O tempo perde o significado para os mortos.
Bungou stray dogs.
.....Quando clico no local que quero ir, aparece novamente a luz azul, e por meros segundos tudo fica preto e estou na praça das lágrimas, tenho certeza disso porque tem uma placa indicando a entrada, ao passar o portal sinto um vento gelado passar pelo meu rosto, olho ao redor e tudo parece tão silencioso, vejo as árvores de cerejeiras tão rosas e tão lindas, nem percebo que fiquei parada observando a árvore até que alguém esbarra em mim:
- me desculpe...eu- ele me interrompe.
- está tudo bem, contanto que siga em frente! - e esboça um sorriso tímido, olho para o rosto dele, e tem uma enorme cicatriz que vai da metade do nariz até quase o final da bochecha, tento não transparecer minha surpresa, mas pela forma que ele vira o rosto rápido acho que falhei.
Ele diz algo em voz baixa que não entendo, e continua andando, seus cabelos ruivos dão nos ombros que o vento leva de um lado para o outro, ele parece mais alto que eu, antes que ele suma de vista preciso perguntar seu nome ou ao menos se ele sabe o que fazer aqui:
- Com licença moço, pode me ajudar?
Ele apenas para, porém não se vira para me olhar novamente.
- Com o que seria ? - sinto que seu tom foi debochado, mas não posso afirmar, não é como se eu fosse ótima em interpretar as pessoas.
- Eu não sei o que fazer-minha mente fica em branco e não sei como continuar- qual seu nome?
Ele só fica lá parado, sem dizer nada por longos minutos, estou quase pensando que ele vai me ignorar e continuar a andar, quando ele vira apenas o lado direito para trás ao me responder:
-Meu nome é Satoshi, você morreu a pouco tempo?
-Sim, End só me jogou aqui, não me explicou muita coisa...eu- ele olha pro chão e me interrompe.
-End? Quem é?
-Você...Não passou por ele?- ele agora voltou a olhar para frente.
- Não sei quem é, antes de ganhar minha missão conheci a
Beginning, engraçado né? - a voz dele ficou rouca no meio da frase.-Então, somos escoltados por pessoas diferentes?- vou me aproximando, não quero assustar ele, pois sua fisionomia é de alguém com medo.
-Parece que sim, e ela não parecia uma pessoa pra mim!- ele força um tosse na tentativa de arrumar a voz- não pude ver seu rosto, ela usava uma máscara vermelha. - ele percebe que cheguei ao seu lado e vira o rosto para a outra direção
- Esse lugar é lindo não acha? - digo e olho tudo ao redor, as inúmeras árvores de cerejeiras e os bancos tão rústicos e convidativos - não quer se sentar?
Ele apenas assente com a cabeça e vamos andando até o banco mais próximo, ele se senta ao meu lado contudo abaixa a cabeça ao se sentar.
- Está tudo bem? - o que estou falando? ele está morto! Maki,não perca o foco, você não tem um manual, precisa dele- desculpa, eu sei que a gente está morto...Mas, pode olhar pra mim?- ele apenas se retrai um pouco, será que ele pensou em sair correndo ? Ele apenas vira para o lado contrário e emite um "tsc" respira fundo e olha pra mim, seus olhos tem uma cor rosa tão claro quanto as flores de cerejeiras ao nosso redor, me escapa um sorriso sem querer e ele fica envergonhado, acho que ao notar isso também fiquei, apenas dou uma risada leve- como conseguiu essa cicatriz? - ele não me responde apenas se levanta, ele vai embora? - ei…- digo segurando a ponta do seu casaco.
-Vem comigo? Te mostro como recuperar algumas memórias!
- Certo.
Me levanto e vou caminhando atrás dele, o vento parece estar mais forte, ainda bem que coloquei o casaco, Satoshi está usando um casaco azul escuro,uma calça preta e um tênis preto, em que ano será que ele morreu? Olho para minhas próprias roupas, em que ano eu morri? Ele para de repente e me choco em suas costas:
- me desculpa...eu estava...- ele me interrompe
-Chegamos!
Olho para onde ele está apontando, e é apenas uma pedra média com uma bola que lembra meu relógio, olho para meu relógio e pergunto a ele:
- eu preciso...
