Capítulo Um - Sorte de Perdedor

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Branwen

“Bem, eu avisei que não deveríamos ter vindo” reclamei de cenhos franzidos enquanto ajudava — inutilmente, diga-se de passagem — a soltar Lilith, minha inestimável amiga, da árvore em que se encontrava presa, contando com a ajuda de Alexis, minha outra inestimável amizade. 

Como viemos parar nessa situação deveras complicada, é uma história engraçada. 
Alguns minutos atrás, éramos apenas três lindos belos e inteligentes jovens que queriam se aventurar pelo Bosque da Ruína, menos eu, — e sempre achei que mal valia um inteiro. Todos, mas reforçando, menos eu. 
Olha, sei como isso soa. Parece que eu sou como o cara chato nas histórias que diz "nossa não devemos ir aí, é perigoso" mas, escute-me, eu realmente não sou o que possa se chamar de “certinho”. Ou “voz da consciência” se você preferir. Ou nada do tipo, e pra falar a verdade nenhum de nós três é. Eu sou apenas o que tem menos magia e o mais azarado, imagine quão surpreso eu estava em saber que não era eu o preso na árvore? 

A situação toda havia acontecido em um piscar de olhos, em um momento, nós estávamos andando, olhando a paisagem, conversando e rindo de uma piada idiota que eu obviamente fiz e que Lilith e Alexis são socialmente impelidos a rir em prol da nossa amizade de anos, e em outro, Lilith simplesmente estava com o braço direito  e metade da perna direita presos na árvore, assim, de repente. E Lilith não é nem de longe uma maga fraca, ao contrário de mim, muito menos desatenta, e é isso que fazia tudo isso mais estranho, já que ela com certeza era a mais capacitada, não em detectar se tivesse uma armadilha mágica na árvore — e sim Alexis, que é incrível em esse tipo de magia — mas em desviar dela. Lilith tinha os reflexos de um gato — e o temperamento arisco também. 

Suspirei, cansado de tentar tirá-la dali. Hora do Plano B. 

"Ok, algum de vocês sabe uma magia para esse tipo de situação ou eu vou ter que usar o Plano C?" inquiri, mas Lilith parecia não ouvir, olhando para o chão. Olhei para a voz da razão, que atende pelo nome de Alexis, que parecia pensar, com o mão abaixo do queixo e batendo o dedo em sua bochecha — um típico "tique" de Alexis. 

“Ok, se afaste um pouco, hora do Plano C” pedi, e Alexis, levantando as mãos pra cima em um gesto de rendição, deu alguns passos para trás. 

“O que você vai-“ o som da colisão de meu pé contra a madeira prendendo o pé de Lilith foi o suficiente como resposta. Imediatamente vi ela "acordar" e parar de encarar o chão, seu rosto ganhou uma expressão de espanto, e falou alto:

“Pare! Está machucando, idiota!” 

Olhei para baixo, mas não havia sinais que eu tinha acertado ela, e Lilith não possuía qualquer expressão de dor no rosto dela, apenas susto. Arqueei uma sobrancelha. 

“Eu nem cheguei perto de voc-“ rebati instantaneamente. 

“Não eu, seu idiota!” respondeu, com uma expressão típica de Lilith: raiva. “Ela!”
 
Olhei para Alexis, em busca de uma pista do que poderia ser. Recebi como resposta um dar de ombros com um "sei lá cara", o que significa que Alexis também não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Só havia nós três na floresta, ninguém vem aqui hà muito muito tempo, principalmente porque ela é também conhecida como o lugar que a magia não toca, desde A Ruína. 

Olhei para Lilith em busca de pistas, cuja expressão de impaciência só aumentou, como se a resposta estivesse óbvia e ela estivesse falando com duas portas — o que seria engraçado já que portas são feitas de madeira e nós estamos no meio de uma floresta. 

“Parem de olhar pra mim desse jeito" falou, revirando os olhos. "Vocês não estão ouvindo também? Está pedindo ajuda, como se estivesse acordada e perdida sem saber o que fazer...” explicou, com uma expressão que eu nunca tinha a visto fazer, estava com os cenhos franzidos mas não tinha… raiva. 

Ruína e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora