Capítulo 14: O Desabrochar na Ruína

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      Quando abriu os olhos, Rod se percebeu engolido por trevas

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      Quando abriu os olhos, Rod se percebeu engolido por trevas. Assustado, debateu-se e roçou os cotovelos e as pontas dos dedos em uma espécie de casca ovoide que o englobava por inteiro.

      O que é isso? Onde estou? Questionou em pânico ao sentir a garganta fechar.

      Na sequência, sua visão começou a se adaptar ao ambiente e a escuridão deu lugar a uma discreta revelação de sua localização: um invólucro quitinoso e completamente vedado, no qual um líquido espesso dificultava a movimentação de seus membros.

      Tateou o rosto, mas sua máscara não estava mais lá. Sentiu o medo crescer em seu peito e socou freneticamente a parede acima da sua cabeça até fragmentar a estrutura. Manteve os golpes com a mesma intensidade. O que antes era temor, tornou-se fúria.

      O barro caiu sobre seu corpo à medida que atravessava a casca, mas aquilo não atrapalhou suas investidas. Estou enterrado? Empurrou os braços para cima, impulsionou a base com as solas dos pés e emergiu.

      Em um campo aberto e com o dorso exposto, inspirou finalmente o ar puro ao seu redor. Mais tranquilo, pressionou as mãos contra o chão e forçou para se desvencilhar, porém ficou preso na altura dos joelhos. Tentou uma segunda vez, mas o horror tomou conta de si novamente ao identificar que parte das suas pernas havia assumido uma textura similar a um caule lenhoso. Gritou e forçou outra vez as mãos contra o solo, mas elas se enterraram e endureceram assim como acontecera com os membros inferiores. Sentiu o estômago embrulhar e queimar até que um borrão vermelho nasceu em sua barriga e expeliu uma bela flor azul salpicada de sangue.

      "Erva Daninha, germine"! Uma fala escabrosa soou dentro de sua cabeça como o estampido de um trovão.


*


      Rod acordou espantado à sombra de um salgueiro.

      Maldito Pesadelo!

      Tateou e verificou por baixo do tecido das calças. Suas pernas ainda eram de carne e ossos.

      Passeou os olhos nas redondezas e identificou o trecho da floresta que escolhera para descansar na noite anterior. Sua bolsa permanecia ocultada sob pedras, o cantil pendurado à espera de gotas de chuva e o cavalo que trouxera de Salbi, atado à árvore.

      Levantou-se, recolheu os seus objetos e pôs a cela sobre o animal.

– Embora você não tenha herdado dos humanos a arte da ingratidão, estou certo que me abandonaria caso não houvesse esta corda em volta do seu pescoço, não é? – Lançou o questionamento ao corcel, que obviamente nada respondeu. – Você é um garoto muito esperto, Banho de Fogo!

      Montou com destreza e seguiu viagem sob um sol encoberto por nuvens pálidas.

      Cortou a mata por uma estrada de terra batida e saltou alguns pequenos obstáculos naturais durante o percurso. À medida que se distanciou mais ainda da vila dos pescadores, percebeu a natureza entristecer; os rios haviam secado, as árvores não ostentavam qualquer fruto ou cor viva e os animais obviamente abandonaram aquele território murcho. Era como se refletissem seu coração amargurado.

JARDIM DOS FAMINTOSWhere stories live. Discover now