Coração Roubado

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Você tem o diabo nos seus olhos.
— Devil Eyes | Hippie Sabotage

Já sentiu como se um pedaço de você tivesse sido arrancado violentamente e depois ter sido jogada em um canto para morrer? Sem ninguém para ajudar a cuidar de suas feridas e sem voz para pedir socorro? Mas apesar de ter alguém ali insistindo e persistindo em sua melhora, gritando que tudo irá passar, que tudo isso é somente uma fase, parece que tudo é uma mentira e que essa dor que te toma, dilacera, a cada dia, noite, segundo parece só crescer ainda mais e não te dá uma mísera chance para sorrir e acreditar que realmente vai ficar bem, que um dia vai finalmente alcançar a felicidade, se é que tem uma. Que a pessoa que está almejando por sua melhora não é a quem você deseja ao seu lado e isso é o que mais te desmotiva e te faz correr em direção a morte. Como se seu coração estivesse sido quebrado em milhares de pedacinhos, assim, ficando impossível de recolher e juntá-los novamente. Como se seu coração estivesse sido roubado de seu corpo e você está ai, somente vivendo sem animação ou motivação alguma, respirando e esperando seu momento de se juntar aos mortos.

É assim que Alice Albuquerque Munhoz se sente, despedaçada, morta, fria, sem chances alguma de sair desse poço sem fundo que a cada dia a consumia, afundava, que não permitia ela subir para obter a felicidade, deixando-a ser consumida pela dor e soterrada pela raiva e vingança.

Alice não é a mesma de dois anos atrás, não! Seu coração puro, doce e inocente foi roubado e jamais achado ou devolvido. Sua felicidade foi tirada aos vinte, quando estava no auge da juventude. Seu noivo, a festa, o casamento era tudo o que queria, era seu sonho e tudo lhe foi tirado, restando apenas o vazio, o qual ela não sabia ou sabe como preencher.

Seu noivo foi morto sem um motivo plausível, para ela, e isso era o que mais lhe atormentava, que a deixava confusa, sem entender e cheias de perguntas que jamais serão respondidas, ou serão?

Por que?

O que ele fez?

Por que ele?

Eram as perguntas que martelavam em sua cabeça e a deixava sem sono, que a fazia virar noites e mais noites procurando por respostas e depois chorava por não ter conseguido nada, nem mesmo uma pista do suposto assassino.

Estaria vivo ou morto?

Ela se perguntava, mas ela sabia a resposta, o som fino do metal rasgando o ar era inconfundível para ela, agora, que manuseava diversas armas, lhe assombrava todas as noites e ela não tinha mais sombra de dúvidas.

Nicolas Gonçalo está morto!

Ela tinha certeza, mas não queria acreditar, não queria que isso fosse realmente verdade, queria que ele a encontrasse e abraçasse, dissesse que tudo ficaria bem e que fez isso apenas para ter um pouco de tempo e ela o perdoaria, mesmo com dois anos de dor e tormentos, de ter sido enganada, ela o perdoaria, por que ela o ama e esse amor foi o que a levou a fazer tudo o que faz e ela tem medo, medo de não conseguir amar mais ninguém e ficar mais sozinha do que já está.

Deus, como ela tem medo de que sua vida se resuma a caçadas e mortes. Como Alice tem medo da solidão é indescritível, mas se esse fosse o seu destino ela só teria que aceitar, pois nada podia fazer.

Mesmo dois anos depois o corpo de Nicolas nunca foi encontrado e isso só lhe confirmava mais. Ele está morto.

Alice viu o amor da sua vida ser arrancado de seus braços e nada pôde fazer pois não sabia o que estava acontecendo ou como reagir, ela não entendia o motivo daquela ação brutal.