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(...) I don't care if heaven won't take me back (...)

Os Lima jantavam o peru feito no forno por Dona Roberta aquela noite, a família inteira havia se sentado à mesa para a refeição, e o hábito vinha de muito tempo e, mesmo com os filhos adultos, isso não mudava. Júlia, de 15 anos, era a filha do meio e escolhia entre salada e verduras enquanto o caçula, Carlos, de 11, se recusava a sequer escolher. Roberta voltou-se ao marido, os olhos cor de mel trazendo toda sua impaciência com a teimosia do filho. Felipe, o mais velho, de 21, ignorava toda a cena e já comia o que havia colocado no prato.

– Luciano, se resolva com Carlos. Já cansei. – Disse a mulher, servindo-se.

Roberta, Júlia e Felipe estavam acostumados à situação, já não acompanhavam para saber seu desfecho: era praticamente certo que o mais novo prolongaria o castigo de refeições anteriores.

Podia-se dizer que apesar da situação, a paz prevalecia e a refeição estava realmente saborosa. Roberta viu o filho mais velho sentar-se despreocupado e alheio às discussões já tão comuns pela segundas vez quando Carlos cedeu aos olhares e resolveu dar a primeira garfada.

Lá fora, o céu nublado escondia as estrelas e as nuvens espessas quase faziam sumir a Lua que lá estava escondida. O vento era frio e rápido, fazendo os galhos das árvores sacudirem e as folhas secas caírem enfeitando o chão de terra batida do terreno dos Lima e até dos demais vizinhos a quilômetros de distância. Não muito distante do casarão, o milharal alto acompanhava a ventania, mantendo-se independente da força que era exercida ao ser levado de um lado a outro, mas não teria como se manter contra a luz que surgiu, distante, cortando o céu.

Atravessando nuvens escuras e iluminando o breu lá do alto, o grande feixe de luz atravessou, vindo do sul, deixando seu rastro para trás durante a descida, até afundar no terreno dos Lima, causando uma grande explosão e queimando o resistente milharal até então. O estrondo fez Roberta saltar da cadeira enquanto Luciano correu para fora de casa seguido dos filhos.

Indo por último, a mulher viu de longe o fogo que diminuía gradativamente e o que passava a dominar o ambiente era apenas a fumaça.

Luciano ordenou que os filhos ficassem com a mãe que, mesmo curiosa e preocupada, permaneceu onde estava, segurando os mais novos pelos ombros perto de si.

– Vou ver o que foi isso. Fiquem aqui, por favor. – Pediu Luciano.

O homem que beirava os cinquenta foi até o celeiro e saiu de lá empunhando sua espingarda carregada entrou na camionete e sumiu milharal adentro em poucos minutos.

Quanto mais se aproximava, contradizendo o esperado, mais frio ficava. O milharal por todo o caminho percorrido havia sido queimado e destruído e era por ali que Luciano passava até chegar à cratera formada. Era grande, mas não como ele havia imaginado. Alguns pontos ainda queimava por ali, o chão estava tudo e tão reto que o fez questionar se era certo estar assim. Não tinha qualquer ideia. Pedaços estranhos rochosos estavam espalhados, pareciam brilhar, mas optou por manter distância e apenas olhar de longe tudo que não conhecia. Aquelas rochas, principalmente. Não muito distante de onde estava Luciano, deitada nua e aparentemente inconsciente, havia uma mulher.

x x x x x

Instintiva e naturalmente, Luciano correu até ela, a espingarda largada no chão e o desespero estampado em seu rosto até estar perto o suficiente para constatar que: ela estava intacta. Tirando algumas partes sujas de terra e cinzas, a mulher não apresentava quaisquer ferimentos visíveis.

– Oi, você está bem? Consegue me ouvir?

Ele correu até a traseira da camionete e pegou o grande pano que usava para cobrir as motos, convenientemente estava recém lavado. Cobrindo a mulher, pegou-a no colo e levou para o banco traseiro do automóvel. Ignorando todo o cenário, voltou para o casarão.

Conhece a Lua?Where stories live. Discover now