Prólogo

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ATENÇÃO: Esse livro é uma continuação de ''O Tempo de uma Alma'', então, caso queira entender melhor o contexto, sugiro que leia.

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[''Não faça-se severo com um coração puro.'']

Norte de Londres, 1950.

Eu nunca deveria ter seguido o plano dos meus pais.

Eu sei que você provavelmente está se perguntando por que estou reclamando de algo que foi concluído há um século atrás. De que mais eu poderia reclamar uma vez que toda a história finalmente chegou ao fim e eu me tornei o que meus pais desejavam de mim?

Eu ainda tinha uma casa enorme para explorar e passar meu tempo, empregadas que, após minha "morte", viram a natureza real de tudo isso e permaneceram dedicadas a mim até o seu fim mortal. Eu não tinha perdido nada e muitos argumentariam que eu, na verdade, tinha recebido a bênção da bebida da imortalidade e do poder sobre-humano.

Logo, tudo permaneceu exatamente o mesmo quando eu parti. Os anos, por outro lado, voaram rapidamente. O número de empregadas em casa foi diminuindo gradualmente, e meus encontros com Caleb para conversar sobre a vida se tornaram raros e sem sentido à medida que ele seguia em frente enquanto eu, aparentemente, permanecia no mesmo lugar. Ele teve um filho, eu o conheci, ele morreu, e seu filho teve outro filho, eu o conheci, e ele morreu.

As coisas começaram a se repetir até que só eu e Lucius restamos na casa e em minha vida. O contrato com a família de Caleb permaneceu em vigor, apesar do fato de nunca ter tido o mesmo grau de conexão com nenhum deles após sua morte.

Mas eu ainda tinha algumas coisas, então do que eu poderia reclamar? Eu ainda tinha Lucius, a casa e todo aquele dinheiro... No entanto, a sensação de "vida eterna" gradualmente me engolia. Ninguém jamais prepara você para a sensação de olhar no espelho após anos de amadurecimento e novas experiências e ver o mesmo garoto, sem uma única marca de rugas ou expressão. Nada. Jovem para toda a eternidade.

Ninguém pode compreender o vazio no peito depois de perder todos, ou a experiência de ver o nascimento, crescimento e morte de alguém em um piscar de olhos. E só se tornou pior quando todo aquele inferno reapareceu de repente.

No dia em que eu morri, René me avisou para não sair perambulando por aí depois de despertar como um demônio, mas eu não podia simplesmente ficar por séculos e séculos preso dentro da minha própria morada. Portanto, em uma dessas minhas escapadas rápidas do ambiente monótono, quem sabe para ir ao cemitério ou simplesmente ir até à cidade e comprar um doce que gosto, eu fui localizado por um dos demônios pertencentes à Organização.

De início, não notei. Ele era bom em passar despercebido afinal de contas. Mas, conforme a minha cabeça parecia cada mais e mais confusa e a realidade se alterava em minha frente, ele enfim se revelou. René já havia me contado que os demônios que agem dessa forma, normalmente possuem um superior os comandando para isso e, bem, nesse caso não era diferente.

Eu só não esperava que o superior desse demônio em questão pudesse me fazer duvidar de tudo que eu conquistei e superei até agora. Quem sabe seja a minha cabeça se perdendo aos poucos, a razão me escapando pelos dedos, não tenho ideia. Seu nome era William.

O primeiro Blackwood. 

Em Um Pedestal  [LIVRO 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora