O Elo Perdido

Três

A pior parte foi quando meus pais chegaram. Delegado Francis me fez ir até o hospital dar uma checada no ferimento da bala. Reclamei dizendo que não era necessário, mas acabei cedendo.

_ Tchau, beijo _ digo, desligando o celular. Era Jack morto de preocupação. Disse que estava pegando estrada de volta, só por isso. Ele passou uma semana na capital, foi pegar seu diploma de direito. Vai demorar apenas algumas horas até ele chegar.

_Você foi muito corajosa _ a enfermeira Kim comentou, enquanto conferia meus batimentos cardíacos. Sério Ana, você conhece todo mundo do hospital? Interrompi meus pensamentos quando vi minha mãe atravessar o salão.

_ Ana, meu amor _ ela disse ao me abraçar. _ como você está? Está ferida? O que hou...

_ Mãe! _ tentei acalmá-la pegando em seu ombro ao me afastar. _ estou bem, se acalma.

_ Ela levou um tiro _ Kim se intrometeu, o que fez me mãe arregalar os olhos. Fuzilei Kim e ela deu de ombros.

_ Mãe, eu posso explicar _ falei segurando o riso e com as mãos em frente ao corpo. Ela ficou parada, fechou os olhos e respirou fundo.

_ Fala _ disse.

_ Falar o quê? _ perguntei.

_ "Eu posso explicar'' _ ela me imitou com uma vozinha irritável e com as mãos em frente ao corpo e igual eu fiz.

_ Ei! _briguei. _ eu não falo assim! _ ela ficou parada e cruzou os braços esperando uma resposta.

_ Então?

_ Bem... _comecei. _ eu levei um tiro, nas costas e... Está tudo certo graças à Lena...

_ Quem? _ minha mãe perguntou.

_ Lena, a enfermeira que me ajudou. Ela é tão legal, mãe, cuidou direitinho do ferimento e ainda tentou... _olhei para minha mãe, ela estava tensa e pensativa.

_ Mãe, o que foi? _ perguntei.

_ Bem, é sobre isso que quero falar _ fiz cara de desentendida _ os bandidos invadiram a casa da enfermeira e... _ ela engoliu em seco _ eles a assassinaram...

De repente tudo veio à tona. Minha cabeça virou um caos.

Morta?

Kim correu pros braços de minha mãe chorando desesperada. Mamãe dando palavras de conforto. Lembrei daquela cena. Eu consolando a princesa pela sua perda. Deixei as lágrimas caírem.

De volta em casa fui direto ao quarto. Muitas coisas estavam confusas na minha cabeça. Muita coisa para um dia só. O dia do meu aniversário. Entrei no quarto e dei de cara com Anne.

_ Que susto garota! _ exclamei. Ela riu.

_ Desculpa entrar assim no seu quarto _ ela se desculpou.

_ Tudo bem.

_ Vim trazer seu presente! _ Ela anunciou toda animada pegando uma caixinha florida em cima da cômoda. Ela a estendeu para mim e fiquei olhando _ pega!

_Ah! É... é, obrigada...

_ Abre logo!

Abri a caixa e tinha um vestido rodado preto. Peguei-o e fiquei olhando. Anne entristeceu a expressão, deduzindo que eu não tinha gostado. Corri para abraçá-la.

_ É lindo, Anne! _ exclamei.

_ Se quiser pode usar no jantar de hoje _ ela sugeriu. Fiquei imaginando, eu vestida com ele. Ah... como eu ficaria linda pro Jeff... Jeff? Merda.

_ Ana? _ Anne chamou me tirando a atenção.

_ Ah...é...

_ O que foi, hein?

_ Nada.

_ Nada, sei. _ ela me fitou desconfiada. _ quem vai vir para o jantar?

_ Meus tios que moram aqui, alguns amigos dos meus pais, o pessoal da delegacia e minha avó Elizabeth...

_ Não! _ Anne exclamou com a mão na boca.

_ O quê?

_ Não!... não, não, não...

_ O que foi, Anne? _ perguntei confusa.

_ Significa que ele vai vir.

_ Ele quem?

_ Não se faça de boba. Jeffrey, é lógico, sua louca _ revirei os olhos. _ ainda gosta dele?

_ Caramba, Anne! Que pergunta nada a ver. Estou com Jack e aquieta o bico.

_ Nossa _ diz debochada. _ tudo bem, então.

Chamo-a para descer comigo e ajudar minha mãe nos preparativos.

***

_ Claro mãe! _ respondi enquanto ela inventava mil e uma desculpas para cancelar tudo.

_ Só acho que, com você desse jeito é melhor...

_ Tá tudo bem _ confortei-a, colocando a mão em seu ombro. Ela me olhou por um tempo.

_Ok. Joga esse saco de lixo lá fora _ ela instruiu me dando o saco enorme preto. Fui para fora e comecei a andar pela a calçada. Estava meio estranho. Tinha um caminhão enorme estacionado na rua ao longe. Um carro estava andando devagar atrás de mim. Desconfiada comecei a desacelerar os passos e respirando devagar. Olhei de canto e o carro me seguia. Mirei o caminhão e comecei a correr. Só sei que de repente eu estava sendo seguida por dois caras com o rosto coberto por um pano preto. Assassinos. Corri o mais rápido que pude e me deslizei debaixo do caminhão. Fiquei deitada e comecei a respirar forte. Nada deles. Olhei pro meu lado e espiei se eles ainda estavam lá. Quando me virei um deles me atacou no ombro com uma adaga.

_ Aí! _ gritei pegando no ombro.

_Vem! _escutei uma voz gritando e o homem saiu correndo. Fiquei lá, deitada no chão sangrando. De novo não, caramba! Quando fui para sair, vi pés se aproximando, fiquei quieta, me encolhi e apertei os olhos. De repente o caminhão saiu me deixando exposta.

_ Ana?! _ escuto uma voz familiar. Levanto-me do asfalto. É Jack saindo do carro em frente à sua casa. Ele vem correndo até mim. _ você está sangrando!

_ Me conta uma novidade _ debocho.