OS MENINOS DO TERMINAL

3 1 0
                                    



Talvez você não acredite, ou diga que foi tudo um sonho, mas... eu não sei bem o que aconteceu. Espero que quem esteja lendo isso entenda e possa me explicar um dia. Mas tudo meio que aconteceu um dia que eu estava muito atrasada, isso era o ano de 1983, eu tinha por volta de 25 anos e estava indo participar de uma gincana com alguns colegas, iriamos ganhar um prêmio caso chegássemos em primeiro nas provas, e eu gosto de prêmios. Essa gincana tinha praticamente todo ano, pelo que me contaram, virou tradição desde 1933 mas um dos anos, o de 1958 não aconteceu, nunca me falaram o por que, mas nunca me importei muito, até por que foi o ano que eu nasci, não teria por que eu participar dela.

Eu já estava atrasada para a gincana, por que eu precisava de uma maldita peça vermelha que pediram a mim, eu consegui arrumar a tal peça, não lembro como ela era, talvez um tipo de segurador. No meio do caminho enquanto eu estava correndo entre os carros encontrei minha irmã, um pouco mais nova do que eu.

– Suzan, o que está fazendo aqui? -zzzz perguntei – não devia estar na escola?

– Que? Escola? Sammy – o meu apelido era esse, mas meu nome mesmo era Samantta- hoje é sábado, não tenho escola, se esqueceu?

Eu parei de correr, e ja estava ofegante – é verdade, me desculpe, eu estou muito atrasada, minha cabeça está meio longe. Hm, você quer ir junto comigo? Quer ver a gente ganhar aquele prêmio? Hm?

– MAS É CLARO – gritou ela – é muito longe daqui?

– Mais ou menos, mas temos que correr, tudo bem?

– Tudo sim, mas só tem uma coisa.

– Iiih lá vem, o que foi?

– Me compra um cigarro ali naquela loja? Por favor – ela apontou para a loja que estava bem atrás de nós.

– Cigarro? Você fuma Suzan? A mamãe sabe disso?

– Não vai saber se você não contar, vamos, é só isso que to pedindo.

Não gostei nada da ideia mas ela tinha quase 18 anos, então ela podia fazer o que quisesse – ta bem, só não reclame quando você morrer antes de mim com problema no pulmão.

Eu fui comprar para ela o cigarro, e estava muito caro por sinal.

– Você vai ter que me pagar isso outro dia viu? Saiu muito caro.

Ela tira um cigarro e acende com o isqueiro pendurado na loja e solta uma fumaça enorme – Aaah é chic Sammy.

– Claro, claro, agora vamos logo, temos que pegar o ônibus no terminal.

Nós começamos a correr até o terminal, no caminho um dos ônibus quase me atropelou, dei um xingão no motorista pela besteira, mas chegamos, durou mais ou menos uns 3 minutos até chegarmos ao terminal. Estávamos quase morrendo, cansadas, mas o ônibus que pegaríamos não estava lá ainda, então decidi ir ao banheiro.

– Suzan, fica aqui, que só vou no banheiro ta bem? - ela acenou a cabeça que sim.

Daqui para frente eu não sei exatamente o que aconteceu...

A minha memória sempre foi meio estranha, mas eu lembro de ter visto dois meninos sozinhos perto do banheiro, um deles estava totalmente de branco e o outro eu não lembro, pareciam perdidos, sempre olhando para os lados e nunca achando alguém. Tinham por volta de 4 ou 5 anos, eram praticamente bebês.

– Ei meninos, vocês estão sozinhos? Onde está a mãe de vocês?

Como eles tinham pouca idade, foi meio difícil entender, mas falaram algo como se a mãe tivesse ido embora ou morrido e eles viviam com o pai. Mas o pai não estava ali, só eles. Eu olhei por um instante tentando ver algum homem que pudesse reconhecê-los mas quando eu olhei eles de volta, um tinha sumido.

– Pra onde seu irmão foi? - eu segurei na mão dele e fui andando pelo terminal mas a minha visão começou a ficar muito estranha, tudo que eu estava vendo estava se distorcendo, trocando de objeto, de cor, tudo estava mudando. Quando me dei conta estava em um corredor quase infinito, estava muito claro, as luzes eram todas de teto, e elas começaram a apagar uma a uma desde lá no fundo, e eu corri em direção oposta, eu não sabia o que estava vindo, nem o que estava acontecendo. Até que a escuridão me alcançou e eu não vi mais nada.

De repente eu volto para o terminal no mesmo lugar que eu achei as crianças, o menino de branco apareceu com mais duas crianças. Eu não achei nada normal aquilo e fui correndo desesperada até a saída, mas um senhor de rua me parou e começou a contar uma história, mas eu estava quase pirada, eu acabei xingando ele e saindo correndo para longe esbarrando em todo mundo e de novo tudo começou a se distorcer.

– Ah não, de novo nã..

Agora eu estava em um cemitério. Parecia muito o cemitério do nosso bairro, mas mais vazio e quieto que o normal. Fiquei andando pelos túmulos por um tempo até ver um mais de fundo sendo desenterrado por alguém, imediatamente eu me escondi atrás de uma árvore que tinha perto.

Reparei que tinha uma mulher fumando perto do túmulo, não parecia muito velha, talvez 35 anos. Duas crianças saíram de dentro do túmulo e a mulher começou a falar com eles, perguntando como tinham morrido um delas tinha sido acertada por uma flecha. Por algum motivo estranho ainda dava para ver a flecha dentro dele. A mulher começou a chorar e abraçou as crianças bem forte, mas um homem apareceu e tudo começou a ficou embaçado e eu desmaiei.

– Olha a gente aqui seu desgraçado, não sabe dirigir essa coisa? HM?

Eu voltei para o quase atropelamento do ônibus, mas eu lembrei tudo o que aconteceu. Suzan estava comigo, nós paramos no terminal. O que foi tudo aquilo? Eu resolvi ir no banheiro, avisei Suzan e fui, mas os meninos não estavam lá, cheguei a perguntar para algumas pessoas que estavam andando por ali, mas todas disseram que não viram nenhuma criança. Eu fiquei com muito medo e fui direto para o banheiro. Estava ofegante ainda, fiquei de frente para o espelho e a pia, joguei um pouco de água nos olhos e me olhei no espelho, e por um relance eu vi mulher do cemitério no meu reflexo, e o espelho quebrou no meio.

Eu saí correndo daquele lugar e encontrei minha irmã. Depois disso, nunca mais aconteceu...

Compilado de HistóriasWhere stories live. Discover now