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Sorria.

   Não borre a maquiagem.

   Você deve ser a melhor, custe o que custar.

  Sempre.

   Passei a minha vida toda escutando isso. Seja de minha mãe, de meu pai, de meu empresário e por aí vai...

   Estou cansanda de todas as luzes, das fotos, brincos e sapatos, de cobrir meu rosto com egoísmo e maldade.

   Quero ser livre, quero um tempo apenas para mim.

   Quero ser eu.

   Maxon e America se casaram há uma semana. E desde então tenho que ouvir todo dia meus pais dizendo que sou um fracasso completo.

   Claro que não foi por falta de opção, pois a nova rainha me convidou para morar no castelo, mas quero trilhar um novo futuro.

   E é por isso mesmo que estou me mudando para Carolina.

   Minha avó mora lá. A senhora Julie - como é chamada por todos - sempre confiou em mim. Talvez o único membro da família. Mas nossas relações foram cortadas quando ela resolvera falar à minha mãe que o modo como ela me criava era absurdo, e que não queria que eu me tornasse uma pessoa como sua filha. Na mesma hora minha mãe simplesmente pegou suas coisas e foi embora, gritando em alto e bom som que ninguém iria interferir na criação de sua filha.

   E agora aqui estou eu, no aeroporto de Angeles, apenas com minhas malas, a confiança e eu.


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   Aqui estou eu.

   Carolina.

   Quando foi a última vez que vim aqui? Talvez quando viemos buscar America. Que irônico - parece que isso já faz uma vida inteira.

   Talvez a seleção tenha sido uma experiência de uma vida inteira.

    A primeira pessoa que avistei quando cheguei no aeroporto foi o motorista de minha avó. Ele pegou minhas malas e adentramos no carro.

    Passei o caminho inteiro em silêncio, com a cabeça apoiada no vidro da janela.

    E agora? Pensei. Como será minha nova vida daqui pra frente?

    O trajeto do aeroporto até a casa de vovó Julie não fora muito longo; em 10 minutos já aparecia sua casa em meio às outras construções da cidade.

    Assim que pus os pés dentro da casa, uma linda senhora de 70 anos apareceu com toda a elegância do mundo, a elegância que apenas uma Newsome poderia ter.

    - Celeste, querida! Quanto tempo!

    Vovó me abraçou e não pude deixar de sorrir de felicidade quando ela inclinou a cabeça e anunciou:

    - Já pedi à uma criada que preparasse seu quarto, sei que deve estar cansada da viagem.

    - Ah, vovó, que saudades. - Passei a mão em seu braço, como um gesto de carinho e completei: - Você sempre adivinha o que as pessoas precisam.

    Ela soltou uma risada.

    - Imagine, meu bem. Quero que descanse para depois poder me contar exatamente tudo sobre a seleção.

     Soltei algo parecido com um gemido - não sei muito bem, na verdade. Mas sabia que, quando a vovó Julie dizia tudo, era tudo mesmo. Nos mínimos detalhes.

     - É claro, vovó. Seria um prazer, mas eu realmente estou muito cansada da viagem, havia me esquecido do quanto exaustante é viajar.

     - É claro, querida. - Ela falou em tom compreensivo. - Pode ir descansar e tomar um banho, a senhorita Lily irá acompanhá- la. - Então ela virou-se para uma mulher que devia ter um pouco mais da minha idade, que até então eu não percebera a presença.

    - Olá, senhorita Newsome. - Ela fez uma reverência com a cabeça. - Acompanhe-me até seus aposentos.

     Depositei um beijo na bochecha de minha avó enquanto a criada pegava as bagagens.

     - Obrigada, avó - sussurei.

     - Não há de que, meu bem, sei que aqui você fará seu futuro.

     Senti algo no fundo do peito que me dizia que algo em suas palavras era verdade, então virei-me e segui a criada até minha nova suíte.

     Era linda, não tão grande quanto a que eu estava acostumada no palácio, mas linda do mesmo jeito.

     Quando Lily fui embora, soltei meus cabelos, tirei as roupas e a minha maquiagem.

     Me permeti aqueles minutos na banheira, com a água sobre o corpo, apenas com a minha presença.

     Um novo futuro está por vir.

building a new futureOnde histórias criam vida. Descubra agora