Nos dias seguintes, Yenisi conseguiu compreender alguns movimentos à sua volta, elfos estranhos na sua casa. Sensações quentes e geladas no seu braço queimado. Por vezes, estava consciente, mas fingia não estar para não ter que voltar a explicar o que se passou. Enquanto esteve doente, ficou sempre a pensar que talvez a Fénix não lhe quisesse mal apenas desejasse falar qualquer coisa com ele. Talvez quisesse amigos? Será que aves ou outros animais precisavam de amigos?
No entanto, depois de uma semana a febre baixou e ele já não sentia o braço a arder tanto. Acordou um dia depois do pai ter ido trabalhar e contou tudo à sua mãe. Ela ficou desconfiada a princípio ainda perguntou: "não estás a tentar encobrir o teu pai?" e ele disse, sinceramente, que não, que ele nunca tentaria esconder isso porque não gostava do trabalho do pai nem um bocadinho. A mãe sorriu-lhe com uma cara de quem já sabia, mas estava à espera que ele lhe dissesse.
— Mas o que te deu na cabeça para ires atrás da Fénix?! Tiveste sorte de só ter ficado com esta queimadura! Ela podia ter-te matado! — e abraçou-o com força. — Fica a saber que vais ficar com esta marca para toda a vida e o teu braço não vai voltar mais a ser o mesmo. Ainda bem que foi o teu braço esquerdo, porque se fosse o direito nem podias escrever! Espero que tenhas aprendido a tua lição e não voltes a fazer uma coisa destas!
Yenisi ficou calado. A sua mãe não percebeu que ele tinha intenção de repetir a loucura.
Mais tarde, a mãe explicou ao pai de Yenisi e a toda a vizinhança o que se tinha passado. Escusado será dizer que ninguém acreditou que fosse verdade. Pensaram que foi a esposa a tentar encobrir o ferreiro ou Yenisi a armar-se em grande. Na semana seguinte, quando Yenisi foi para as aulas, foi muito gozado e maltratado pela sua turma. Tocavam-lhe na ferida ou metiam-se à briga com ele para ver se ele era assim tão forte para lutar com a Fénix e sobreviver. Ele tentou várias vezes explicar e fazer ver que a Fénix não queria mal aos elfos, mas foi em vão.
Se Yenisi já se tinha sentido culpado com a sua atitude com a Fénix, agora, sentia-se pior por toda a gente pensar que ela era cruel quando os cruéis eram eles. No fundo, também se sentiu um pouco desculpado porque, afinal não era o único a pensar assim, era o que sempre tinha ouvido. No entanto, a vontade de voltar a ver a Fénix aumentava. Estava curioso: se ele não a atacasse o que ela faria? Não parecia conseguir falar, mas conseguia compreender o que ele dizia, ou fora só imaginação sua? Tinha de voltar lá.
Assim, Yenisi começou a planear uma forma de ir, sem ninguém saber. Ninguém parecia acreditar nele e se levasse mais alguém com ele ou ficaria cheio de medo ou atacaria a Fénix e ele não queria isso. Por isso, tinha de pensar de uma forma de ir sozinho. No entanto, era difícil encontrar uma razão para desaparecer durante algumas horas da aldeia, principalmente agora, que a sua mãe tinha pedido a toda aldeia para o vigiar porque continuava muito preocupada com ele. Nem podia ir buscar água ao riacho porque todos o poupavam de trabalhos mais pesados.
Até que um dia, uma colega da sua turma de escrita, chamada Mist, enviou-lhe um papel durante a aula. A nota perguntava "estiveste mesmo com a Fénix?" Ele respondeu na defensiva porque já estava farto de ser gozado: "acredita no que quiseres". No entanto, Mist não se conformou. No final da aula foi falar com Yenisi.
— Estás a pensar que eu vou gozar contigo como os outros, mas não é isso, apenas quero saber a verdade, afinal estiveste com a Fénix ou não?
— Se eu disser que sim, o que vais fazer?
— Vou confirmar a teoria que já tenho há muito tempo – disse ela com um ar superior.
— Qual teoria?
— Que se a Fénix fosse assim tão terrível, como dizem ser, já teria destruído todas as nossas aldeias e talvez a nossa raça. Para mim, ela apenas não quer ser incomodada ou, então, até pode ser amigável, mas nós somos receosos demais para ver mais além.
Yenisi ficou pasmado a olhar para ela. Ela tinha compreendido aquilo sozinha, enquanto ele andava sempre a fantasiar em dominar a Fénix até a conhecer... Sentiu-se mesmo burro naquele momento.
— Sim, eu conheci-a, esta queimadura foi mais culpa minha do que da Fénix... foi um acidente...
— Como assim um acidente? — perguntou Mist muito interessada.
Ele contou-lhe o que aconteceu com um pouco de vergonha, por ter sido tão burro e orgulhoso. Yenisi estava com receio que ela gozasse com ele ou fizesse algum comentário à sua estupidez, mas não. Ela apenas acenou com a cabeça pensativa e animada. Para ela, tudo fazia sentido.
— E pensas em ir ter com ela outra vez? — perguntou astutamente.
— S... como é tu sabes? — ele estava espantado.
— Não sabia, mas calculei. Penso que devias mesmo. Se precisares de ajuda, eu posso inventar que vens estudar comigo. Geralmente, estudo todos os dias sozinha em casa... mas tenho uma condição.
— Qual condição? — perguntou, já preocupado.
— Se a Fénix não te atacar e quiser ser tua amiga, tens de me levar a conhecê-la.
A Yenisi parecia uma condição fácil e simples de cumprir, por isso, aceitou a ajuda que bem estava a precisar. De qualquer forma, pensou, ela já sabia tudo, conseguiu logo perceber o que ele ia fazer a seguir e, assim, era mais fácil.
De seguida, começaram a planear como libertar Yenisi das garras da sua mãe protetora.
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Será que Yenisi vai conseguir voltar a ver a Fénix?Obrigada pelos vossos comentários e votos <3
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Fénix
FantasyNa Ilha Verde, habitada por elfos de longas vidas e grande sabedoria, vivia um ser mítico que todos tinham medo. A Fénix que segundo as histórias poderia trazer uma grande destruição ou um grande poder. O que ninguém sabia, é que a Fénix apenas quer...