Monte Belo ( degustação)

Capitulo 1

Vamos ao primeiro capítulo! Espero que gostem!

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Capitulo 1


​Eu não gosto de hospitais, eles me lembram a sangue, a morte, ou melhor, dizendo a meus pais.
​A última vez que estive em um foi há dezoito anos, e foi nesse mesmo hospital.
​E aqui eu posso dizer que minha vida foi dividida em duas partes.
​A parte feliz e a parte a ser esquecida.
​A parte que quero apagar é a maior, e eu venho lutando com ela há muito tempo, tentando me esquecer de tudo.
​Esquecer, das várias cambalhotas que o carro que meu pai dirigia deu no ar e depois caiu em um abismo de mais de vinte metros.
​Esquecer, da falta de opção ou com quem tive que ir morar depois que virei órfã.
​Esquecer, do dia em que ele me deu o último beijo e de como tudo ficou pior do que já era.
​Esquecer, da hora em que meu tio influenciado por sua mulher maldosa o convenceu a colocar uma menina de 16 anos em um avião e mantê-la a milhões de quilômetros de distância para a sua santa e preciosa paz. E pior de tudo, esquecer, do filho dela que a ajudou a me levar para longe desse lugar.
​Mas tudo na vida tem seu efeito bumerangue.
​E aqui estou eu.
​No mesmo hospital de anos atrás, só que agora dando a extrema-unção ao homem que tornou minha vida pior do que já estava.
​— Senhorita qualquer dúvida estou aqui ao lado.
​A enfermeira fez com que meus olhos se desgrudassem do manto azul que cobria o corpo inerte de um velho que de tão debilitado havia encolhido mais de trinta centímetros desde a última vez que o vi.
​Aqui ele não me fazia sentir o medo que me fez passar dez anos atrás.
​Sou capaz de apostar que até o enfrentaria naquela noite que cheirava a polenta e vinho se ele estivesse assim.
​Recordo-me perfeitamente do cheiro dele, quando essas mesmas mãos imóveis deferiram tapas em meu rosto, me chamando de promíscua e pecadora.
​A raiva que agora sinto dentro de mim, parece como um vulcão preste a entrar em erupção.
​— Ele pode me ouvir?
​A Enfermeira sorri.
​Pobre enfermeira, mal ela sabe o que sua resposta vai significar a mim nesse momento.
​Será tudo ou nada.
​— Sim ele pode, ele está imóvel, mas, percebe e escuta tudo o que está acontecendo em sua volta, o derrame afetou os movimentos de seu corpo.
​— Ótimo.
Ela ainda sorrindo sai, e no mesmo momento em que escuto a porta se fechar,
me sento ao pé da cama encarando "meu querido tio" que semi abre os olhos e me vê.
— Há quanto tempo, hein Tio Nilo, eu nunca achei que esse momento chegaria. O momento em que o senhor poderia apenas me escutar, sem me interromper, me manter calada, ou melhor, me manter presa.
Eu paro por um momento e o observo tentando se comunicar. Seus olhos estão aflitos, é como se nesse momento ele estivesse gritando dentro de si.
Quantas vezes imaginei isso.
— Então meu querido Titio, eu estou de volta, não vim porque quis, vim porque doutor Pedro insistiu. Infelizmente eu sou a herdeira sucessora da vinícola, é meu Tio, o senhor não prestou nem para procriar e aquela cadela da sua mulher não foi inteligente o bastante para te dar um bastardo que você achasse que fosse seu filho de fato.
Respiro fundo, recordando-me da vaca-Delia, a mulher que se casou com ele, e trouxe junto com ela um filho, que eu achava que não era nada parecido com ela até o bastardo me usar para ter uma pequena parte na vinícola.
— Então — continuo olhando para ele que agora me olha fixamente com os olhos marejados — sabe o que vim fazer aqui Titio, não foi para perdoar você por ter tirado minha vida de mim, por ter destruído meus sonhos ou por ter rasgado a única chance que tive de ser feliz. Eu vim parar aqui nesse fim de mundo não para perdoar você Titio e sim fazer o mesmo que o senhor fez comigo, tirar do senhor o que mais ama na vida.
Os olhos do homem que já não conhecia mais começaram a vazar e era gratificante ver um senhor tão durão chorar dessa forma, incapaz de dizer uma palavra.
Levanto-me da cama e ajeito meu casaco, eu tenho que começar a colocar logo o meu plano em prática e quero chegar ao amanhecer na pequena cidade de Monte Belo do Sul.
— Foi um prazer rever você meu tio, agora vou resolver o que vim fazer aqui, que é vender sua vinícola para o seu maior concorrente. O mesmo que sempre tentou passar o senhor para trás, justo não acha Titio?
Eu o olho pela última vez e saio, deixando para trás um homem desesperado por dentro e incapaz de ter alguém com quem pedir socorro.
Eu faço a mesma coisa que ele fez comigo dez anos atrás.

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Espero que esse primeiro capítulo tenha despertado curiosidade para continuar com a leitura!!!

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