Garoto de Urano

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O meu celular vibra várias vezes em cima da escrivaninha e, supondo ser uma das mensagens bobas dos garotos, ignoro. Volto a ler o livro de história, concentrado em sublinhar com os diversos marcadores as partes importantes do texto. Releio as notas que escrevi durante a lição e as remarco com mais força por terem sido escritas um pouco apressadamente, afinal o professor diz muitos detalhes em tão pouco tempo!! Estudo por mais ou menos uns quarenta minutos, repetindo em voz alta o que devo saber, pronto para qualquer pergunta ou exame oral, isso até a minha mãe entrar no meu quarto.

Ela não diz nada, só se aproxima com um pratinho cheio de biscoitos e um copo de suco. - Amor, eu vou indo. O meu turno começa às cinco e meia, volto por volta das onze, onze e meia. - desgrudo os olhos do livro, encarando o seu sorriso mínimo.
- O Kimchi já está pronto, é só esquentar por alguns minutos no micro-ondas. - assento apoiando a mão sobre a dela, que está em cima do meu ombro.

- Okay, nos vemos mais tarde.

- Não é melhor você dormir um pouco antes? Te vejo tão cansado desde alguns dias. Deixe de estudar e se distraia um pouco. Durma, por exemplo! - diz tudo junto, sendo a mesma apreensiva de sempre.

- Hey, eu estou bem. - rio de leve.
- Vou comer bem cedo e me deitar, mas você tem que prometer que irá me acordar assim que chegar. - proponho, não gostando nada de a preocupar com as minhas poucas horas de sono.

- Não precisa, Jun, eu posso comer sozinha quando voltar. - volta a argumentar como sempre.

- Nem pense nisso, mãe! Me chame, tá bom? - ela concorda a contragosto, mas sabe que é inútil insistir, nunca quebrarei o ritual de comermos juntos. É um nosso costume fazê-lo, é um dos poucos momentos onde sentamos e desfrutamos de algo que gostamos enquanto colocamos o papo em dia. Mamãe sempre me conta das coisas bizarras e engraçadas que acontecem no hospital, e eu sempre comento sobre a escola, os colegas em geral e sobre os meus amigos.
Pode parecer banal mas é um momento fundamental para a nossa relação, afinal somos muito próximos. Ela está quase sempre ocupada ou estressada, mas naquele momento tranquilo somos só eu e ela, sem o trabalho, sem encargos, sem livros, tarefas ou exames.

- Eu irei te chamar. - garante.
- Não passe a tarde inteira enfiado nos livros, saia, chame um amigo ou amiga. Não sei, só descanse, okay? - indaga, acariciando os meus fios com ternura.

- Tá, pode ser. - a contento. - Mas antes preciso terminar história. - ela aquiesce, parecendo entender.

- Já sei, liga pro Donghyuck! - mas só parecendo mesmo.

- Tá ficando tarde, é melhor você ir. - advirto, logo rindo da sua cara ofendida. - Vai logo! - a empurro de leve e ela me lança um dos seus olhares afiados. - Juro que vou descansar, agora se apresse! - ela gira os olhos antes de me lançar um beijo soprado.

- Te amo. - solta, fechando a porta.

- Eu também. - devolvo sorrindo.

Nem dá tempo de eu recomeçar a repetir o nono parágrafo que ela me chama.

- RENJUUUN! - grita do andar de baixo. - Lembre-se de dar comida pra Cleo!

- Tá! - grito de volta, retornando a minha atenção ao livro.

Escuto a porta de casa fechar-se e respiro fundo, agora sim posso me concentrar direitinho.
Então, comendo os biscoitos que a minha mãe trouxe e bebendo o suco alaranjado que descobri ser de pêssego, repito o nono, décimo e décimo primeiro parágrafo. Todavia logo o toque do meu celular me desconcentra das frases e datas importantes.

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