Capítulo Dois - Contos e Fábulas

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Alexis

Observei as costas de Lilith enquanto a mesma subia ao lado da — suposta — Mortensen, escadaria acima.

Sim, suposta. Apesar de Lilith ser ótima em detectar mentiras, ela certamente continua humana e está sujeita a erro — embora a mesma tenha aversão à essa palavra.

Entenda-me bem, eu sempre prestei atenção nas aulas e era fascinado pela História Mágica. Conheço o evento da Ruína muito bem, e é isso que me leva a crer que não pode ser verdade.

Tudo aconteceu a muito, muito tempo atrás num reino não tão distante, Korë e Cyprian Mortensen, conforme a história conta, era o casal mais poderoso que já subira no trono — e continuam sendo, até os dias de hoje — ambos tinham uma ficha enorme de feitos históricos antes mesmo de ascender ao trono, incluindo feitos diplomáticos, de guerra, sendo notáveis pacíficos, por serem excepcionais em magia e se destacar desde cedo.

Mas infelizmente, tiveram um reinado curto, que foi conhecido por ser justo e próspero.

A história sempre falam que eram tremendamente apaixonados um pelo outro, e isso era visível, mas nunca tiveram filhos — ou ao menos, era o que conhecíamos. Já que aparentemente temos uma Mortensen em nossa presença, e com uma característica extremamente marcante: os olhos dourados, assim como os de seu pai.

Se isso se provar realmente verdade, a história que conhecemos é mesmo a nossa real história? É toda a verdade, ou uma total mentira?

Enfim, Korë e Cyprian foram assassinados. Seu reinado acabou muito diferente de como começou.

Os livros contam que foi uma tragédia: foram atraídos para uma armadilha, um "contrato de paz para acabar pequenos conflitos que assolavam todo o país" tinha sido oferecido, e ávidos para acabar o derramamento de sangue desnecessário de um jeito pacífico, concordaram em se encontrar em um lugar neutro, e foram mortos antes que sequer percebessem.
Não há muitos detalhes sobre como realmente aconteceu a morte de Korë e Cyprian, ou o quê exatamente aconteceu depois — além de muitas revoltas populares — mas nós demos o nome de Ruína: O Decair do Poder. A Magia dali em diante nunca mais seria a mesma, reis fracos assumiriam e produziriam proles fracas, que caíam em desgraça e nós também.

Todos se perguntam, se questionam, se nós conseguimos prosperar com reis fracos, imagine com reis fortes? A magia ainda seria viva, andaria por toda casa, habitaria cada criança nascida, e viajaria por entre os buracos e vielas das ruas, e empurraria as folhas como uma brisa suave.

Sim, nós evoluímos, mas a falta da Magia ainda é um ferida aberta que possivelmente nunca vai se fechar, não enquanto houver pessoas que consigam fazer magia e outras não. A Magia ainda é parte de todos nós.

Balancei a cabeça, precisaria passar na biblioteca da cidade e buscar todos os livros sobre isso que eu pudesse encontrar e olhar isso mais a fundo. Por enquanto, eu faria o que estava possível ao alcance das minhas mãos: o jantar.

"Bem, vamos ver o que temos disponível para fazer uma comida no mínimo digestível" falei para Bran, caminhando em direção à cozinha.

Geralmente, nós comíamos fora, logo, fazer comida nunca foi a especialidade de ninguém — embora eu tivesse mais habilidade que os dois, Bran era um zero à esquerda e Lilith ao menos conseguia fazer um ovo frito.

"Eu não manteria as esperanças altas se fosse você" Bran falou, sorrindo, enquanto sentava em uma das cadeiras altas da cozinha. "Você sabe que ela só faz as compras do mês, e nós já estamos no final dele" disse, balançando as pernas. Dei um pequeno sorriso com isso, se comportar como uma criança é típico de Bran.

Ruína e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora