na estante

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Faz meses que estou obcecada por isso. Por ISSO e não por ELE. Obcecada pelo sentimento de estar ao seu lado, de sentir seus olhos tocando minha pele, me queimando por dentro. Por meses, eu evitei me distanciar das lembranças dos nossos momentos mais íntimos, como se tivessem sido tão reais para ele como eles foram para mim.

Ele me encontrou, me colocou em sua estante e esqueceu de mim. Todos os dias eu espero que ele se lembre, que me procure, porque eu ainda estou la. Seus olhos ainda me perfuram de vez em quando, nos momentos em que ele deseja um dos objetos que me cercam, e me encontra perdida ali, em uma das prateleiras coberta de pó, sozinha. Mas não é suficiente, eu preciso disso mais vezes, eu preciso me sentir desejada também e não apenas encontrada por acaso.

Dediquei meus últimos meses sentada em sua estante, observando-o de longe e esperando que ele se recordasse dos beijos como eu recordava todos os dias, mas meu desejo de ser desejada não se realizou. Eu estou pulando da estante, e fugindo de sua casa, eu não esperarei mais. Eu sei que vou me machucar ao atingir o chão, mas não me importo, eu só preciso sair daqui, me libertar finalmente, eu vou me recuperar da queda.

Se você se lembrar de mim, eu já terei ido, mas procure na sua estante, porque você pode achar mais alguém que você esqueceu ali.

Enquanto isso, eu não espero encontrar outra estante para ficar, mas sim, montar a minha própria estante, com muitas prateleiras para que, quem sabe um dia, eu esqueça você ali também.

Pequenos sentimentosOnde histórias criam vida. Descubra agora