Capítulo 2

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Oito meses e contando. Diana não conseguia passar um único dia sem lembrar de Marcela, da sua presença, seu cheiro. As noites eram ainda piores, seus soluços ecoavam pela casa e seus olhos na manhã seguinte denunciavam a mais uma noite ruim. Por vezes pensou em buscar uma terapeuta, pesquisou diversas vezes que poderia estar deprimida, por outro lado, sentia exagero, afinal, ela saía para fazer compras, trabalhava, estava vivendo.

Com três meses Diana começou a pensar que talvez não merecesse a felicidade, seu pensamento seguia, já não parecia doer, pensou que talvez aceitando a idéia de que não merecesse a felicidade, viveria melhor, claro, era isso. Camila, sua amiga no trabalho, estava sendo sua espécie de braço esquerdo e direito desde então, Diana não conseguia confiar seus sentimentos a nem mesmo sua irmã que também era sua amiga mas estava distante.

Camila evitava lamentar a situação de Diana, ao contrário, por vezes lhe enchia a paciência fazendo-a sorrir, Camila era doce, essa havia sido umas das razões para que, inicialmente, se dessem tão bem.

- O que anda fazendo, Diana?

- Esperando o último paciente, quero minha cama. — Falava sem ânimo mas que não causou estranheza a Camila que revirou os olhos.

- Como não sou muito amante de festas, vamos assistir meu programa favorito essa noite. Não, Diana, não foi um convite.

Camila disse já saindo da sala fazendo Diana sorrir. Por sorte ela respeitava seu espaço, mesmo que Diana soubesse que ela se fazia mais presente pela amizade que tinham, ela sabia de limites, por vezes para deixar a Diana sozinha em meio a lágrimas, dormia na sala, mas não ia de sua casa até vagarosamente ver a Diana caminhar por alí e deitar a cabeça em suas pernas.

Enquanto terminavam de assistir ao programa de concursos em acertar preços, Diana levantou-se indo até a cozinha, ainda ria da reclamação de Camila com a tv.

- Você parece uma velha! — Diana quase gritou da cozinha pegando pipoca.

- Vou denunciar você ao estatuto do idoso! Temos a mesma idade, Diana.

- Vinte e oito anos, não sei se quero fazer vinte e nove amanhã. — Sentou do lado de Camila que deu uma leve palmada em suas pernas.

- Você sabe que não vou deixar você presa aqui, não é? — Ela disse um jeito carinhoso mas logo voltou ao seu habitual. — Amanhã poderíamos passar o dia na fazenda dos meus pais.

- Não sei se tenho ânimo para vê-los amanhã, Camila.

- Eles não estarão lá, estão em uma terceira lua de mel. Ah, vamos! Você adora natureza, cavalos e lá tem tudo isso.

Combinaram o dia seguinte sem já tanta negação da parte de Diana, o que de certa forma, alegrou a Camila que naquela noite, optou por voltar para sua casa, queria preparar o que levaria. Ao ficar sozinha, Diana colocou um filme, lembrou de quando, com pouco menos de um mês do término, foi o aniversário de Marcela.

Flashback on

Como quase todos os dias desde que Marcela havia ido embora, naquele em especial Diana chorava ainda mais ao lembrar dela, não sabia o que fazer, se ligava, se mandava mensagem ou se o melhor era não fazer nada. Camila ao ouvi-la por telefone, saiu da fazenda de seus pais onde também trabalhava e foi fazer companhia a sua amiga.

- Você já deve estar cansada de me ouvir chorar. — Diana disse saindo do banheiro após lavar o rosto enquanto Camila parecia checar seu celular.

- Claro que estou cansada de ouvir você chorar, por que acha que saí da fazenda dos meus pais e dirigi a noite? Lógico que foi por aquela lasanha que só você sabe fazer! — Diana gargalhou, ainda que com seu rosto inchado. — Quê? Tenho fome, eu mereço também.

- Anda, vamos lá na cozinha preparar essa lasanha.

