Hoje minha vida vai tomar um rumo diferente,eu posso sentir.Em alguns minutos eu estava em frente a uma fogueira no meio da floresta apenas sobrevivendo dia após dia,sem objetivo,sem sonhos,eu estava presa no meu próprio mundo de terror e isso era insuportável,mas essa mulher,mesmo estando em perigo,mesmo sentindo dor,mesmo sendo injustamente caçada,ela não demonstrou medo dos caçadores,ela demonstrou coragem e ousadia,e agora ela acariciava Lu com delicadeza e confiança como se simplismente não tivesse mais medo dele,eu queria ser corajosa como ela,senti uma leve tontura e fraqueza nas mãos,esqueci que estávamos no meio da noite.Hoje foi um dia cheio,precisávamos ir descansar,olhei para o céu fechado e logo deduzi que iria chover,mas poderíamos nos abrigar na toca da alcateia de Lu,então olhei para Kaly e perguntei:
—Já montou a cavalo?
—Uma vez há muito tempo.Por que?
—Porque Lu vai te levar pra toca,e você vai montada nele.
—O que?Como assim eu vou montada nele?
Enquanto ela falava com um tom curioso,eu fui ao lado de Lu e fiz um gesto para que ela me seguisse,ela fez uma cara como se não podesse acreditar que aquilo estava realmente acontecendo,ela se aproximou e disse:
—Eu nunca montei um lobo.
—E daí?você já montou a cavalo.
—Foi há muito tempo e eu montei em um cavalo,não um lobo.
—Você vai ficar bem,só precisa se segurar.
—Só precisa se segurar!?Você já montou um cavalo?
—Eu não,mas já montei um lobo.
Quando falei isso ela ficou sem resposta e era óbvio que ela não vai montar em um lobo sozinha,ela precisava que eu fosse junto,mas eu precisava pegar o saco com minha coisas que eu deixei para trás quando vim atrás dela.Já que ela precisava de ajuda eu me virei para Lu,passei o braço direito entre o arco para prender-lo no meu ombro,coloquei as mãos sobre ele e segurando o seu pelo pulei e subi em suas costas.Já em cima de Lu,eu olhei para Amir que estava parado olhando para mim atenciosamente e ordenei:
—Amir!O saco,vai buscar!
Ele obedeceu e começou a correr seguindo em direção ao caminho que tínhamos vindo,então me dirigi a Kaly e falei:
—vem,eu te ajudo.
Ela parecia ter sentido o pesar do cansaço e falta de sangue naquele instante,pois ela respondeu apenas assentindo com a cabeça levemente e ergueu a mão direita com dificuldade,ela piorou repentinamente,a puxei com a mão esquerda para cima de Lu e disse:
—Vamos pra casa Lu!
Ao me ouvir ele se virou em direção a montanha e soltou um uivo rápido mandando os outros lobos voltarem para toca,todos eles rapidamente abocanharam os membros que tinham arrancado dos caçadores e começaram a correr em direção a montanha,Lu esperou alguns segundos até começar a correr,ele estava garantindo que não ficou nenhum lobo para trás,mas logo abaixou o corpo e em um salto para frente começou a correr,eu tinha esquecido quão rápido os lobos são,quando Lu correu parecia que só o movimento dos seus músculos nos arremessaria para longe se largarssemos o pelo dele.Subimos até o pé da montanha chegando a uma área mais aberta,as árvores não eram tão grandes para nos cobrir com suas sombras,a fraca luz do luar dentre as nuvens iluminava levemente o nosso caminho,no pé da montanha,tinha um buraco com uma entrada grande,poderia passar uma carroça pela entrada sem problema,era uma caverna,que era utilizada como toca dos lobos gigantes,assim que nos aproximamos senti uma nostalgia incrível,eu vinha aqui quando eu ainda morava com meu professor.Ele me trazia aqui todo mês para visitar os lobos,ele tratava dos lobos doentes ou feridos enquanto eu brincava com os filhotes ao lado de fora,por algum motivo ele não me deixava entrar,dizia não ser seguro por causa da territorialidade dos lobos.Ele me dizia que nunca teve um amigo tão leal quanto o antigo alfa Lucius,pai de Lu,ele dizia que Lucius salvou a vida dele mais de uma vez e por isso era sua obrigação tratar dele e dos lobos da sua alcateia,eu achava que o professor era um velho alcoólatra que sabia de coisas estranhas e não tinha o que fazer.até que um dia,em na visita mensal a toca,ele saiu mais rápido do que o de costume me pedindo nervoso para esperar-lo na frente da toca e partiu correndo em direção a nossa cabana,ele parecia preocupado com algo,ele voltou poucos minutos depois com o livro que ele guardava na instante de madeira da cabana em que morávamos,ele entrou na caverna já abrindo ele como se fosse de sumo importância que ele lesse aquilo,me aproximei da entrada da caverna curiosa sobre o que estava acontecendo,e escutei ele falar em outra língua algo como:
"In Deo vitae et lucis, ut sanitatis et virtutis extollunt ut iubes."
Ele estava repetindo isso rapidamente enquanto ele começava a falar com um tom choroso,eu nunca vi o professor chorando,fiquei preocupada,em 3 anos,o professor nunca derramou uma única lágrima.Eu me aproximei mais da caverna e olhei para seu interior,as paredes eram de alguma rocha que parecia ter sido derretida,como se ela tivesse sido formada pela queda de um fogo do céu,no fundo da caverna iluminada por uma vela,vários lobos gigantes deitados ao redor de outro lobo aparentemente maior,que estava com a cabeça apoiada no colo do professor enquanto ele segurava seu pelo com a mão e com o livro aberto ao seu lado,lia novamente chorando:
"In Deo vitae et lucis, ut sanitatis et virtutis extollunt ut iubes.
Após repeti isso mais algumas vezes ele finalmente parou,respirou fundo e com força agarrou o pelo do lobo e desesperado o puxou até seu peito de maneira possessiva e amargurada,os lobos se ergueram e soltaram um uivo pesado e triste de luto.Foi a última vez que ele entrou na caverna.Eu entendi o que realmente houve ali alguns meses depois quando ele começou a falar sobre a magia,ele tentou usar magia branca para salvar o seu amigo Lucius que tinha sido gravemente ferido por uma rupta,uma criatura demôniaca que vivia na floresta ao oeste da cidade amaldiçoada de Prohibitos.Ele falhou em salvar seu amigo por causa do alcoolismo,ele disse que o álcool o deixou mole,desde então ele nunca mais bebeu.senti as lágrimas se acumulando nos meu olhos,mas não poderia chorar agora,eu ainda tinha que me redimir do meu pecado se quisesse o direito de chorar por ele,o meu erro o levou a morte e isso não poderia ser perdoado,mas agora eu ao menos poderia orgulhar-lo mesmo que uma única vez,eu iria cumprir com seu sonho,eu iria provar que a ordem dos templários de Sanctus é uma farsa.
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(Beta)Revolta dos Caídos:A Arma do Paraíso
FantasyEsse livro vai contar a história de Yris,Alva,Kaly,Maia e seus companheiros,em um mundo sem ordem que está a beira de um colapso provocado por forças desconhecidas,dominado pela ganância dos mais fortes.Vamos ver como essa meninas irão reagir quando...