Enquanto a menina Elodie embalava seus produtos em capsulas roxas, do lado de fora da porta de metal Kris esperava pacientemente, já que havia invadido sem alarmar e pretendia não chamar atenção.
Rizzi fumava do outro lado, o que fez Elodie despertar de seus trabalhos e atravessar a porta, dando de cara com o rapaz alto.
- Se fosse fumar aqui, poderia pelo menos comprar um baseado. – Argumentou, fechando a porta atrás de si.
- Eu peço desculpas, Lady. – Kris apagou o cigarro, se desencostando da parede que antes estava escorado, abrindo um sorriso para sua presa.
- Perdoado. – Foster o analisou de cima a baixo, alisando a tatuagem grande da coxa esquerda, sorrindo de volta para o garoto. – Como entrou aqui, gatinho?
- Não foi muito difícil, a janela estava aberta. – O garoto também a analisava. Elodie arqueia a sobrancelha, desconfiada, principalmente pelo sarcasmo usado.
- E por que entrou? – Esta começa a andar em passos lentos, rondando Kris.
- Estou interessado no que está vendendo. – Se defendeu e como resposta, a menina Foster espalmou as mãos nas costas de Kris, se inclinando levemente para o lado.
- Se estivesse interessado em comprar, não teria tido o trabalho de me encontrar e invadir. Quem te mandou, gatinho?
- Isso é um segredo. – Kris sorriu, vendo que não seria tão fácil quanto imaginava. – Mas você é bem diferente do que me descreveram. Da onde foi que saiu?
- "Isso é um segredo" – A garota contornou Rizzi, saindo de trás deste até que estivesse parada em sua frente. – Mas estou curiosa... Como me descreveram?
Elodie Foster com toda a certeza não se importava nem um pouco com o que os outros pensavam de si ou em como estava a sua reputação atual, ela nunca se importou com os outros, até porque se ela se importasse, não teria virado uma das melhores traficantes já vistas. Mas ela, por algum motivo, queria puxar assunto com o seu mais novo gatinho. Estava intrigada.
- Como uma vagabunda qualquer que vende pacotes pequenos. – O outro respondeu, simplista e sincero.
- Uau, estou ofendida. – Elodie fez uma falsa expressão magoada, muito convincente. - Se eu vendesse pacotes pequenos não teria um laboratório nem estariam atrás de mim. Quanta ignorância. – Fez um pequeno bico se formar em seus lábios, irônica.
- Mas veja pelo lado bom, nem todo mundo vem atrás de você, docinho.
- Você não é o primeiro, gatinho. Assumiu que alguém te mandou. – Se referiu ao garoto dizer que quem havia o mandado era um segredo, convencida de seu bom trabalho.
- Nunca neguei. – Confessou. - Mas aquela pessoa não virá diretamente.
- Qual a diferença? Sendo eles ou não, estarão me caçando. Além do mais... eles mandam pessoas mais competentes que eles mesmos. Então isso não é uma coisa boa, gatinho. – Não era novidade para Foster o motivo do garoto estar ali, ela era bem mais inteligente do que aparentava, e com toda certeza, Kris não foi lhe levar flores.
- Então você já adivinhou porque eu estou aqui? – Sugeriu, se encostando em uma mesa que havia naquela sala.
- Receio que sim.
A resposta fez Rizzi abrir um sorriso largo, ele não gostava de presas fáceis, nem de coisas comuns. Kris queria algo novo, que fosse capaz de acendê-lo, e se surpreendeu com a garota, já que imaginava que era apenas mais uma de sua lista. Fútil e estúpida.
- Parece animado, gatinho. – Foster sorriu. Ela também sabia que aquilo seria divertido.
- Encontrei algo interessante. Por que só ouvimos falar de você agora? É nova?
- Mais ou menos. – Elodie sorriu e subiu na mesa em que o garoto estava quase sentado, andando a passos pequenos. - Eu... seguia outro ramo. Parecido com o seu. Construí meu império, rápido e ágil, na surdina. Só ouviram falar de mim porque eu dei as caras quando já estava grande, pronta para receber gatinhos como você. – Sorriu orgulhosa de si mesma, passando os dedos pelos fios do garoto enquanto passava atrás deste. Queria jogar.
- Oh... você é esperta. – Kris também era, então ficou atento, ainda que mantesse sua postura calma. – Mas você... é diferente. – Confessou, fazendo com que Elodie sentasse ao seu lado, sinalizando para continuar. - Você é traiçoeira... intimidante, em algumas partes. É diferente das outras mulheres do ramo. – Foster soltou uma pequena risada.
- O crime é uma quebra do padrão, por que eu faria parte dele? Além disso, eu odeio mulheres vadias padrão. Eu matei gente demais, minha conta no inferno está muito grande para viver como uma qualquer. – Encarou Rizzi antes de abrir um sorriso, com parte do seu rosto coberto pelos fios lisos e escuros, que contrastavam com a pele alva.
- Eu gostei de você. – Se espreguiçou, interessado. - O que está vendendo, gracinha?
- O melhor êxtase da cidade, gatinho. Além de tudo que possa imaginar. Cocaína, maconha, LSD... com alguns toques especiais. – Sorriu.
- Hum... está colocando substâncias fatais no meio dessas? – Sugeriu, um tanto desconfiado.
- Claro que não. – Resmungou - Só é uma brisa diferenciada... posso te fornecer um de brinde como amostra, gatinho.
- Nah, eu não sou muito fã desses entorpecentes... – Fez uma careta. - Você é um alvo em potencial, mas...
- É uma pena. – Elodie desceu da mesa, dando uma pequena voltinha, a fim de se exibir. - "Mas..." mesmo se decidisse me matar agora, não seria tão fácil quanto pensa. – Estalou a língua no céu da boca.
- As pessoas me contratam para alvos complicados. – Aproveitou para se desencostar e abrir um sorriso. – Diversão em primeiro lugar.
Foster se aproximou perigosamente, até que colasse seu peito ao do garoto.
- Eu gosto de garotos malvados sabia, gatinho? – Tocou levemente a ponta do nariz de Kris, antes de se afastar e virar de costas para este. - Mas já que gosta de jogos... podemos brincar. – Deslizou uma pequena adaga da manga do moletom cumprido, a rodando entre os dedos habilidosamente. – Se tiver coragem.
- Sem essa? Vai ser acerte ao alvo? – Sorriu.
- Eu não preciso jogar ela. – Elodie se virou. - O que foi? Quer vir na mão com uma garota? Isso é um pouco injusto...
- Na mão? Ah, não. Contato físico só se for para outra coisa.
- Isso é um convite? – Soltou uma pequena risada, cheia de humor. - Desse jeito me deixa sem opções, é muito exigente.
- Talvez...
- Hmm... Não trabalho com incertezas.
- Eu gosto de deixar as coisas interessantes para o próximo capítulo. – Kris sorriu, colocando as mãos nos bolsos e se dirigindo a saída. Ele não pretendia mais fazer aquele trabalho para Jack.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Twin Insanity
AdventureNós não temos medo da morte, porque somos nós que decidimos quem vai e quem fica, e o veredito é dado por nossas próprias mãos. Afinal, a diversão é o que importa.