Era 20h e a galeria Rafael Nogueira fechava suas portas – o último visitante já havia se retirado, era questão de minutos até a Dona Rosa, que cuidava da limpeza, sair trancando a porta e desligando todas as luzes, então eles estariam livres. Era noite do bingo, ninguém estava particularmente animado e todos saíram de suas telas como quem sai para o intervalo de um curso quando já se é adulto – é um alívio, mas ninguém vai sair correndo. Mesa posta, cartelas distribuídas, Dores ia cantar os números.
Os ânimos foram esquentando conforme os números eram chamados. Memórias e Alegria estavam especialmente empenhados, mas foi quando um deles estava na iminência de gritar bingo que os olhares gerais se desviaram e o jogo foi esquecido – uma... criança ou algo assim, entrando na sala pela porta da antessala despretensiosamente, apreciando os arredores.
Quando os olhares se chocaram, o salão principal estava em silêncio. Todas as pinturas agarradas a seus bancos espantadas, sem mover um tom. Memórias levantou antes que alguém pudesse reagir, enquanto a pseudo-criança parecia meramente intrigada e não tivesse razão para verbalizar nada.
- Boa noite, meu jovem, está perdido? – Memórias se endireitou como um lorde.
- Boa noite... Estou sim, e você?
- Não! Eu moro aqui! Todos nós, porém me parece que você não é daqui – Memórias fez um sinal, com os dedos esfregando no peito da mão, indicando algo como cobertura – Seu traço definitivamente não é do Rafael e você também não é humano. – Outros mais começaram a se aproximar para olhar mais de perto.
- Eu não entendi nada direito, mas eu não sou humano, sou... como é mesmo que eles me ensinaram? Eldrian... Eladrin! Você é o Rafael?
- Certo, eu também não entendi nada, Eladrin. Eu sou Memórias de Saudade, aquela alí é minha tela.
- Eu sou Alanis, prazer. Então você... Todos vocês são quadros? Wow que bacana, eu posso ser quadro também? – Alanis começou a dar a volta na sala, tocando cada uma das telas, decepcionando-se ao não encontrar nada demais.
- Muito prazer, eu me chamo Dores de um Amor. Querido, de onde você veio? Você não é daqui, talvez... só não seja do Rafael...
- Olá, eu caí naquela outra sala do lado, posso mostrar para vocês. Eu não sou do Rafael mesmo, quem é ele?
- Rafael é o dono da galeria – Memórias retomou a palavra – ele fez a gente e administra o lugar como dinheiro lavado do pai dele.
- Dinheiro lavado? – Alanis não tinha ideia do que queria dizer, mas seu semblante parecia ter a curiosidade constante, sem nenhuma confusão.
- É, o pai dele é um tal Marcos Nogueira, político, leva uma bolada de grana e decidiu usar seu filho, Rafael, para dar uma limpada na grana com essa galeria. Sinceramente, olhe para nós! Se fosse pai, também não investiria um centavo de dinheiro limpo e suado nesse rapaz.
- Ah Memórias, você é feio porque é o mais velho, o Rafa nem é tão ruim... Ah pequeno, eu fui intitulada Sorriso da Nova Aurora! Inspirador, né?
- Sim, muito... Amanhecedor – Ambos riram.
- Enfim – continuou Memórias – moramos aqui, ficamos parados o dia todo, temos a noite para nos alongar, sem poder interagir... é meio estranho, ver gente o dia todo e não poder nunca nos aproximar. Ah é, não podemos nos mover porque traria atenção indesejada a família Nogueira e riscos ao Marcos. Ele veio aqui nos ameaçar de ser rasgado e destruído se tentássemos algo.
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Inktober OC
Tiểu Thuyết ChungEsse inktober eu decidi participar, mas como não sei desenhar, seguirei uma lista de temas e vou escrever. Cada capítulo será um dia. Serão pequenos contos ou historinhas envolvendo meus OCs (Personagens Originais) Qualquer dúvida sobre os personag...