Bem, quando criança, eu falava principalmente dentro da minha cabeça.
Eu tive conversas com as nuvens, os cães e até com os mortos. As palavras dentro de mim me pesavam tanto que minha língua ficou revestida de chumbo. Eu simplesmente não conseguia fazer minhas palavras fazerem sentido para os outros.
Se você só ouvir com os ouvidos não irá me compreender.
Passava as noites organizando as nuvens e estrelas do jeito que eu quisesse. O vento me contava os sonhos de vidas distantes e eu gostava de ouvi-lás. Gostaria que eles se tornassem realidade enquanto meus pais dormiam em camas separadas e eu me perguntava o porquê.
Eu era apenas um fantasma em cima da cadeira e meu pai me considerava apenas uma cruz que tinha que suportar. Abria a janela do meu quarto e ficava olhando minha mãe estender as roupas no varal e, se ela me visse, tentaria manter o vazio... de seus olhos.
Então, um dia frio, vesti-me sozinho e arrumei minha mochila pequena com tudo que eu tinha. E na minha cabeça, eu disse "adeus", então eu tinha ido embora no encalço do desconhecido. Então meus pais poderiam ter um nova vida própria para que talvez eu pudesse encontrar alguém que ouvisse as palavras que eu nunca havia dito.
