02 - DEGUSTAÇÃO

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  Henrique (cobra)
 
 
  A tristeza gera raiva da raiva surge o ódio, o ódio gera sofrimento e o sofrimento dá início a sabedoria sobre esta realidade
 
  Não sou de demonstrar sentimento algum, mas hoje é um dia que me pega demais, passa sempre a mesma porra de filme na cabeça, meu velho morrendo...
 
  Baguí me deixa cheio de neurose, mas não consigo demonstrar nada mermo, só fico com ódio de tudo e todos, as vezes o menor nem sabe da parada e acabo descontando nele, não é uma parada de mim
 
  Colfoi, não gosto de injustiça, mas lembrar do dia que meu pai morreu me mata aos poucos, lembrar que hoje completa mais um ano, a dor que ele sentiu, acaba comigo mermo.
 
  Aí não boto a tristeza pra fora e fico maluco.
 
  Já joguei dois menor pro quartinho porque gastaram comigo, dei um tiro no pé do magrinho que nem me fez porra nenhuma, eu não me controlo.
 
  É uma saudade imensa, saudade de quando ele me abraçava apertado e dizia que tudo ia ficar bem...
 
  Todo dia 17 é a mesma coisa, eu me transformo, minha mãe tenta fazer algo, sei que pra ela dói mais ainda e nem consigo deixar a miserável sofrer em paz, ela fica tentando me confortar, mas eu machuco todo mundo.
 
  Não sei sofrer sozinho,se eu sofro todo mundo tem que sofrer. Isso é a porra de meu karma
 
  – colfoi, vim desenrolar um lero com você. - diz juliano entrando na boca
 
  – manda teu papo - digo o encarando
 
  Juliano vulgo Moreno é o antigo subdono, ele tava aqui quando meu pai morreu e eu quero que ele esteja aqui quando for a minha vez também.
  Maluco é mó responsa.
 
  – minha filha fez uma merda lá no asfalto e minha ex quer que eu traga ela pra cá...  - o interrompo
 
  -  colfoi moreno, fica suave. Manda a loirinha vir. - falei sorrindo de canto, o mesmo assentiu.
 
  – cê não dando uma de urubu pro lado dela, to na paz - ele diz gastando
 
  – ta maluco - gargalho
 
  Eu tenho mó respeito por esse coroa, ele me lembra muito meu pai, tá sempre comigo e me apoia em muita coisa.
 
  Quero nem me envolver com essa loira aí.
 
  Bolei um baseado, dando uma tragada. Moreno foi conferir uma carga que havia chegado e magrinho entrou na boca com o pé enfaixado, não contive a risada quando o vi e o mesmo me encarou revirando os olhos
 
  – fica rindo mermo, pô. Engraçadão você - disse rindo também
 
  – foi mal porra, ta ligado que não to com cabeça. - ele assentiu
 
  – ta de boa, um pé a mais ou a menos não faz muita diferença - deu de ombros
 
  – colfoi, segue tocando ai? - ele confirma e pego minhas chaves saindo dali
 
  Entro em casa vendo minha mãe e larissa no sofá, elas me olham com os olhos lacrimejando
 
  – achei que você não iria vir hoje, filho - diz minha mãe vindo me abraçar
 
  – não curto essas parada. Me deixa na minha, morô? - a tiro de perto
 
  – tudo bem, vai comer... - ela diz
 
  – valeu, eai fedorenta - fui até minha irmã a dando um beijo rápido no topo da cabeça
 
  Maluca deve ta malzona também.
 
  {...}
 
  Tava batendo um rango quando meu radinho começou a apitar pra caralho
 
  Vapor1: colfoi chefe, tem uma mina aqui toda cheia de marra, quer subir de qualquer jeito, menor já deu um tapão na fuça dela, vou matar mermo. - na hora já me veio a filha do moreno na cabeça, só poderia ser ela.
 
  - matar um caralho, deixa a mina aí que to chegando.
 
  Peguei minha moto e fui voado pra lá, quando cheguei a mina tava de costas, mas imaginei ser a filha do moreno por ela ser loira, passo os olhos por seu corpo reparando em cada curva do mesmo, seus cabelos longos e loiros chamavam atenção a quilômetros de distancia
 
  Vapor1: tá com você agora. - falou assim que me viu, a loira se virou em minha direção, mantive meus olhos nos seus a admirando, a mina era até que gostosinha
 
  - eai beleza? - falei olhando pra ela
 
  – beleza um caralho, esse retardado me deu um tapão na cara - diz cheia de ódio e marra, seu rosto estava avermelhado por conta do tapa
 
  Virei de frente pro menor que tinha batido nela, sei nem daonde saiu.
 
  Só destravei a arma e atirei na testa dele, seu corpo caiu no chão na mesma hora já sem vida. a lei é clara porra, ninguém bate em mulher.
  Se no mínimo tivesse autorização, mas o maluco chapou
 
  Assim que o barulho do tiro ecoou a mina deu um grito tão alto que meu ouvido deve ter estourado
 
  – cala a porra da boca, puta que pariu - esbravejo em sua direção, a mesma estava com os olhos arregalados
 
  – meu...Deus.. tu ma-matou ele. - falou devagarinho
 
  - claro que matei pô, perae tu é gaga?
 
  – Só me assustei. - ela diz cruzando os braços
 
  - colfoi, tu é filha do moreno né não?
 
  – sou, cadê ele?
 
  – por ai, qual teu nome? - pergunto
 
  – te interessa? - responde cheia de marra, fiquei puto, fechei a mão e caminhei na direção dela, mas parei assim que ouvi uma voz bem conhecida.
 
  – E ai minha loirinha - ela correu na direção dele e o abraçou.
 
  Logo já meti o pé dali, eu que não queria ficar vendo essa melação de pai e filha, tudo oque eu menos preciso hoje é ficar vendo essas porra.
 
  Colfoi, fico cheio de neurose mermo, papo de sujeito homem. Meti marcha arrancando minha moto rumo a biqueira, peguei um bem bolado já colocando a fumaça pra subir.

um dos melhores jeitos de esquecer que a vida é uma merda e nem tudo é como a gente quer, se ligou? Então taca logo o foda-se e bola um baseado

Amor Bandido - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora