-Olhe só Eric, que lugar incrível! - disse Johnny em baixa voz, apontando em direção a uma das janelas. - sempre quis entrar aqui para ver esse horizonte belo, quero dizer, de um novo ponto de vista! expressou ele.
Dei-me uma chance de observar o exterior daquela casa, que sinceramente, não parecia com nada que eu já havia visto antes. Toda aquela paisagem, de vastos campos verdes, de altas montanhas, e grandes cachoeiras ao fundo, fizeram com que um pouco de calma recaísse sobre mim.
-Mas você não disse que essa é sua casa? - me permiti interrogá-lo virando-me um pouco em sua direção. - como assim você nunca entrou aqui?
Ele suspirou profundamente, e virando-se para mim, disse.
eu já conheço essa paisagem, vejo essa casa à todo momento, eu sempre soube que estaria dentro dela um dia, mesmo ela estando sendo construída à vinte anos.
espera! - disse surpreso. - Que demora para construir uma casa que não tem nada além de janelas,poltronas e um lustre velho como esse. - disse eu, dando uma rápida risada, e encarando tal lustre que tinha uma fina camada de poeira sobre si.
De fato! - acrescentou ele. - um lugar lindo como esse, porém, tão vazio. - suspirou mais uma vez. - Bem diferente de antes, que haviam vários móveis rústicos e deslumbrantes aqui, mas com o passar do tempo, foram sendo tirados um a um.
E seus pais? - comecei a interrogá-lo novamente. - Se mudaram daqui? digo. essa é a antiga casa de vocês, e você vem aqui passar o tempo?
Pais! - exclamou johnny franzindo a testa e sorrindo, enquanto colocava as mãos nos braços da poltrona, e se erguia, dando alguns passos à minha frente. - não tenho pais, na verdade, eu nunca nasci.
como assim? não faz sentido, todo ser humano nasce de algum lugar. - me manifestei, inclinando a cabeça ligeiramente para a direita. - me diz então, como você está aqui agora? sendo que você não nasceu, você por acaso é uma assombração? - Disse, dando uma rápida franzida na testa, porém em tom cômico.
Eu simplesmente apareci aqui, em um dia comum como qualquer outro. Lembro-me como se fosse ontem, dia treze de maio, que aliás, foi o mesmo dia que essa casa começou a ser construída.
Nesse momento minha feição mudou novamente. uma expressão de espanto e dúvida de mim se apoderou. levantei-me rapidamente, enquanto Johnny se virava de frente para mim, permitindo-me de olhar fixamente em seus olhos e exclamar.
espere, dia treze? - mesmo com uma dúvida persistente quanto à afirmação de johnny nunca ter nascido. decidi relevar, e essa foi a única pergunta que saiu de minha boca. - Eu nasci no dia treze.
Johnny se colocou a caminhar até a primeira janela que estava do lado direito, à qual estava coberta por uma das cortinas, e virando-se para mim, disse em alta voz.
Exatamente! surgi aqui no dia de seu aniversário. Não tenho pais, no dia que você nasceu minha existência se tornou uma realidade.
Mas, como assim? - Disse, me levantando rapidamente e me aproximando de Johnny. - Acho que isso é um engano, muito obrigado pela hospitalidade, mas acredito que eu sei como chegar em casa. Aliás, acabei de me lembrar do caminho que eu percorri até chegar aqui! então acho que consigo resolver essa situação sozinho! - Exclamei, buscando um pretexto para sair de perto daquele pequeno rapaz, que para mim estava com sérios problemas psicológicos. Me virei de costas e comecei a andar rumo ao corredor no qual eu havia passado anteriormente .
Enquanto dava os passos iniciais na tentativa de escapar daquela situação bizarra, uma voz forte e clara reverberou sobre a sala, dizendo.
- Ora Eric, todo o seu caminho percorrido te fez chegar onde está agora, como pode ser um engano viver vinte anos em uma vida que, por sua escolha, se tornou sombria? Acha mesmo que consegue resolver tudo sozinho? acha mesmo que tudo está bem do jeito que está? você nem ao menos sabe o que é uma casa, mesmo morando em uma. Mas se deseja continuar no caminho que está percorrendo vá em frente, e leve isso. - Exclamou Johnny com seriedade e firmeza.
Ao ouvir tal afronta, meu coração se pôs a palpitar de uma forma anormal. Uma repentina ira veio sobre mim, me fazendo virar rapidamente para trás, e começar a dar passos largos ao encontro de johnny. Mas quando me aproximei, vi meu celular sobre sua mão, que estava esticada em minha frente. minha primeira reação foi tentar pegá-lo de volta para mim. Mas ao tentar apalpar o aparelho, vi que a minha mão não fazia nenhum contato com ele. uma estranha força não deixava com que eu simplesmente o tocasse. A ira que estava instalada em mim, se transformou gradativamente em desespero, que, junto com as palavras que eu acabara de ouvir, fizeram com que lágrimas rolassem dos meus olhos.
- você não me conhece! - disse, soluçando e me ajoelhando em frente à Johnny. - Como diz isso de mim? você não sabe o que sofri, você não é ninguém para falar isso de mim...
- Olhe para mim. - interrompeu Johnny, com uma voz calma. - Eu sei todas suas falhas, sei de todos os dias que você chorou, eu sei que você não tem um sorriso sincero há anos, e não se dá a chance de ser melhor. Vai por mim, eu sei muito bem quem é você, Eric Mayer. Mas não se preocupe. Muitas coisas vão mudar hoje, quero dizer, se você concordar.
- Eu acho que estou enlouquecendo, você não é uma pessoa normal, eu nunca falei sobre essas coisas com ninguém. Afinal, o que é você? Esse lugar, ele é real? - Indaguei, enquanto secava as lágrimas com minhas mãos.
- No momento não cabe a você saber o que, ou quem eu sou. Suas dúvidas são como um rio descontrolado, se acalme! o lugar que você se encontra é um lugar necessário. Você construiu este lugar à medida que foi vivendo sua vida, e hoje, está aqui para consertar o que um dia você deixou se esvair.
- Como assim, construí?
Enquanto eu olhava para o fundo dos seus olhos, Johnny não mudou sua feição calma, e pegando vigorosamente minha mão que havia teimado em agarrar o celular, disse.
você entenderá, mas para isso, preciso apenas que abra algumas cortinas para mim.
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Redenção
Short StoryEric se vê em problemas familiares, e em crise com amigos, tudo porque se pôs a viver dentro de um mundo superficial onde sua vida social não passa de aplicativos de smartphone, mesmo com conselhos paternos, não houve nenhuma tentativa de mudança, p...