-Sim- então ando até lá e coloco o relógio na abertura da pedra, de imediato nada ocorre, quando estou prestes a virar e avisar ao Satoshi que não funcionou, uma luz roxa brilha e aparece uma mensagem que diz:
"Tire a carta do bolso do seu casaco"
Antes de sair não tinha carta nenhuma, releio para ver se não é uma charada, e depois de ver que não fazia nenhum sentido, coloco a mão no bolso e realmente tem uma carta lá, o envelope está selado e tem uma data no verso "22/09/07", pego meu relógio e coloco no pulso novamente, caminho até onde Satoshi se sentou:
- Você quer ler comigo?
Ele sorri de lado e me explica:
- São suas memórias, não sei se eu posso ler.
- Eu sou a primeira pessoa que você encontra?
- não, já encontrei 4 pessoas.
-Então, você pode ir e voltar no mapa?
- não...é que eu já morri 4 vezes, eu lembro de tudo, mais tenho que começar do início se me matarem- ele me olha com muito desânimo, mas mesmo assim tenta colocar um sorriso no rosto.
Olho fixamente para a carta, o que será que vou descobrir?
Abro ela devagar, respiro fundo e tiro o papel que está dobrado,começo a desdobrar e vejo que Satoshi está olhando atentamente também, olho para a folha amarelada e antes de começar a ler Satoshi diz:- Por que está em branco? - ele não consegue ver a escrita?
- Você não consegue ler minha carta...
-Tudo bem então - sorri e dá de ombros.
Tem apenas uma folha, então não deve ser extenso:
" 22 de setembro de 2007
A madrugada parece nunca chegar, a noite se arrasta, o ponteiro do relógio marca 23hrs, quando um som alto extingue o silêncio que reinava, não quero levantar da cama eu não posso, ele vai fazer de novo, ele deve estar bêbado a esta hora:
-Maki venha aqui!
Ele grita e não tenho como ignorar, viro para o lado contrário da cama e quero fingir estar dormindo, o medo toma conta de mim, não quero, não quero, fecho os olhos depressa, ele poderia esquecer o caminho para casa, perder uma briga no bar ou simplesmente esquecer a gente, ele abre a porta com força e solto um soluço de choro que nem tinha consciência que estava segurando esse tempo todo.
-Vai chorar de novo?- ele fala e dá uma gargalhada-levanta e cozinha algo que estou com fome.
Saio da cama correndo para a cozinha, sei que ele está bêbado, ele exala um cheiro podre.
Na cozinha tiro as panelas da geladeira e levo ao fogo, está muito tarde e ele não vai esperar algo ficar quente, com certeza vai me machucar de novo, fogo não, por favor, ele entra na cozinha e começa a gritar, reclamando da comida, fico em silêncio, ele queimou minha irmã, não quero que me queime também:
- não pode fazer as coisas mais rápido?
- não...
-Você ia dizer alguma coisa?- ele se aproxima.
Congelo, porquê? porquê ? Droga!
Ele pega a faca que deixei em cima da mesa, para cortar a carne em pedaços e puxa minha mão esquerda:
- Por favor...-tento implorar, mas uma parte de mim sabe que é inútil.
- Eu ouvi algo, o que você ia dizer...
Não consigo falar, apenas soluços de choro saem da minha boca, ele corta minha mão."Sinto a faca cortando a pele da palma da minha mão, Satoshi olha espantado para o sangue, que não para de sair, dói, dói muito, sinto meus olhos arderem e lágrimas caem na minha calça junto com o sangue, comecei a tremer e sei que Satoshi está em desespero, ele fica parado na minha frente enquanto o corte vai ficando maior e mais fundo, vai do começo da palma da mão próximo do pulso e termina perto do dedo indicador, quando o corte cessa, a dor não vai embora, o sangue sujou todo o papel, minha calça e a mão de Satoshi, que ainda não sabe o que fazer, eu olho nos olhos desesperados dele e imagino o quanto aquela cicatriz em seu rosto doeu, quando percebo estou chorando de verdade, como se eu fosse novamente uma criança, o sangue ainda pingando, então,Satoshi me abraça.
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Mirai
General FictionUm número indefinido de espíritos mortos foram designados a um teste. Caso consiga concluir o teste com sucesso vai garantir que sejam ressuscitados. O mensageiro da morte End atribuiu a cada um deles uma missão. Eles devem atacar uns aos outros ou...