Capítulo 8: Boca Negra

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      Dave olhou fixamente para o seu reflexo

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      Dave olhou fixamente para o seu reflexo. Estava em um quarto amplo, com paredes escuras, onde havia apenas um espelho oval com contornos ondulantes em madeira. Usava um manto espesso acinzentado, cujo capuz caía sobre as costas, cobrindo uma roupa de lã, botas e luvas de frio. Os olhos do homem mal piscavam. Algumas gotas de suor escorriam de forma vagarosa por sua testa. Sua expressão estava mais fechada que o usual, como se algo houvesse atravessado a sua muralha de fleuma.

      Lentamente, encaixou uma máscara de urso sobre sua cabeça e fechou as três presilhas que a mantinham apertada ao crânio; uma carranca, cujo focinho se projetava entre um emaranhado de pelos colados a esmo, pinturas tribais e costuras malfeitas. O queixo imberbe do jovem exibia uma boca a se contrair raivosamente.

– Grrrrrrauuuuuuurrrrrrr! – Grunhiu, avançando contra sua própria imagem refletida, até engasgar e cair em uma gargalhada histérica.

– Sente-se bem? – Perguntou uma ruiva ao adentrar o recinto. A bela mulher de olhar inquisidor usava o mesmo tipo de vestimenta que Dave. Entretanto, parecia mais à vontade com sua capa e carregava uma máscara de corvo nas mãos.

– Sim, estou bem – respondeu, recuperando o fôlego e cessando o riso. – Isso é tão patético. Olhe para nós.

– Dave – a mulher balançou a cabeça negativamente –, acho que você não entendeu ainda a importância do que estamos fazendo. – E então ela se pôs ao seu lado, a fitar suas imagens no espelho.

– Isso tudo é uma grande merda! – Ele fechou o punho. – Por que nós simplesmente não nos sentamos em uma praia e esperamos que tudo acabe?

– É a primeira vez que o vejo pessimista desta forma – disse a mulher, colocando sua mão sobre a do rapaz. – Você está com medo, não está?

– Não é medo – rebateu. – É apenas um suave desespero ao analisar os prováveis resultados de um acontecimento que está por vir.

– O nome disso é medo – ela sorriu, fazendo Dave colocar também uma pequena curva em seus lábios.

– Eu sei, mas devo confessar que a incógnita da morte é uma das poucas coisas que me apavoram, Amy – fechou outra vez a expressão.

– Pois, caso a morte venha para nós – iniciou a mulher, pondo-se em frente ao amigo –, que ela passe como uma brisa rápida e suave.

      Abraçaram-se por alguns instantes, até que Dave quebrou o silêncio:

– Essa sua última frase não deveria ser mais motivacional? Afinal, estamos saindo em missão.

– Eu sei, mas não adianta cobrir com seda um caminho espinhoso – disse a mulher, franzindo a sobrancelha. – E mais uma coisa: não me chame de Amy. Você não tem intimidade suficiente para isso.

– Foi você que me abraçou – Dave piscou o olho e caminhou vagarosamente para a saída. – Agora, vamos acabar logo com isso! – Respirou fundo e abriu a porta com um chute.

JARDIM DOS FAMINTOSWhere stories live. Discover now