"Pare, analise, pense e aja!"
Meu mestre sempre dizia isso. Era uma das maneiras dele me inspirar, me fazendo acreditar que eu era capaz de fazer mais do eu poderia imaginar.
Porto North Horizon, 19 de setembro de 2091
Nessa longa noite, acordo em um porto marítimo abandonado, no meio de uma leve chuva que vai engrossando enquanto o cheiro forte de pessoas queimadas me faz abrir os olhos.
Meu rosto está voltado para o céu, um ambiente que é uma combinação de fuligem e fumaça misturado a gotas de água caindo sobre meu rosto.
Peças, partes de corpos e pedaços de cyborgs estão espalhados ao me redor. Sinto uma dor intensa e agoniante na minha perna esquerda, ouço vários passos dos homens correndo, me procurando através da fumaça que some depressa com a chuva fraca.
Aos poucos, alguns percebem a movimentação em meio a nuvem que me cobre. Eu ainda não acredito que ele fez isso, ele a matou. Ela era indestrutível, não era para isso acontecer.
— Senhor — um dos homens faz um sinal com a cabeça em minha direção.
O cyborg, chefe de todos eles, se vira na direção indicada, um pouco surpreso por eu ter sobrevivido à explosão.
— Inúteis — murmurou para seus homens ajustando seu braço robótico esquerdo para dar aquele famoso soco letal.
A chuva engrossa enquanto ele caminha, se aproximando de mim calmamente. Ele parece humano, mas sei que seu corpo é de aço maciço, impossível de perfurar, além do seu braço esquerdo enorme e extremamente forte. O soco dele é capaz de matar apenas com o impacto. Lutar contra o cyborg mais forte do planeta não é uma opção, e não estou em condições de fugir.
— Posição — avisou um outro para aqueles que sobreviveram se reagruparem para o cerco contra mim.
O ponto eletrônico no meu ouvido direito chiava, mas eu ainda podia entender Ralink enquanto se esforçava para falar as palavras:
— Lembra daquela vez... que eu te achei no quarto, sozinho e com medo? Você não era ninguém além de um pobre coitado indefeso. Quem é você agora?
Suas palavras me fizeram entender a seriedade da situação. Nós dois estávamos à beira da morte, e pela primeira vez o grande mestre Ralink não fez joguinhos e nem tentou me fazer deduzir o significado de suas expressões. Foi direto ao ponto, falando aquelas palavras que me dariam razão para levantar e continuar lutando.
Por fim, todo molhado pela chuva e sujo pela lama, tento me levantar enquanto o inimigo final se aproxima.
— Que vacilo hein? — jugou o cyborg.
Quando o restante dos homens se recupera o cerco começa, e então, mesmo com a dor cruel em todos os meus membros, vou me levantando devagar até conseguir ficar de pé.
Dois armados se posicionam à cinco metros bem atrás de mim e mais três vêm logo atrás deles. Somam cinco até agora.
Ainda de costas, ouço passos fortes de doze homens correndo pelas escadarias de acesso aos guindastes logo à acima. São dezessete no momento.
Alguns foram ainda mais alto para mirar de cima dos guindastes, eu diria que são seis. Temos vinte três.
Posso perceber os dois atiradores de elite com mira fechada, um a trinta metros à minha esquerda e o outro à cinquenta à direita. Vinte e cinco.
Por fim, os vinte e dois restantes se posicionam entre os degraus formado por contêineres logo atrás, um em cima do outro, formando um círculo de cerco perfeito pela minha retaguarda a medida em que chefe avança sozinho pela frente.
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Darkill - Superfície Escura
Action✪ Mega History Uma história em cyber-ficção que conta a origem de um anti-herói.