Shot in the Dark

247 10 0
                                    

Kara estava completamente exaurida. Aquele dia havia sido tenebroso: primeiro, a CatCo nas mãos de uma mulher evidentemente egocêntrica e prepotente; depois, um novato que era a personificação do narcisismo; como se tudo isso não fosse o suficiente, dinossauros em National City, uma criatura proveniente das trevas e um marciano verde com sede de vingança e, enfim, a tão temida revelação à Lena Luthor. Tudo aquilo mais parecia um pesadelo, até mesmo a Garota de Aço clamava por trégua...

Entretanto, Kara sentia-se aliviada por, finalmente, ter se revelado à sua amiga. Foi como tirar toneladas de metal NTH das costas. Sentia-se orgulhosa, e contente pela compreensão de Lena. Kara estava entusiasmada com o que viria a seguir. Há anos que a kryptoniana almejava poder compartilhar da companhia de sua amiga em suas missões e, principalmente, se aproximar mais da CEO.

 -"Lena foi tão gentil e compreensiva... Mesmo depois de tudo, ela se dispôs a escutar e confiou em nossa amizade. Rao... Só espero não ter ferido seus sentimentos... Nada me deixaria mais destruída. O mundo não a merece..." - Pensou.

Por fim, depois de um longo dia repleto de emoções, as únicas coisas que Kara poderia desejar eram: um banho bem quente e uma bela noite de sono.

Antes que pegasse no sono, Kara resolveu dar uma última "checada" em Lena. Fechou seus olhos e concentrou-se em sua super audição em busca da amiga. Por trás de buzinas, grilos e o aconchegante som da brisa correndo entre os arranha-céus, Kara podia ouvir um suspirar doce em conjunto com o despejar de um vinho em uma taça. Tudo aquilo era tão terno, que Kara não resistiu em se aprofundar na essência de Lena. Concentrou-se um pouco mais, e pôde ouvir então os batimentos cardíacos da CEO. Em poucos minutos, a kryptoniana havia adormecido ao compasso do coração de Lena. Kara nunca havia se sentido mais segura.

Enquanto isso, do outro lado de National City, Lena repassava em sua mente o momento em que Kara havia se revelado como Supergirl. Enquanto deslizava os dedos entre a borda da taça, seus olhos se enchiam de lágrimas e seu peito transbordava angústia e rancor. Cada palavra que saía dos lábios de Kara eram como adagas efervescentes em seu coração, que a levavam de volta à noite em que Lex a apunhalou com tal revelação.

Lena não se sentia apenas traída, se sentia lesada. Sentia-se diminuída, vazia, abandonada... Sem qualquer vestígio de esperança, inteiramente incrédula. Como uma alma em putrefação em um abismo eterno.

Tal dor, justificava-se pelo histórico de Lena: uma criança cuja havia presenciado a morte da mãe; adotada por uma família de sociopatas; usada e manipulada durante anos pelo próprio irmão, o qual a mesma cultivava um enorme apreço; detentora do gene "Luthor". Lena não sabia o que era amor, o que era um gesto de carinho, lealdade, pureza... Até conhecer Kara Danvers. Kara havia proporcionado tudo o que o dinheiro da CEO não poderia comprar. Absolutamente tudo o que Lena sempre buscou em ofegância.

Luthor havia entregado seu coração e alma à Kara Danvers. Lena nunca havia conhecido um alguém tão puro e digno como Kara. A faísca de sua esperança, agora seu incêndio de incredulidade. Lena Luthor estava definitivamente morta por dentro.

Incapaz de pregar os olhos, a mente de Lena trabalhava a todo vapor. Apesar de tudo, Lena não contava com tal revelação. E isso a proporcionava uma vantagem incalculável, lhe abrindo um enorme leque de possibilidades para seus próximos passos.

Ainda que decidida a se vingar de Supergirl, Lena não podia deixar de notar o quão nobre havia sido a decisão de Kara, e o quão sinceras haviam sido suas lágrimas. Lena sentira-se completamente impotente naquele momento e, por alguns instantes, encantada com a ingenuidade de Kara. Tudo o que Lena mais queria era abraçar a amiga e chorar em seus ombros, mas logo retornou à realidade e se manteve inflexível em sua decisão.

Já deitada em sua cama, Lena dirige-se à sua inteligência artificial:

 - Hope, repasse o percentual de sucesso de nossa última simulação. - ordena.

 - 87% de eficácia, senhorita Luthor. - responde.

- Deseja prosseguir com a simulação seguinte?

 - Em breve... - responde Lena com a voz já rouca.

Lena finalmente pega no sono, quando seu celular recebe uma chamada. Quem poderia ser a essa hora da noite?

Always Onde histórias criam vida. Descubra agora