A Mulher Coruja

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        Eu havia acabado de me mudar para Cuernavaca, no México. Minha mãe decidiu que deveríamos renovar nossos ares e tentar recomeçar, logo após a morte do meu pai. Então, no dia 13 de Novembro de 2016, eu, minha mãe e meu irmão caçula, Justin, nos mudamos para nossa nova casa alugada. O imóvel estava bastante desgastado pelo tempo, mas era o máximo que nossa mãe poderia pagar, dadas as atuais circunstâncias. Próximo da nossa casa, uma trilha coberta por galhos secos e retorcidos, levava até o interior de uma vasta e bem preservada floresta. Eu nunca fui um garoto muito ligado a natureza, ou com o hábito de ficar ao ar livre por mais do que o tempo necessário. 

- Mamãe, o que tem lá dentro? - questionou Justin, apontando com seu dedo gordinho para a floresta. 

Minha mãe seguiu a visão em direção a trilha, franzindo a testa e torcendo o nariz pouco antes de responder. 

- Coisas perigosas, querido. Monstros e animais selvagens. Você nunca deve entrar lá, entendeu?

  Meu irmão assentiu lentamente, arregalando seus olhos castanhos e deixando o medo tomar conta de seu rosto. Eu contive uma gargalhada. Minha mãe dizia as mesmas coisas para mim quando eu tinha a idade dele, com a intenção de implantar o medo em minha cabeça. Nunca funcionou, mas Justin era mais conformista, acreditava em tudo que lhe diziam sem questionar. Provavelmente ele se tornaria um bajulador das massas, sempre correndo atrás dos outros e incapaz de criar senso crítico. Isso, se ele não tivesse desaparecido pouco tempo após a mudança. 

 Sete dias depois de organizarmos todos os móveis e itens da mudança, eu e Justin começamos a explorar nossa nova cidade, fazendo amizade com dois moradores locais, próximos da minha idade. O garoto se chamava Jonas, e a prima dele, Antonella. Passamos o dia inteiro conversando, contando histórias pessoais, até que o idiota do meu irmão, disse:

- Vocês sabiam que a floresta perto da nossa casa é mal - assombrada?

 Antonella e Jonas encararam um ao outro, caindo na risada logo em seguida. Eu apenas tentei disfarçar a vergonha, sentindo um leve rubro se espalhando pelo meu rosto. Justin ergueu uma sobrancelha e gritou:

- É verdade, minha mãe quem me disse!

- Cala a boca, Justin! - berrei. - Você só fala merda.

- Não, não, ele tem razão. - disse Jonas, sorrindo de forma debochada. - Eu já ouvi dizer que aquela floresta é o lar de um monstro. 

 Os olhos de Justin se arregalaram e ele arfou. Maravilha, agora o pirralho não ia dormir a noite.

- A mulher coruja. - continuou Jonas. - Uma mulher metade humana e meio coruja. Dizem que ela só ataca a noite, manda uma coruja circular a casa de suas vítimas uma noite antes de ela raptar... as criancinhaaaaaaas! 

 A última frase saiu de forma escandalosa, fazendo meu irmão caçula dar um salto e começar a chorar descontroladamente. Eu fui até ele, passando meus braços pelos seus ombros, enquanto Jonas rolava no chão de tanto gargalhar. Antonella deu um chute no ombro do primo que se sentou, gemendo em protesto. 

- Qualé? - protestou Jonas.

- Assustou o garoto, seu merdinha. - Retrucou Antonella.

- Fala sério. Era só uma brincadeira, todo mundo sabe que a floresta é desabitada. Nem os insetos ficam por lá, quem dirá alguma assombração.

- Relaxa, Justin. - disse Antonella, dando tapinhas nas costas do meu irmão. - Ele só estava zoando.

 - Por que não vamos até a floresta? - sugeri, sem entender ao certo de onde aquela ideia brotou. Só mais tarde, eu me daria conta de que nunca entraria em um  local daqueles  estando em meu juízo perfeito. Mas as palavras já haviam sido ditas. 

Crônicas do HorrorWhere stories live. Discover now