma obra de arte. - Aquele velho lá em cima dizia ter certeza ao seu respeito mas eu consigo ser bem persuasivo quando quero e, acredite, eu queria. Vocês seres humanos nasceram no pecado e morrerão nele, porém você está aqui pelo pecado de outra pessoa. Parece injusto, não acha? Talvez porque seja. Ele não costuma trabalhar com justiça, Taehyung, foi assim comigo e com toda a criação. - pegou o garoto pelo braço e o ergueu, ficando frente a frente. Levou uma das mãos até sua bochecha e acariciou o local, deleitando-se com a maciez. - Você é praticamente o garoto perfeito. Bom filho, bom estudante, bom cidadão. Estava sempre rezando pelos cantos, pedindo pela salvação. Acho que não funcionou tão bem já que está aqui comigo.