Birthday, por @DiedraRoiz

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Fazia tempo que eu não saía, tanto que nem lembrava quanto. Minha reclusão voluntária tinha uma razão palpável, que todas as pessoas à minha volta conheciam.

Não conseguia superar a separação, muito menos a decepção de ter sido traída e trocada por outra com a mesma indiferença e facilidade com que se joga fora um copo descartável.

Mas naquela noite específica, minhas amigas se mostraram irredutíveis, não me deixando outra opção além de acompanhá-las à festa de aniversário da prima da namorada da amiga de uma delas. Era isso? Algo do tipo. Não entendi direito, sequer prestei atenção. Afinal, o vínculo era indiferente, já que eu não sabia - nem queria saber - quem era a aniversariante.

Estava sentada sozinha no alívio da varanda pouco iluminada, quando uma mulher parou ao meu lado. De súbito, com o mesmo ímpeto com que se virou para mim, falou:

- Eu te conheço.

Minha primeira reação foi a de sempre: uma mudez estática e absoluta, que me fazia ter certeza de que jamais sobreviveria a um holocausto zumbi. Na verdade, estava sendo difícil conseguir sobreviver a mim mesma. Se antes já não era hábil com surpresas e improvisos, após toda e qualquer ilusão de controle e planejamento em minha vida ter sido quebrada pelo término - inesperado apenas para mim - da relação que eu imaginava que duraria para sempre, me sentia completamente perdida, sem fazer ideia do que pensar, dizer ou fazer.

Ignorando completamente minha mudez e paralisia, ela prosseguiu:

- Você é a ex da Rebeca.

Isso sim, era o fim. A prova concreta de que eu não tinha como fugir. Nem do passado, muito menos do meu carma. O efeito foi imediato. Minha boca ficou seca, minhas mãos úmidas, a pulsação acelerada. Bastava a simples menção do nome dela, era incontrolável. O sorriso que tentei esboçar saiu forçado e repuxado, quase uma careta:

- Sim.

Minha afirmação a fez sorrir de uma forma divertida e límpida, totalmente oposta à minha:

- Eu sou a ex da Manuela.

Eu sabia muito bem quem era. Na mesma hora ela viu, estava escrito no tremor dos meus olhos, na franzir do meu corpo, no esgar que aquele nome causou em mim. Completou porque quis:

- Minha ex é a mulher atual da sua ex.

Antes que eu pudesse replicar, concluiu de um jeito inteiramente bem-humorado:

- Já que compartilhamos o mesmo chifre, posso me sentar aqui com você?

Conseguiu me arrancar uma risada, a primeira de verdade em muitos meses, tornando impossível recusar o pedido:

- Claro.

Para minha surpresa, assim que ela se acomodou na cadeira ao meu lado, percebi que compartilhávamos muito mais do que a infidelidade recebida, pois a conversa fluiu com uma leveza e uma facilidade que não me era habitual. Teria ficado ali a noite inteira, se não a tivessem chamado na sala. Sem pressa alguma, como se não estivesse com a menor vontade de ir, ela se pôs de pé e se justificou:

- Vão cantar parabéns.

Quando chegou na porta, parou e me olhou:

- Você não vem?

Só então levantei da cadeira:

- Eu canto daqui.

Depois de um aceno afirmativo de cabeça igualmente sorridente, se virou e entrou. Acompanhei-a com os olhos, me movi apenas o suficiente para não perdê-la de vista. Foi assim que descobri, ao vê-la em frente ao bolo com velinhas, qual o papel dela ali.

Inteiramente estarrecida e igualmente constrangida, mantive o olhar fixo nela que, sempre que podia, me devolvia o olhar. Alguns minutos que pareceram séculos se passaram até que, enfim, ela conseguiu se desvencilhar e caminhou de volta para mim.

Assim que parou na minha frente tentei me explicar:

- Me desculpa, eu... Acabei de descobrir que é seu aniversário.

Desejei com sinceridade:

- Parabéns!

Ela sustentou o meu olhar:

- Obrigada.

O tempo passou de maneira incalculável. Pareceu pouco, rápido demais para quem, como eu, estava mergulhada na profundidade da mulher sentada à minha frente.

As pessoas vindo se despedir e o apartamento cada vez mais vazio já anunciavam o fim da festa quando minha carona parou no meio da sala e olhou em volta, me procurando e tornando inevitável:

- Vou indo.

Ela se pôs de pé junto comigo e sorriu, da forma irresistível que tinha me fascinado a noite toda:

- Posso te pedir uma coisa?

Só existia uma resposta possível:

- Sim.

Mantendo nossos olhos firmemente entrelaçados, ela se aproximou, o rosto a milímetros do meu. Não formulou o pedido verbalmente, desceu o olhar para a minha boca apenas. Completei a ação sem pensar, seguindo somente a minha vontade idêntica.

A perfeição daquele beijo serviu para mostrar o quanto eu queria que fosse um começo. Como se pudesse ler meus pensamentos, ela fez questão de confirmar que também desejava o mesmo:

- Preciso desesperadamente do número do seu telefone e do seu endereço.

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