Naquela noite, somente por alguns curtos instantes, Diana voltava a lembrar de como estaria Marcela. A companhia de Camila parecia de outro mundo e mesmo gostando de ficar sozinha, sua presença nem de longe era um incômodo.

- Dorme lá no quarto. — Diana falava assim que o filme acabou.

- Eu não, provavelmente você não resistiria a mim. Fiz as unhas hoje e fiquei mais atraente, sabia? — Outra vez Diana ria sem controle, até a própria Camila ria de si. — Olha, eu vou dormir sim, mas você sabe que não vou e nem posso segurar seus braços para evitar o quer fazer, não sabe?

Diana confirmou com um gesto e respirou fundo. — O que você faria?

- O que te deixar em paz. Se vai se sentir melhor, envia uma mensagem e pronto. — Ela disse com alento tocando na ponta do nariz de Diana e logo foi para o quarto, queria deixá-la a vontade. Diana pegou seu celular, abriu a última conversa com Marcela, quis chorar outra vez mas não o fez.

|Lembrei que hoje é seu aniversário então... Espero que esteja tendo um dia legal. Parabéns.

Diana enviou. Marcela não a respondeu.

Flashback off

Camila acabara de estacionar o carro na fazenda de seus pais, estava quente naquele dia, elas conseguiram chegar algumas horas antes do almoço, queriam aproveitar ao máximo.

Educadamente Camila apresentou aos únicos dois funcionários antigos com acesso direto a casa, Diana estava encantada com o verde do lugar. Logo entraram, se acomodaram em quartos separados somente por uma porta interna e logo saíram para montar. Camila mostrava os lugares sem pressa. Mostrou os gados, os cavalos, as plantações e por último, um lago com uma cachoeira pequena no lugar.

- Eu corria para esse lugar quando pequena, aqui só se houve a água e os pássaros.

- Podemos descer? — Camila desceu primeiro ajudando a Diana em seguida. Ela observava como sua amiga fechava seus olhos como se quisesse buscar a energia daquele lugar, a vida, se fosse mais específica. — Preciso entrar nessa água, vem comigo, é meu aniversário e eu posso pedir isso.

Camila fingiu impaciência. — Se alguém ouve isso até acredita mesmo que só faz isso no seu aniversário. Me ajuda aqui com esse vestido.

Diana desabotoava o vestido de Camila, observou como sua pele era bonita e afastou mais seus cabelos.
- Não vem ninguém aqui?

- Tranquila. Somos só nós. — Ela falou tirando o vestido, ficando agora só com suas peças íntimas, foi a primeira a entrar na rua enquanto, timidamente, Diana fazia o mesmo.

Camila parecia ter uma espécie de dom para deixar Diana a vontade, logo ela que costumava ser tímida, parecia já não sentir essa necessidade com Camila. Essa que por sua vez, evitava olhar diretamente para Diana, sabia de sua timidez e a respeitava demais para qualquer outra coisa. Elas banharam alí por horas, saíram pela fome que sentiam.

- Coloca isso, Diana, você tá tremendo. — Sua amiga lhe entregava uma manta que usava antes.

- Não, não posso aceitar, você vai sentir frio.

- Sou acostumada, use.

- Acha que podemos voltar no mesmo cavalo? Assim nem eu e nem você teríamos risco de congelar na volta. — Camila sorriu com doçura para Diana e lhe deu a mão para que subisse. Elas voltaram um pouco mais rápido, ora parando, ora não. — Está indo muito rápido, Camila!

- Eu sei, é que gosto que me abrace como está fazendo agora. — Ela disse e logo sorriu.

- Eu vou apertar você então! — Assim Diana fez e Camila não segurou o riso, alguns instantes depois, voltou a diminuir o ritmo até sentir a leveza de Diana ao encostar a cabeça deitando em seus ombros, ainda abraçada a ela. Camila então soltou uma das mãos para tocar nas de Diana como um gesto de carinho até chegarem na casa.

Mas e se...Onde histórias criam vida. Descubra agora